Relações e família

Prefiro não saber: por que enterramos a cabeça na areia?

A ciência explica o que nos leva, por vezes, a escolhermos fazer como as avestruzes e enterrar a cabeça na areia em vez de saber a verdade. Afinal, queremos ou não saber?

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Prefiro não saber: por que enterramos a cabeça na areia? Prefiro não saber: por que enterramos a cabeça na areia?
© pexels
Rita Caetano
Escrito por
Jan. 29, 2024

Em algumas situações, a tentação de fazer de conta que nada se passa em vez de saber a verdade é grande. Uma pesquisa publicada no Psychological Bulletin, jornal da Associação Americana de Psicologia, que junta 22 estudos com o total de 6531 participantes, mostra que 40% das pessoas escolhe a primeira opção.

Linh Vu, especialista em Neuropsicologia Cognitiva, autora principal da investigação e professora na Universidade de Amesterdão, diz que “exemplos dessa ignorância intencional abundam na vida quotidiana, como quando os consumidores ignoram informações sobre as origens problemáticas dos produtos que compram”.

Numa das pesquisas, as pessoas deveriam decidir se queriam uma recompensa mais pequena (cinco dólares) ou uma maior (seis dólares). Escolhendo a primeira, uma outra pessoa anónima ou alguém próximo receberia a mesma quantia; optando pela segunda, a outra pessoa só receberia um dólar.

A um grupo foi dada a hipótese de conhecer ou não a consequência da sua preferência, ao outro foi logo comunicada. Uma em quatro pessoas escolheu não saber intencionalmente de forma a ter uma desculpa para agir de forma egoísta.

40% das pessoas prefere não saber as consequências das suas ações

Fonte: Ignorance By Choice, Psychological Bulletin

Com ou sem altruísmo

As razões para preferir não saber a verdade são várias, mas uma das que sobressaiu foi que alguns indivíduos se comportam de forma altruísta apenas para transparecerem uma imagem positiva e, quando não conhecem as consequências das suas ações, mantêm essa mesma imagem sem qualquer esforço.

Essa ignorância intencional foi correlacionada com um menor altruísmo, já que, quando eram informados sobre as consequências da sua escolha, os inquiridos tinham mais 15,6 pontos percentuais de probabilidade de serem generosos com outra pessoa.

“Os resultados são fascinantes pois sugerem que muitos dos comportamentos altruístas que observamos são motivados pelo desejo de nos comportarmos como os outros esperam”, afirma Shaul Shalvi, coautor do estudo e professor de Comportamento Ético na Universidade de Amesterdão.

“Embora a maior parte das pessoas esteja disposta a fazer a coisa certa quando está plenamente informada das consequências das suas ações, essa predisposição nem sempre ocorre por se preocupar com os outros“, continua.

“Em alguns casos as pessoas agem de forma altruística devido às pressões sociais e ao desejo de ficarem bem vistas. Visto que ser justo, muitas vezes, é caro e requer que as pessoas renunciem ao seu tempo, dinheiro e empenho, a ignorância oferece uma saída fácil”, acrescenta.

A versão original deste artigo foi publicada na revista Saber Viver nº283, janeiro de 2024.

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