Relações e família

O meu filho é homossexual (bi ou trans), e agora?

Para todas as mães e pais que não sabem como ajudar (e compreender) filhos homossexuais, bissexuais ou transexuais, a Saber Viver reuniu as respostas às 12 perguntas que mais os inquietam.

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O meu filho é homossexual (bi ou trans), e agora? O meu filho é homossexual (bi ou trans), e agora?
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Ana Carvas
Escrito por
Jun. 25, 2019

Quando achamos que vivemos numa sociedade justa e onde a igualdade é um dado adquirido de todos e para todos os cidadãos, há um novo acontecimento que vem comprovar exatamente o contrário.

Falamos dos inúmeros casos de violência física e psicológica à comunidade LGBT+ que continuam a incitar o ódio e a incompreensão em 2019 – do mais recente incidente no metro de Londres, onde um casal de mulheres foi violentamente atacado por um grupo de homens pelo simples facto de se terem recusado a beijar, aos dados do Observatório da Discriminação que, em 2017, registou 188 denúncias em território nacional.

Em entrevista ao jornal Público, a diretora executiva da ILGA (Intervenção Lésbica, Gay, Bissexual, Trans e Intersexo), Marta Ramos, afirma que “a realidade é que ainda há muita discriminação, homofobia e transfobia [em Portugal]”.

“A diferença é que esta discriminação talvez não seja tão direta, não é necessariamente violência, mas sim olhares, comentários, insultos verbais”, explica.

Temos de continuar vigilantes e assegurar que os nossos filhos ou filhas LGBT+ têm os seus direitos garantidos – Manuela Ferreira, presidente da AMPLOS

Face a esta realidade, a compreensão, apoio moral e ajuda dentro do seio familiar é um fator determinante para todos os membros da comunidade LGBT+.

Segundo Manuela Ferreira, presidente da AMPLOS (Associação de Mães e Pais pela Liberdade de Orientação Sexual e Identidade de Género), “os maiores receios dos pais são a discriminação que os filhos possam sofrer e a opinião dos outros. Como os outros os passarão a ver sendo pais de pessoas LGBT+, e o que irão dizer. A pressão da sociedade é ainda muito forte.”

Seja por falta de conhecimento ou pela preocupação generalizada quanto à descriminação de que os filhos possam vir a sofrer, os pais devem preparar-se para os apoiar da melhor forma ao longo do caminho.

“O meu filho ou a minha filha vai ser vítima de discriminação? Ser LGBT+ não é considerado um comportamento desviante? Deverá o meu filho ou filha receber apoio terapêutico?” Estas são apenas algumas das perguntas mais comummente feitas pelos pais quando impactados com a revelação sobre a orientação sexual ou identidade de género dos seus filhos.

Manuela Ferreira acredita que Portugal é um país amigável com a causa, mas “as mentalidades ainda precisam de ser abertas para a diversidade, porque ainda existe muito preconceito, falta de informação e muita ignorância sobre estas questões. E apesar das conquistas alcançadas (e foram bastantes), não se pode dar nada como garantido, temos de continuar vigilantes e assegurar que os nossos/as filhos/as LGBT+ têm os seus direitos garantidos.”

Com a ajuda da AMPLOS, reunimos as respostas às 12 perguntas que mais inquietam os pais. Deixamos ainda os contactos necessários para que possa apoiar o seu filho nos momentos mais difíceis do processo.

12 perguntas e respostas para pais de filhos homossexuais, bissexuais ou transexuais

1. O meu filho ou a minha filha vai ser vítima de discriminação? Será que corre riscos?

Infelizmente, ambas as situações são possíveis. Por outro lado, a atitude da sociedade para com as diferenças de orientação sexual está a mudar à medida que as pessoas estão a ficar mais informadas. Há cada vez mais lugares e situações onde o seu filho ou a sua filha poderá viver em perfeita segurança.

No entanto, até que a homofobia seja eliminada da nossa sociedade, poderá ainda ter de enfrentar alguns obstáculos. Mas a discriminação mais preocupante, e lamentável, é a que ocorre dentro da própria família.

2. Será que ele ou ela tem a certeza? Não será que está apenas numa fase de experimentação ou de contestação?

É natural que pense que poderá tratar-se “apenas de uma fase” que o seu filho/a está a atravessar. No entanto, e porque a nossa cultura ainda é predominantemente homofóbica, é pouco provável que alguém heterossexual opte por se afirmar homossexual ou bissexual, apenas para experimentar ou como forma de contestação.

3. Eu posso aceitar que o meu filho ou a minha filha seja homossexual, mas por que é que o deverá ostentar?

As pessoas homossexuais ou bissexuais que “saem do armário” são muitas vezes acusadas de exibir a sua homossexualidade.

Na nossa sociedade partimos do pressuposto de que todas as pessoas que nos rodeiam são heterossexuais. Não ficamos, por isso, surpreendidos ou desconfortáveis quando as pessoas expressam a sua atração pelo sexo oposto e as vemos a namorar.

No entanto, muita gente acha que as pessoas homossexuais devem esconder esse aspeto da sua vida. Esse julgamento é profundamente discriminatório.

A demonstração de afetos, o namoro entre homossexuais é uma manifestação perfeitamente natural; é, ainda, uma forma positiva de afirmação da sua autoestima e da capacidade de afirmar a sua identidade.

4. Deverei proporcionar acompanhamento médico?

Apesar de não ser conhecida a razão pela qual as pessoas são homossexuais (bissexuais ou heterossexuais), várias abordagens científicas concordam que é provavelmente o resultado de uma interação complexa entre fatores biológicos e ambientais.

A Associação Americana de Psicologia defende que “a homossexualidade não é uma doença. Não requer tratamento e não é algo que possa ser mudado.”

Muitas pessoas homossexuais e respetivas famílias não procuram qualquer ajuda para lidar com seus sentimentos, ou com as questões ligadas à sua revelação ou “saída do armário.” Mas há quem precise de ajuda para ultrapassar o que poderá ser um processo difícil.

5. Tenho pessoas amigas homossexuais ou bissexuais. Por que me sinto desconfortável quando se trata do meu filho ou da minha filha?

O preconceito homofóbico é muito forte na nossa sociedade e, sem se dar conta, interiorizou-se ao longo de anos.

Levará algum tempo até se ajustar a esta nova informação; não fique com ansiedade por não se sentir ou agir imediatamente como pensa que “deveria” fazer.

eu nasci assim

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6. Ser homossexual ou bissexual é considerado um comportamento desviante?

Ser homossexual ou bissexual não é um comportamento, mas uma característica própria da pessoa: é exatamente o mesmo que ser heterossexual. Não é algo que uma pessoa escolha.

Grupos de profissionais ligados à saúde concordam que a homossexualidade não é uma doença, um distúrbio mental ou um problema emocional, mas simplesmente uma característica de algumas pessoas.

7. O que significa transexual?

Uma pessoa transexual sente que a sua identidade de género é diferente da sua anatomia.

A identidade de género é a sensação interna de se ser homem ou mulher, que é geralmente comunicada à sociedade por uma expressão de género (roupas, corte de cabelo, gestualidade, etc.).

8. Como é que o meu filho ou a minha filha pode ter a certeza de que é transexual?

O seu filho/a não escolheu ser transexual. É natural que pense que está apenas a passar por uma fase experimental e/ou confusa, mas experimente fazer a pergunta a si mesma: “Por que me sinto homem ou mulher?“.

É importante perceber que, assim como vive a sua vida como homem ou mulher porque isso lhe é confortável, o seu filho/a sente a necessidade de fazer o mesmo; fazer o que sente, ser mais honesto e o que lhe é mais confortável.

9. Sinto que estou a perder o meu filho ou a minha filha. Como posso reavê-lo/a?

Se se apegar à forma como o/a conheceu, é natural que sinta que está a perder o seu filho ou filha de algum modo. No entanto, o seu filho/a continua a ser exatamente a mesma pessoa.

Tente não tomar esta nova informação como uma razão para desistir ou para sentir exclusão, mas sim como uma nova oportunidade para aprender mais sobre o seu filho ou filha.

10. Será que poderia ter feito alguma coisa para evitar que o meu filho/a fosse transexual?

A identidade de género que se vai construindo desde criança é inevitável. Muitas famílias nunca se aperceberam da situação, enquanto outras relatam que a criança, a partir dos três anos de idade, já se identificava claramente com o outro sexo.

Não é culpa sua que o seu filho/a se sinta dessa forma. Em vez de pensar na identidade de género não convencional dele/a como algo que deveria ter impedido, pense antes que poderá ser algo que agora pode ajudar a florescer. Ele/a precisa muito do seu apoio.

11. O meu filho/a deverá receber apoio terapêutico?

Se o seu filho/a sente necessidade de apoio terapêutico, é importante que o terapeuta a/o ajude a tornar-se mais confortável com a sua identidade de género.

Um terapeuta que não apoie nesse sentido ser-lhe-á certamente prejudicial.

12. E se o meu filho/a decidir submeter-se a procedimentos médicos para alterar a aparência de género?

Se o seu filho/a decidir fazer a transição física de um género para outro, é importante dar-lhe o maior apoio possível.

Embora possa ser difícil aceitar uma mudança tão drástica na vida do seu filho/a, envolvendo a sua anatomia e aparência física, a transição de género é, muitas vezes, um passo fundamental para a felicidade de um transexual.

Fonte: Amplos; Respostas a perguntas de pais e mães sobre a revelação da homossexualidade ou bissexualidade de um filho ou filha; Respostas a perguntas de pais e mães sobre a transexualidade de um filho ou filha.

Os contactos que podem ajudar

A Presidente da AMPLOS, Manuela Ferreira, recorda que o mais importante é “ouvir o seu filho ou filha e perceber que fazer a revelação da sua orientação sexual ou identidade de género é um ato de coragem e de confiança.”

“Lembre-se que para estar a falar da sua orientação sexual ou identidade género, ele/ela já fez o seu caminho interior, muitas vezes solitário, e já teve que se aceitar a si próprio. É um dia que ficará na memória de todos e será bem melhor que seja recordado sem mágoa”, aconselha.

AMPLOS

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Site: Amplos.pt

ILGA

E-mail: ilga@ilga-portugal.pt
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