Pai e mãe têm papéis diferentes? Com a crescente valorização do papel da mulher na sociedade, assiste-se a uma maior responsabilização do homem nos cuidados dos filhos, o que permitiu perceber as vantagens do seu maior envolvimento.
Tal não significa que o papel do pai tenha hoje maior relevância do que há uns anos. Há, no entanto, uma maior consciência da sua importância no crescimento dos filhos devido à sua maior participação. Mas nem sempre a sociedade mostra abertura para esta mudança no seio das famílias.
O papel do pai é diferente do da mãe?
Luís Albuquerque, diretor de marketing de uma farmacêutica multinacional, dá como exemplo algo que acontece consigo regularmente: “Desde sempre que acompanho o meu filho a todas as consultas e vacinas. Quase sempre a médica dirige-se única e exclusivamente à mãe. É como se eu não estivesse lá. Nós não ajudamos só as mães, também somos capazes e fazemos…”.
Há uma longa tradição dos cuidados da mãe que ainda se mantém e que origina formas diferentes de cuidar, assim como uma longa história cultural que olha para as mães como sendo mais protetoras, organizadas, atentas, cuidadosas e com mais regras na educação dos filhos. Já o papel do pai é mais descontraído, prático e mais ativo nas brincadeiras.
E será que as mães acham que só elas é que sabem educar os filhos? “Naturalmente, as mães sentem isso, pois a gravidez é um processo único e muito delas. É natural que sintam, de início, estar mais preparadas e ser mais conhecedoras. É algo que também tem de mudar e evoluir. Os pais têm de estar mais presentes, ter essa vontade, e, por outro lado, a sociedade também tem de olhar para os pais como pessoas capazes de educar os filhos no sentido mais amplo da palavra”, acrescenta.
Afinal, o que mudou?
Luís Albuquerque, 42 anos, não pensou duas vezes em vender a mota após ter sido pai. “Vendi a mota porque passei a ter receio que me acontecesse alguma coisa e não estar cá para ele. Diria que ser pai mudou tudo e não mudou nada.”
Um exemplo deste maior envolvimento parental é o aumento do “gozo das licenças parentais por parte dos homens nos últimos 17 anos. E mesmo das licenças partilhadas, que assistiram, num relativo curto espaço de tempo, a uma evolução na ordem dos 10% para cerca de 2/3”.
Segundo Ricardo Simões, presidente da APIPDF, o inquérito do ISSP (International Social Survey Programme), realizado em 2014, é demonstrativo de “uma atitude dos portugueses/as bastante positiva quanto aos benefícios do gozo destas licenças por parte dos homens pais, o que reflete simbolicamente as mudanças dos papéis de género na família”.
Para o presidente desta associação, esta mudança deve-se a uma multiplicidade de fatores e demonstra não só a complexidade das transformações portuguesas, como a sua singularidade: “As razões são extensas: decréscimo da nupcialidade e dos casamentos católicos; crescente expressão das uniões de facto; queda da fecundidade e do aumento dos nascimentos fora do casamento; crescimento das taxas de atividade feminina; aumento significativo da taxa de divórcio e configuração de novas realidades parentais nas famílias monoparentais e reconstituídas”.
Quais são os benefícios do envolvimento dos pais na vida dos filhos?
• Aos 6 meses, os bebés são cognitivamente mais competentes.
• Com 1 ano de idade, continuam a demonstrar níveis mais altos de funcionamento cognitivo.
• Aos 2 anos são melhores a resolver problemas com os quais se deparam.
• Aos 3 falam mais e usam um vocabulário mais diversificado.
• Durante o primeiro ciclo, têm um melhor desempenho escolar: melhores ao nível da capacidade verbal, de leitura e desempenho sócioemocional.
• Na adolescência, têm atitudes mais positivas em relação à escola, participam mais em atividades extracurriculares e adotam menos comportamentos de risco.
• São adultos mais resilientes, mais autoconfiantes, mais sociais e gerem melhor o stresse.
Acha que o papel do pai tem mudado ao longo dos anos? Veja também como o mindfulness ajuda os pais a educar os filhos.