10 passos para uma relação mais feliz e saudável
Ambicionamos ser felizes, sentirmo-nos bem, crescer, sermos mais maduros emocionalmente mas, na verdade, paralisamos quando para tal envolve trabalhar e sermos mais comprometidos, responsáveis e conscientes das relações mais importantes da nossa vida: a relação connosco mesmos e com os nossos companheiros.
Muitos de nós não sabemos como construir e manter uma relação feliz e saudável, até porque amar alguém requer uma enorme coragem, vulnerabilidade e autenticidade.
E não conseguimos ser autênticos e verdadeiros na relação com o outro se não conseguirmos ser autênticos e verdadeiros na relação connosco próprios. Muitas vezes, em consulta, são muitas as pessoas que perguntam “como posso eu ser vulnerável ou autêntico, quando nunca ninguém me ensinou ou falou sobre isso?”.
As relações têm vindo a evoluir e a desenvolver-se, e parece cada vez mais haver este ganho de consciência de que muito provavelmente necessitamos de estar para estas de uma forma completamente nova.
Como se tratasse de um convite ou de uma séria reflexão acerca do que necessitam de facto as relações para serem mais felizes e saudáveis e isso conduzir-nos a este lugar de análise e consciencialização do que necessitamos de trabalhar (em nós) para trazer coisas boas, positivas, construtivas e válidas para a relação que tanto privilegiamos.
Uma maior responsabilização, de olharmos para nós e percebemos de que forma poderemos impactar positivamente aquele vínculo.
As relações saudáveis necessitam de um trabalho de equipa, de um trabalho movido a dois.
Mais do que nunca, as relações necessitam, para o seu futuro saudável, que sejamos capazes de olhar para as nossas imperfeições e dores. Cruzarmo-nos com a humanidade que existe em nós e a olharmos de perto. Olhos nos olhos. Sem fugirmos dela.
Não é fácil olharmo-nos de frente. Requer tantas vezes coragem mas, só quando nos vemos e aceitamos, é que estaremos disponíveis para mudar.
Na verdade, o futuro saudável das relações conduz-nos também a este novo lugar, de ser e estar para o outro de uma maneira nova.
Não na dependência de falsas crenças que foram sendo construídas dentro de nós ao longo do caminho, mas na certeza de que esta aceitação da nossa humanidade permite, sem dúvida, a uma maior aceitação da humanidade do outro. E consequentemente, da sua imperfeição.
Os 10 passos para uma relação mais feliz e saudável
Os ingredientes para construir uma relação mais feliz e saudável variam de relação para relação, consoante as necessidades sentidas por cada pessoa. É impossível, por isso, falarmos de uma regra mágica, como se de uma receita se tratasse.
Não obstante, os estudos indicam-nos a importância dos seguintes aspetos:
1. Ser um bom companheiro
Talvez em primeiro lugar, surge a importante intenção de sermos melhores companheiros e amantes, mais conscientes do que é estar numa relação, mais atentos ao que esta poderá vir a necessitar de tempos a tempos.
De procurarmos ser alguém que realmente acompanha o outro na sua jornada de vida, de estar mais despertos e disponíveis para realmente crescer e chegar mais alto. Para tal, muitas vezes poderá implicar a realização de um mergulho ao mais profundo de nós mesmos.
2. Compreender o nosso passado
Quando nos conhecemos melhor, estamos também mais disponíveis para fazer melhor. O nosso passado molda a forma como amamos, permanecendo connosco através da forma como experienciamos o momento presente.
A mochila que carregamos às costas, tende muitas vezes a surgir no palco das nossas relações amorosas. A forma como os nossos pais/cuidadores demonstraram (ou não) compaixão, carinho, respeito, amor, honestidade, hostilidade, abuso, adição, negligência, dependência ou autosuficiência na sua relação, influencia a forma como vamos trazer esses aspetos para a nossa vida ou as lentes que usamos para olhar o mundo e o nosso companheiro.
Os padrões familiares, as lealdades e os legados são extremamente poderosos e impactantes na nossa vida e, quando não nos disponibilizamos para explorar o nosso passado com uma lente de curiosidade, estes padrões acabam por tomar conta da nossa vida amorosa.
Compreender o nosso passado ou olhar para nós mesmos permite fazer sentido da nossa vida e reganhar a capacidade de nos conectarmos emocionalmente, de uma forma mais autêntica e honesta, assim como sermos mais flexíveis nas nossas relações mais importantes por ganharmos novas visões e perspetivas face ao nosso presente e ao futuro que queremos viver.
Por outro lado, olhar para nós mesmos permite ganhar consciência igualmente dos nossos pensamentos, crenças e condicionamentos a que fomos sujeitos ao longo da vida, da nossa narrativa que tantas vezes se entranha no comportamento, nos bloqueios, ansiedades e evitamentos. Dos nossos gatilhos que nos impactam e ativam emocionalmente.
Olhar para nós mesmos, terapêutica e compassivamente, implica crescer em tamanho emocional e estarmos muito mais dotados de uma ferramenta importante chamada empatia, aprendendo a sair dos nossos muros que nos encerram em nós e compreender a perspetiva do outro, porque passamos a compreendermo-nos melhor também, a regular as nossas emoções, tornando-nos menos reativos e melhores sabedores de uma comunicação amorosa mais saudável.
3. Utilizar uma comunicação saudável
As relações necessitam de um diálogo e de uma comunicação tão franca, tão honesta e profunda como se calhar nunca nos permitimos anteriormente em relação alguma na nossa vida.
Necessitam que conversemos de coisas que nunca conversamos anteriormente, e que provavelmente nem sabemos bem como falar.
As relações necessitam que arrisquemos mais o nosso nível de profundidade com que as abraçamos, que trabalhemos em nós as nossas competências pessoais, inteligência emocional e emoções. Necessitam de serem nutridas com disponibilidade e energia, e não com um ser já esgotado, sem muito para oferecer.
São inúmeros os casais que necessitam de aprender a discutir. Os conflitos e os desentendimentos fazem parte da vida de qualquer casal e são até necessários para a saúde da relação.
Muitas vezes surgem no nosso dia a dia, porque nos preocupamos com o outro ou porque aquela relação é realmente importante para nós e queremos tanto que as coisas corram bem. Ou porque na relação com o outro, queremos manter a nossa autenticidade e não nos perder de nós mesmos.
Neste sentido, os casais necessitam de aprender a expressar as suas emoções, o que sentem, sem se magoar, para que não existam falsas “bolas de cristal” que apenas os tornam reféns de mais desacertos no seu compasso de dança.
Precisam de aprender a discordar. A estar no conflito sem ser através da fricção emocional que advém da frieza, da defensividade ou do desdém, que são alguns dos maiores inimigos da comunicação do casal.
4. Colocar limites pessoais saudáveis
As relações necessitam que aprendamos a colocar os nossos limites pessoais, que sejamos capazes de levantar as nossas bandeirolas vermelhas e que sejamos mais íntegros e honestos em primeiro lugar connosco mesmos.
Quando desrespeitamos os nossos limites pessoais estamos, na verdade, a desrespeitarmo-nos a nós mesmos enquanto pessoas, a abandonarmo-nos, a tornarmo-nos invisíveis numa relação. E uma relação necessita de duas pessoas inteiras.
Quando uma das partes deixa de existir por se tornar invisível, o outro deixa de ter quem amar. Apenas ama uma reflexo seu, uma projeção de um ideal e não uma outra pessoa.
Os nossos limites pessoais colocados saudavelmente numa relação, permitem também ao outro aprender a amar-nos melhor e a mesma enriquece na sua qualidade.
5. Ser flexível
Um dos aspetos mais importantes para uma relação feliz e saudável passa pela capacidade do casal ser flexível, ou seja, a sua capacidade de mudar ou de se adaptar a novas realidades.
Ao longo do ciclo de vida de um casal, são inúmeras as circunstâncias que podem mudar (como por exemplo, uma situação de desemprego, uma situação de doença, a família que se alarga com a chegada de um novo filho, as exigências da carreira, mudar de país, o mundo entrar em lockdown como aconteceu na altura da pandemia, etc).
A flexibilidade permite o casal acompanhar-se, adaptar-se entre si, sem resistência ou rigidez, ou seja, enfrentar uma crise específica com que podem cruzar-se com maior resiliência, coragem, criatividade e até humor, no lugar de um emaranhamento, de um congelar, não enfrentar e seguir em direções completamente opostas.
6. Sentido de humor
São inúmeras as situações ao longo da nossa vida que poderão ser tensas e difíceis.
Um casal que ri em conjunto é um casal que consegue reganhar novas perspetivas sobre as circunstâncias da vida, adaptar-se e continuar a viver com um maior sentido de esperança dentro de si.
7. Admiração mútua
O sentido de reconhecimento um do outro, do valor intrínseco de cada um, da influência genuína e positiva que um companheiro poderá exercer sobre nós, ao incentivar-nos a crescer, a ir mais além das amarras que colocamos em nós mesmos, do sentir e apreciar a verdade e a unicidade do outro.
Aquilo que lhe é singular. O que pode ir desde a sua gentileza, à sua capacidade de se autosuperar. Seja o que for, pressupõe a capacidade de se apreciarem mutuamente.
8. Equilíbrio entre o Individual vs Conjugal
Uma relação saudável necessita de um equilibro entre aquilo que é do espaço individual e aquilo que é do espaço do casal, dos dois.
Ou seja, que o casal seja capaz e consciente de construir um espaço entre aquilo que é a necessidade de autonomia e a necessidade de interdependência, incentivando-se e honrando-se mutuamente neste equilíbrio saudável.
9. Construir segurança e confiança
Uma relação saudável é uma relação onde existe um profundo sentido de confiança mútuo.
Sentir que existe um espaço e um vínculo seguro que acolhe, que abraça. Sentir na relação que se tem realmente alguém com quem contar, que o outro está realmente ali, presente emocionalmente. Um vínculo seguro que aceita o outro inteiro e autêntico, ou o incentiva no seu crescimento/amadurecimento.
10. Imperfeição e responsabilização pessoal
Uma relação feliz e saudável é uma relação onde existe espaço para a imperfeição um do outro.
Na compreensão que o nosso companheiro não conseguirá nunca responder a todas as nossas necessidades e que na verdade, a resposta a estas não é de todo na maioria das vezes uma responsabilidade sua. É nossa.
Uma relação saudável, apaixonada, íntima e ligada emocionalmente exige que nos tornemos adultos, emocionalmente maduros.
Com a capacidade (aprendida) de acalmar as nossas emoções mais difíceis, de perseguir os nossos sonhos e objetivos, de nos mantermos nos nossos próprios pés. Com a capacidade de reivindicar o nosso sentido de identidade, de amor próprio na presença do outro.
Claro que existe, e é importante que exista, a interdependência do casal (eu preciso de ti, tu precisas de mim), mas uma real interdependência com espaço para cada um se manter também enquanto pessoa autêntica.
A importância de mantermos o nosso self, não abrindo espaço para este se desintegrar. Para não se anular. Para não nos abandonarmos a nós próprios.
E é este o grande segredo. Sermos duas pessoas diferenciadas que se comprometem diária e pessoalmente a fazer a sua parte para que a relação continue ligada e a crescer.
Neste sentido, esta responsabilidade pessoal insere-se na tomada de consciência do quanto cada um de nós tem ainda tanto para crescer emocionalmente. E responsabilizarmo-nos por tudo isto.
Com generosidade, com carinho, com compaixão, de modo a não repetirmos na nossa história o que não desejamos. De surgirmos com a capacidade de fazer e de ser de um modo muito mais consciente, conectado, numa real intimidade pensada, sentida por nós mesmos.
E por isso, quão prontos estamos para crescer emocionalmente? Para fazer esse caminho que é um processo? Para agir? Um amor (relação) e um amor próprio que são para serem feitos e não ficarem ali parados, à espera que a vida venha e (que em conjunto com as mágoas, os ressentimentos, os erros, as falhas, as dificuldades e os obstáculos) escolha por nós.