10 perguntas que sempre quis fazer a um psicólogo

Ainda tem dúvidas quanto ao que um psicólogo faz na prática; se vale a pena investir em terapia ou que tipo de problemas são mais comuns em consulta? Se sim, veja estas e outras questões, igualmente pertinentes, serem respondidas por quem melhor sabe.

Por Jun. 27. 2020

Numa tentativa de desmistificar de uma vez por todas a Psicologia – enquanto ciência que lhe pode ser em tudo útil – junto do nosso público, já havíamos elaborado um artigo com esta mesma intencionalidade vincada.

A verdade é que quando pensámos em aprofundar a pertinência da Psicologia para a saúde mental e dos profissionais que por ela zelam, denotamos necessidade em desenvolver não um, mas dois artigos alusivos a este tema.

Aqui, a leitora pode ver respondidas algumas das questões mais recorrentes, e polémicas até, que a população em geral gostaria de fazer a estes profissionais. E que por alguma razão nunca o fez.

A verdade é que embora o ofício de um psicólogo possa ser mesmo considerada das mais nobres ocupações existentes – de alguém que abraçou como propósito de vida cuidar dos outros – isso não impede que ainda haja alguma incompreensão ou mesmo desconhecimento associados.

Encare o que vem a seguir como um guia com as principais questões sobre esta temática às quais Catarina Canelas Martins, psicóloga clínica e terapeuta Emdr, atualmente na clínica de psicologia e coaching Leran2BE, lhe vai esclarecer com toda a clareza e cuidado próprios.

10 questões que sempre quis fazer a um psicólogo

1. O que é que um psicólogo faz mesmo?

Depende muito da sua área de especialização. De uma forma geral, procura estudar e compreender a mente através da avaliação e observação do comportamento e das emoções, desenvolvendo técnicas e estratégias para prevenir, diagnosticar e tratar problemáticas psicológicas.

No essencial é alguém que, através do conhecimento científico, procura promover o bem-estar mental ajudando as pessoas a alcançar o seu máximo potencial.

2. Quando procurar ajuda?

Quando existir alguma questão que impeça o funcionamento “normal” e que não esteja a conseguir ultrapassar com o decorrer do tempo.

Existem momentos da nossa vida onde podemos sentir alguma dificuldade mais particular fruto de fatores internos (por exemplo medos) ou fatores externos (por exemplo fim de um relacionamento ou morte de alguém), no entanto, podemos procurar um psicólogo em qualquer momento da nossa vida onde consideremos esse apoio importante.

Sentir-se confortável, respeitado, confiar no seu terapeuta são indicadores de que está bem acompanhado e são fatores essenciais para que as mudanças desejadas aconteçam – Catarina Canelas Martins, psicóloga clínica

3. Será que vale a pena investir em terapia?

Esta é uma questão mais subjetiva e até filosófica. Na minha ótica, enquanto profissional e dos processos que já acompanhei e acompanho, diria que é um investimento dos mais valiosos pois não se perde com o tempo.

O autoconhecimento e crescimento pessoal têm um valor incalculável que ultrapassa em larga escala o valor monetário investido.

Se lhe perguntassem se vale a pena comer de forma saudável ou praticar exercício físico para prevenir doenças oncológicas, o que faria? Alguns talvez dissessem que iriam seguir esse estilo de vida, outros talvez ficassem apenas na contemplação desse facto e adiassem essas alterações para outra fase mais conveniente.

Na psicoterapia é necessário investir tempo, dedicar-se a pensar sobre si, experimentar e arriscar, alterar comportamentos. Tudo isto é exigente e requer uma consciência de que esse é um caminho válido para alcançar bem-estar e melhorar a sua vida.

4. Quando é que sei que encontrei um psicólogo indicado para mim?

É importante ter noção de que um percurso psicoterapêutico não é linear e não tem um tempo definido. A relação terapêutica é um dos fatores que contribui mais para o sucesso do processo.

Sentir-se confortável, respeitada, confiar no seu terapeuta são indicadores de que está bem acompanhada e são fatores essenciais para que as mudanças desejadas aconteçam.

Ao longo do percurso poderá ir reavaliando em conjunto com o psicólogo os ganhos que está a ter com a terapia e, caso sinta que não estão a corresponder às suas expectativas, exponha o que sente para em conjunto poderem encontrar novos caminhos ou até mesmo considerarem uma nova abordagem.

5. Um psicólogo vai resolver os meus problemas?

Não. Na psicoterapia a paciente/cliente não é passiva, como tal, ninguém vai resolver nada por ninguém.

O psicólogo irá ajudar a pensar sobre perspetivas novas, questionar, confrontar, ajudá-la a compreender-se e aceitar-se com os seus defeitos e qualidades. A pessoa é sempre responsável por si própria.

Um dos princípios do código deontológico que rege a profissão é a confidencialidade – Catarina Canelas Martins, psicóloga clínica

6 .Qual a diferença entre um psicólogo e um coach?

São várias, contudo, podemos salientar um dos que considero ser dos mais importantes que é o objetivo da intervenção.

O psicólogo procura compreender o comportamento, as emoções, os pensamentos que estão por detrás de determinada problemática e promover um aumento do autoconhecimento e um maior bem-estar, sendo este um processo nada linear e com um timing muito variável de pessoa para pessoa e muito mais profundo, alterando a pessoa de forma sistémica (visão de si própria, do mundo, das relações).

O coach tem o seu foco na resolução de um problema ou na concretização de um objetivo mais específico, identificado no início do processo e alcançado de uma forma mais rápida e mensurável.

Ao nível da formação também são diferentes, visto que o psicólogo tem uma formação de pelo menos cinco anos e um de estágio na sua área de especialização e o coach é alguém que poderá vir de uma área profissional, como por exemplo Direito, e a sua formação obrigatória é mais curta, não aprofundando tanto o conhecimento da mente humana e dos seus processos, mas sim mais focado em estratégias para motivar e alcançar metas.

7. Que tipo de problemas são mais comuns em consulta?

Depende muito do contexto onde o psicólogo trabalha, mas na minha experiência de clínica privada são questões internas como a forma como a pessoa se vê, se relaciona, medos, inseguranças ou algo que acontece na sua vida e a leva a uma necessidade de adaptação que nem sempre é rápida ou fácil e, muitas vezes, gera sofrimento, como o divórcio, parentalidade, mudanças de trabalho.

8. O psicólogo pode contar os meus segredos a alguém? Há exceções?

Não, aquilo que é falado em consulta fica na consulta. Um dos princípios do código deontológico que rege a profissão é a confidencialidade, tendo o profissional de assegurar a privacidade e confidencialidade da informação a respeito do seu paciente/cliente.

As exceções existem e estão relacionadas com a existência de uma situação de perigo para a pessoa ou para terceiros (por exemplo: perigo de vida, perigo de dano significativo, qualquer forma de abuso ou maus-tratos a menores ou alguém vulnerável); quando existe uma equipa de trabalho com quem seja útil partilhar informação restrita no sentido de otimizar o processo de acompanhamento; quando por motivos legais seja solicitada alguma informação confidencial; quando o paciente/cliente é menor e os seus representantes legais também solicitem informações.

Em qualquer um destes casos, o psicólogo apenas fornece a informação estritamente necessária, informando sempre o seu paciente/cliente.

A psicologia é uma profissão com várias saídas e uma importância cada vez mais reconhecida – Catarina Canelas Martins, psicóloga clínica

9. O investimento monetário compensa?

Diria que compensa tendo em conta que uma vez feito este investimento e mergulhando num processo como este a pessoa nunca mais perderá os ganhos obtidos. A borboleta já não volta a ser lagarta.

10. A Psicologia é uma profissão do futuro?

Do passado, do presente e do futuro! Cada vez mais são visíveis as múltiplas aplicações do conhecimento da Psicologia nos vários contextos sociais e profissionais. Por esse motivo, a Psicologia é uma profissão com várias saídas e uma importância cada vez mais reconhecida.