Como proteger os mais novos das doenças infeciosas este inverno (e despistar a covid-19)
Após quase dois anos de sucessivos confinamentos e pouco contacto com vírus e bactérias, as crianças em idade escolar e adolescentes estão mais vulneráveis a contrair doenças infeciosas.
Desde que o ano letivo começou, quantas vezes teve de voltar para casa porque o seu filho ficou doente? Pior, quantas vezes, pelos sintomas, temeu que fosse covid-19, obrigando a fazer o despiste desta doença, tão invasivo e incómodo para os mais novos?
A verdade é que, “no ambiente estéril em que se viveu durante a pandemia, espera-se um inverno rigoroso no que diz respeito a doenças respiratórias, não só nas crianças abaixo dos 3 anos, mas também nas mais crescidas e nos adolescentes”, explica Mónica Cró Braz, pediatra no Hospital CUF Descobertas.
E, como os sintomas de covid se podem confundir com os de muitas outras doenças do trato respiratório (asma, bronquite, gripe, pneumonia, entre outras), “deve haver racionalidade na testagem em crianças que tossem e andam constipadas o inverno todo, mas, sobretudo, não descurar outros diagnósticos em pediatria, mais frequentes ou com evolução mais desfavorável, como a pneumonia bacteriana ou a meningite”, adverte a especialista.
Meningite e covid-19: sintomas que se confundem
O regresso ao mundo escolar e a chegada do tempo frio trouxeram riscos acrescidos para a saúde no que diz respeito às doenças infeciosas, como a meningite, altamente contagiosa e que, para agravar, tem sintomas semelhantes à covid-19.
Para que não haja equívocos, Mónica Cró Braz explicou à Saber Viver que a meningite é uma doença infeciosa que provoca a inflamação das meninges, as membranas que envolvem o cérebro e a medula espinhal, e cujos sintomas mais comuns são febre, dores de cabeça e vómitos. Pode ainda surgir diarreia, intolerância à luz e, nos mais novos, irritabilidade. As meningites causadas por vírus são mais frequentes e menos graves.
As meningites bacterianas, cada vez mais evitáveis pela vacinação, podem ser mortais e deixar sequelas graves como surdez, cegueira, epilepsia ou amputação de membros.
“Felizmente, a meningite é uma doença pouco frequente, ainda que grave. Com a pandemia e o uso de máscaras, todas as doenças infeciosas se transmitiram menos e a meningite não foi exceção. O expectável será haver uma retoma de casos de meningite sobreponíveis aos anos pré-pandemia e, quem sabe até, um aumento, mas só o tempo nos poderá dizer.”
Assim, e tendo em conta a gravidade da doença, perante suspeita de meningite, dirija-se a um serviço de urgência para avaliação.
Os mais vulneráveis
É sabido que o sistema imunitário até aos 3 anos se encontra em construção e que os vários estímulos de infeções adquiridas no infantário oferecem algum grau de proteção contra as doenças.
“Estima-se que, nas crianças pequenas, possam ocorrer entre dez e 12 constipações por ano, o que se traduz, em média, numa por mês, enquanto nas crianças mais velhas e nos adultos tal aconteça entre três e quatro vezes por ano”, compara Mónica Cró Braz, acrescentando que, “com os confinamentos, desinfeção de mãos, máscaras e ausência de convívio de crianças infetadas, é natural que o sistema imunitário tenha ficado mais imaturo, menos estimulado e mais fragilizado. O mesmo acontece nas crianças mais crescidas e em adolescentes”.
Como proteger o seu filho?
A lavagem das mãos é, sem dúvida, a melhor forma de prevenção de doenças, mas a pediatra destaca outros fatores importantes de prevenção, tais como “a amamentação, uma alimentação equilibrada, o não fumar perto de crianças, não levar crianças doentes para a escola (por exemplo, com febre, vómitos, diarreia, manchas ou falta de ar) e, se possível, optar por escolas com espaços ao ar livre, salas arejadas e com o menor número possível de crianças por turma”.
Caso queira reforçar as defesas do seu filho, consulte o seu médico assistente sobre a possibilidade de tomar suplementos vitamínicos, outro tipo de medicação preventiva (por exemplo, se forem asmáticos) ou vacinas (como a da gripe).
Atenção aos sinais
Felizmente, a maioria das doenças das crianças e dos adolescentes é benigna e limitada no tempo, tendo entre três a cinco dias de evolução. É por este motivo que é sempre recomendável esperar três dias de doença até recorrer ao médico assistente ou a um serviço de urgência.
Contudo, tal como alerta a pediatra, “esta regra não se aplica aos bebés com menos de 3 meses com febre nem em nenhuma criança apática ou demasiado irritada, com falta de ar, gemido, vómitos repetidos ou diarreia frequente, que não urina ou que não chora com lágrima”.
Vacinas salvam vidas
Sobre as dúvidas que surgem muitas vezes sobre vacinar ou não os filhos, basta lembrar-se que foi através de programas nacionais de vacinação que se erradicou a varíola e eliminou poliomielite em quase todo o mundo…
Neste tema, a pediatra Mónica Cró Braz é perentória: “A vacinação é um direito fundamental das pessoas e permite a prevenção de doenças que podem provocar complicações graves ou mesmo a morte. Portugal é um país exemplar no cumprimento do programa nacional de vacinação que, não sendo obrigatório, tem elevadas taxas de cobertura vacinal e é uma história de sucesso. As vacinas salvam vidas!”