Mais do que serem figuras públicas, Elizabeth Taylor, a cantora Pink ou o ator Jude Law têm em comum o facto de terem dado novas oportunidades a relações que, à partida, pareciam mortas. Taylor casou-se com Richard Burton em 1964, numa relação tempestuosa que durou até 1974. Um ano depois, o casal voltou a casar-se, divorciando-se definitivamente meses depois, mas mantendo a amizade até à morte de Burton.
Jude Law e a também atriz Sienna Miller estiveram juntos entre 2003 e 2006 – com as traições de Law a ditarem a separação –, e reataram em 2009, tendo dado esse capítulo por encerrado em 2011. Pink é, até à data, a única dos três cuja relação se mantém: depois de se casar com Carey Hart, em 2006, e de se separar dois anos mais tarde, voltou a juntar-se com o ex-marido em 2010 e, desde então, o casal permanece junto e já teve dois filhos.
Amor e não só
Taylor, Law e Pink viveram em público o que milhares de pessoas vivem, todos os dias em privado. E, como tudo o que envolve relações humanas, também nas histórias de recomeços amorosos é difícil estabelecer padrões.
É mais frequente regressar para o/a ‘ex’ quando a relação inicial foi duradoura? A idade conta? Os filhos mudam alguma coisa? Catarina Lucas, psicóloga e terapeuta familiar, põe a tónica no nível de compromisso e na existência de filhos como base para a tentativa de fazer renascer a relação. “Há sempre uma série de variáveis. Mas, efetivamente, quando se trata de uma relação duradoura e sobretudo quando há filhos e bens envolvidos, há sempre um peso acrescido. Há muitas relações que são novamente reatadas exatamente por causa destes fatores”, diz. Contudo, a vontade de permanecer juntos em nome da família não é fator suficiente para garantir o sucesso deste novo capítulo.
“Por vezes, sentimos que estamos a fazer um trabalho inglório porque já não existe um elo de ligação, não há vontade – em última instância, podemos dizer que não existe amor, que é o que sustenta as relações a longo prazo. Sentimos que estamos a construir um castelo com paredes e telhado, mas sem estrutura”, afirma a terapeuta, que sublinha que o sucesso ou insucesso desta nova/velha relação vai depender em muito dos motivos que deram origem à rutura. “As traições são das coisas mais difíceis de ultrapassar”, garante.
Prós e contras
A cada recomeço, há a tendência para considerar que é uma ‘nova’ relação. Mas Catarina Lucas discorda. “Embora seja isso que se vai ‘vendendo’, temos memória, emoções e o que aconteceu no passado pode ser perdoado, mas nunca é algo novo. Já conhecemos a pessoa, os seus defeitos e qualidades”, afirma a psicóloga. O que não impede que se tente reconstruir algo, de forma diferente, tendo em conta a informação que vem de trás. Recomeçar um relacionamento amoroso também tem vantagens. A previsibilidade e a segurança são duas delas. “Já conhecemos a outra pessoa, o que nos dá alguma previsibilidade – e nós gostamos disso – e é algo que transmite uma certa segurança. Como a outra pessoa também já nos conhece, podemos ser mais autênticos”, diz Catarina Lucas. De acordo com a terapeuta, há até quem encontre outro ponto positivo no facto de já haver um conhecimento mútuo: evita todo o ‘trabalho’ de descoberta e sedução dos primeiros passos. Uma coisa é certa, começar de novo implica esforço e trabalho.
“Uma coisa é o compromisso, outra coisa é o que acontece na prática porque, enquanto pessoas, temos de fazer um esforço enorme para não cair nos mesmos erros”, alerta Catarina Lucas. As desvantagens agravam-se nos casos em que o casal viveu acontecimentos traumáticos, como uma traição, um aborto ou situações de agressão. “Voltar para alguém que nos traiu, se encaramos a relação numa ótica de exclusividade, é uma desvantagem no sentido em que é muito difícil reconstruir a confiança. É um dos grandes dilemas na terapia de casal: até podemos conseguir reconstruir o casal, há o compromisso, há o sentimento, mas aquela mágoa e a desconfiança estão sempre presentes”, diz a terapeuta.
Necessidade de segurança
O fator tempo pode ser determinante para o retomar (ou não) de um relacionamento. “O sentimento inicial é de perda e confusão, mas, à medida que o tempo vai avançando, há um atenuar do sentimento de desespero – porque é de desespero que se trata. Às vezes, passados dois ou três meses, as coisas já não são bem assim.…”, diz Catarina Lucas. Com o tempo, muitas vezes, instala-se a consciência de que algo que já não estava bem ou que existia uma série de características no outro de que a pessoa já não gostava.
“Além do mais, começamos a fazer as nossas rotinas sozinhos e a vontade de reatar a relação começa a atenuar-se”, diz a psicóloga, para quem o fator tempo acaba muitas vezes por fazer diminuir a sensação de não saber viver sem a outra pessoa. É a necessidade de voltar a uma zona de conforto, a um mundo já conhecido, que está por trás de muitas relações recomeçadas.
“Por vezes, não sentimos falta da pessoa, mas da rotina que vivemos com ela. Da mensagem pela manhã ou do filme à noite”, diz Catarina Lucas. Nestes casos, o reatar do relacionamento tem como base a necessidade de segurança e algum comodismo, já que esta parece ser a solução mais fácil. Mesmo assim, embora a probabilidade de insucesso esteja presente, há também casos de relações felizes.
Afinal, a grande questão prende-se com a memória e não com a falta dela. “Nunca esquecemos… Queremos acreditar que vai ser diferente, mas o problema é que depois não é”, diz a especialista.
Se algo já correu mal, é preciso um grande esforço para não cair nos mesmos erros, porque há uma forte probabilidade de que voltem a acontecer.
Já voltou a reatar alguma relação? Saiba ainda por que razão estamos cada vez mais sós.