Terminar uma relação amorosa pode parecer fácil quando o relacionamento não corresponde às expectativas e quando se trata de uma decisão mútua.
Contudo, há quem permaneça num relacionamento, porque não quer magoar o outro, porque espera que a relação melhore, porque lhe é difícil desistir de algo que exigiu tanto investimento emocional e de tempo. Noutros casos, há apenas medo de se ficar solteiro, de se ser visto como fracassado ou de temer o impacto que a separação possa causar nos filhos.
As razões são muitas e variadas. Há especialistas que falam inclusivamente no surgimento de um novo receio, o FOBU (Fear Of Breakink-Up, em inglês), o medo de terminar um relacionamento.
De acordo com Sónia Sucena, terapeuta de casal na Clínica Psicronos, em Lisboa, este é “um medo comum à maioria da população portuguesa”. Embora se acredite que uma relação não possa terminar a bem, os especialistas dizem-nos exatamente o contrário.
O contexto certo
Os sentimentos de tristeza, insegurança, vazio e até de zanga, são inevitáveis no fim de um relacionamento. “É difícil vivenciar um processo de luto devido a uma separação, sem que surjam estes sentimentos. Estes fazem parte, mesmo dos relacionamentos que se dizem saudáveis”, confirma a terapeuta de casal.
Ainda assim, a forma como terminamos um relacionamento pode influenciar muito o processo de separação.
A permanente presença das novas tecnologias no nosso dia a dia tem contribuído para que muitos, principalmente os mais jovens, usem a comunicação escrita para terminar um relacionamento.
De acordo com Sónia Sucena, a melhor forma de terminar um relacionamento é “com o olhar focado no outro, num contexto adequado e onde o respeito está implícito, considerando-se que o que se vivenciou até então foi vivido com felicidade, mas que, no momento, chegou ao fim”.
Segundo a especialista, os sentimentos negativos de mágoa e rancor “manifestam-se na sua grande maioria, quando o término da relação se baseia em situações em que o respeito pelo outro fica comprometido”.
Quando a separação é o melhor caminho
Uma separação não tem de significar necessariamente um divórcio. “Por vezes, um processo de separação poderá permitir ao casal reconhecer alguns sentimentos latentes que poderão contribuir para uma aproximação”, explica Sónia Sucena.
Contudo, perante a presença de determinados fatores, a separação é, de facto, o melhor caminho, nomeadamente, “se uma das partes tem dúvidas sobre o que sente, quando estão presentes situações de tensão que originam agressões verbais permanentes, quando só se consegue identificar os defeitos do outro e quando a admiração e a valorização deixam de estar presentes.”
Segundo a especialista, a separação continua a ser a decisão mais acertada “quando já não é possível estar com o outro sem que surja uma discussão de maior tensão ou quando a crise se instala e o casal não procura ultrapassá-la, permitindo o distanciamento emocional”.
O medo de terminar uma relação
Conhecido pela sigla inglesa FOBU, o medo de terminar um relacionamento é cada vez mais comum. Sónia Sucena prefere defini-lo como “o medo de ficar sozinho/a” ou “o medo de não conseguir voltar a encontrar alguém.”
“Este é um medo comum à maioria da população portuguesa”, constata a terapeuta de casal, explicando que “uma grande parte da população, sobretudo a feminina, permanece em relações insatisfatórias, porque tem a ilusão de que é preferível estar assim do que ficar sozinha.”
O FOBU verifica-se “quando a relação se mantém, mesmo quando existe uma exteriorização de sentimentos negativos, como uma constante insatisfação na relação ou um ‘ataque’ permanente ao outro”, indica a especialista.
A solução poderá estar na autoconsciencialização e na psicoterapia individual, que permitirão a desmistificação do medo e o reforço da autoestima e segurança.
Como superar o fim
Não existe uma receita milagrosa. “As estratégias dependem muito da situação em que ocorreu a separação, da fase em que a pessoa se encontra (negação, confrontação ou aceitação) e da personalidade de cada um”, alerta Sónia Sucena. Contudo, há um fator inerente e que deverá ser respeitado: o tempo.
Alguns investigadores já tentaram quantificar o tempo exato que as pessoas demoram a recuperar de uma separação. Num estudo realizado na Universidade de Monmouth, nos Estados Unidos da América, o tempo médio para a recuperação emocional após uma separação foi de 11 semanas. Contudo, para os casais que estavam casados, foi superior a 18 meses.
A terapeuta Sónia Sucena sublinha que o tempo é “um grande aliado” e, se a ele juntarmos algumas estratégias de intervenção, a separação poderá ser ultrapassada com mais eficácia.
Um outro estudo levado a cabo pela Universidade de Northwestern, nos EUA, mostrou que ter tempo para refletir sobre a relação é realmente importante. Durante o estudo, verificou-se um decréscimo dos sentimentos de solidão e do pensamento obsessivo, quando as pessoas falaram sobre a sua separação em entrevistas e questionários escritos.
Na opinião de Sónia Sucena, iniciar um novo “ciclo” prende-se muito com a nossa capacidade de introspeção e definição de novos objetivos. “Temos de olhar para nós próprios, definir objetivos pessoais e colocá-los como metas a atingir. Trabalhar a concretização pessoal, a autoestima, a segurança e a confiança. A prática de exercício físico e a socialização poderão ajudar a diminuir a ansiedade”, recomenda a especialista.