Já se sabe que todas as relações amorosas vivem altos e baixos, e estranho seria que assim não fosse. “O ciclo vital do casal tem períodos de maior proximidade/fusão e outros de maior afastamento, o que é previsível e normativo”, confirma a psicóloga clínica Joana Sequeira, terapeuta de casal e coordenadora da delegação centro da Sociedade Portuguesa de Terapia Familiar. “É importante que os casais tenham esta perspetiva pois ajuda-os a contextualizarem a sua relação e as várias etapas pelas quais ela passa no processo evolutivo normal”.
As etapas mais negativas levam a um afastamento crescente e a separação pode parecer ser o desfecho inevitável. “É um processo que acontece primeiro individualmente, durante muito tempo, até que é verbalizada a intenção”, diz a terapeuta. Normalmente “um dos elementos assume essa decisão/intenção, apesar de os dois terem consciência das dificuldades da relação”.
Que sinais revelam essas dificuldades e indiciam que uma relação amorosa pode estar perto do fim? “Os indicadores de que a separação é a única solução variam muito consoante a realidade de cada casal, sendo difícil estabelecer indicadores gerais”, faz questão de referir Joana Sequeira.
No entanto, algumas situações são bastante comuns e por isso merecem aqui o comentário da especialista, que também explica de que modo a terapia de casal pode ajudar.
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Parar para pensar e, eventualmente, tomar a iniciativa de propor o recurso a ajuda especializada é essencial caso reveja a sua relação nos indicadores que se seguem:
1. Raramente conversam sobre o que sentem
“Vivências pessoais, sentimentos e afetos deixam de ser partilhados, a relação passa a basear-se num conjunto de aspetos práticos que não exigem grande envolvimento afetivo, usualmente mais focados no dia a dia e na família e, cada vez menos, no casal. Ou seja, o casal deixa de estar presente (em conversas, atividades, etc.) e os assuntos da família ocupam quase todo o espaço.”
Sugestão: Neste cenário, independentemente das múltiplas tarefas que a vida familiar impõe, é fundamental que o casal reserve tempo para “pôr a conversa em dia”, seja num jantar a dois ou, melhor ainda, numa escapadinha romântica.
2. Deixaram de abraçar-se ou andar de mãos dadas
“Os momentos de conexão e demonstração de afeto podem, progressivamente, ser cada vez menos frequentes, o que reflete desvinculação, a ausência de interesse e a dificuldade de manter ligações dentro do casal.”
Sugestão: É importante tentar perceber o que levou a esta ausência de carinho e encontrar estratégias para recuperar a relação. Rever estes mandamentos para uma vida feliz a dois pode ser um bom ponto de partida.
3. O sexo já não é o que era
“As alterações à intimidade do casal acontecem ao longo da relação e são normais. A intimidade alimenta-se de formas distintas ao longo do tempo e esta dimensão pode ser ‘esquecida’ face a outros desafios e tarefas práticas. Quando a intimidade de um casal decresce de satisfação e/ou envolvimento, pode ser um sinal de afastamento, de desinteresse e, de facto, relacionar-se com o desejo de pôr fim à relação. No entanto, outras condições emocionais e/ou físicas (como doenças, menopausa e andropausa, etc.) podem afetar a intimidade e não serem sinais de que a separação é desejada.”
Sugestão: Tentar recuperar a “chama” perdida pode passar por um fim de semana a dois e experiências diferentes. Pode dar uma oportunidade ao sexting, por exemplo, ou realizar fantasias sempre adiadas.
4. Só saem juntos para atividades em família
“Os momentos a dois são evitados pelo confronto com o vazio que existe nestes espaços bem como pela emergência de sentimentos de perda, solidão e tristeza que a ausência do casal provoca em cada um dos seus elementos.”
Sugestão: É essencial ir mantendo rituais que alimentem a relação, reservar tempo de qualidade para o casal, descobrirem juntos novas actividades e interesses. É tudo uma questão de equilíbrio.
5. Discutem com muita frequência
“Se há falta de empatia, de capacidade de se colocarem no lugar do outro, de compreensão do que o outro vivência e se a intenção da conversa é fazer valer o seu ponto de vista ou ter ‘a razão’, exercer poder sobre o outro ou diminuir o outro, então qualquer assunto pode acabar em discussão.
Nestes casos, o que está em causa é a capacidade de ouvir e entender, reciprocamente. Se estão zangados e os pontos de ligação são já poucos, então é provável que sejam alimentadas muitas discussões que geram ainda mais afastamento no casal.”
Sugestão: Cada um terá de tentar identificar o que o leva a estimular ou alimentar discussões, eventualmente procurar apoio especializado individual.
6. Ele (ou ela) deixou de discutir
“Pode estar desinvestido relativamente a tudo o que tenha que ver com o outro e com a relação. Não se envolvendo, não emerge o conflito.”
Sugestão: Conversar é a melhor forma de tentar perceber as causas do desinteresse. Outra alternativa é, como sempre, procurar apoio de um terapeuta.
7. Ele (ou ela) faz críticas sistemáticas
“Pode acontecer que um dos elementos (ou mesmo os dois) esteja tão zangado ou desiludido que passe a percecionar o outro apenas através de uma lente crítica. Frequentemente, isto acontece porque a pessoa em causa também não se sente valorizada e então organiza a imagem do outro dessa forma negativa, crítica e até destrutiva.
Este é um critério sério a considerar pois evidencia falta de conexão e erosão grave do vínculo. Ou seja, há poucos pontos de contacto e ligação entre os dois, falta de interesse pelo outro e pela sua vida, pelas atividades conjuntas, ausência de planos e vontade de fazer coisas em conjunto.”
Sugestão: Há que identificar os motivos profundos da zanga, eventualmente com apoio especializado individual, para tentar recuperar a ligação.
Mas nem tudo o que parece é…
É quase inevitável estranhar uma súbita preocupação com o aspeto físico por parte de um dos elementos do casal, assim como um novíssimo interesse numa qualquer atividade ou em saídas com amigos. No entanto, situações interpretadas popularmente como “suspeitas” podem, afinal, ser positivas para o casal:
Ele (ou ela) começa a sair com amigos ou tem um novo hobby
“O investimento no bem-estar individual não é negativo, pode até ser bastante positivo. Frequentemente esta dimensão pode estar diminuída numa relação de casal em que havia pouco espaço para cada um individualmente. Este investimento pode ser uma via para a reconstrução do ‘eu’ e posteriormente para o ‘nós’, desde que não signifique um caminho de distanciamento da relação.”
Ele (ou ela) passa a cuidar-se muito mais
“Quando a relação está perturbada ou ferida e uma das pessoas se sente menos valorizada e pouco nutrida, a necessidade de cuidar mais de si pode emergir como uma estratégia de autocuidado saudável. Mas o investimento pessoal também pode acontecer dentro de uma relação que está a funcionar.”
Como é que a terapia de casal ajuda?
A especialista explica: “Se existir desejo de manter a relação, a terapia pode ajudar a reconstruir o casal nas suas várias dimensões, ‘eu’, ‘eu’ e ‘nós’”. Implica não apenas o trabalho na relação mas também com cada um individualmente, “uma vez que, frequentemente, questões que emergem no casal estão relacionadas com a história de vida de cada pessoa”.
Trata-se de um processo que passa, diz Joana Sequeira, por “identificar as dificuldades que estão a ser sentidas na relação; reconhecer o contributo de cada um para estas dificuldades; bem como as possibilidades de conexão e ligação com vista a um projeto conjunto a dois”. Em muitos casos tem sucesso, contribuindo para que o casal decida dar-se uma nova oportunidade.
Antes de tomar uma decisão definitiva como o divórcio, descubra as 4 coisas que deve fazer antes de desistir de uma relação.