As relações com grandes diferenças de idade têm futuro?

Fomos investigar se pode haver amor genuíno em casais com grandes diferenças de idade ou se essas relações escondem outros interesses. Qual é a sua opinião?

Por Out. 4. 2019

As sobrancelhas coletivas levantam-se assim que aparece um novo casal com uma diferença de idades acima de dez anos nos meios de comunicação social.

Se o elemento mais velho da relação for do género feminino, então, os comentários sarcásticos não se fazem esperar. “A sociedade aceita melhor as relações em que a mulher é mais nova do que o homem do que o inverso”, confirma a psicóloga e sexóloga Vânia Beliz.

Os preconceitos são maiores, sim, mas alguém do sexo masculino que se apaixone por uma ou um jovem (ainda que maior deidade) também não escapa às críticas – frequentemente, mais dirigidas à mulher do que ao homem em questão. Nesse caso, a especialista nota que “a sociedade diz que tem de haver algum interesse por trás, que ela se quer aproveitar”.

Embora sejam uma minoria no panorama dos relacionamentos amorosos, cerca de oito por cento dos casais têm um intervalo de idades superior a dez anos. Ainda assim, decidimos esclarecer os estereótipos que lhes estão associados.

Existe algum segredo?

Quando as mulheres são mais velhas do que os(as) parceiros(as), geralmente, têm dificuldade em assumir essas relações. Vânia Beliz conta que “algumas acabam por castrar aquilo que sentem, com medo daquilo que as pessoas possam dizer”.

Continua a associar-se charme aos homens com mais idade e velhice às mulheres da mesma faixa etária – Vânia Beliz, sexóloga

O receio desse julgamento tanto pode levá-las a terminar um relacionamento amoroso ou a vivê-lo em segredo. Por muita autoconfiança e determinação que se tenha, ninguém vive numa bolha tal que seja imune aos efeitos de observações como ‘o que é que faz uma mulher de 50 anos com um homem de 30?’.

Todavia, infelizmente, a sociedade entende que é uma perda de tempo um jovem envolver-se romanticamente com alguém com mais idade do que ele. “Continua a associar-se charme aos homens com mais idade e velhice às mulheres da mesma faixa etária”, afirma a psicóloga e sexóloga.

Às vezes, a defesa é o melhor remédio

De facto, ninguém questionou o envolvimento da advogada libanesa-britânica Amal Alamuddin com o ator norte-americano George Clooney, reconhecido galã do grande ecrã. Já Michael Douglas, 25 anos mais velho que a esposa, Catherine Zeta-Jones, não teve tanta sorte.

O seu aclamado percurso em Hollywood não evitou que a sua relação com a atriz britânica fosse alvo de escrutínio. Ainda este ano, a artista teve de defender o seu relacionamento numa entrevista, durante um evento organizado pelo marido em sua honra.

Pese embora o facto de estarmos a falar de pessoas adultas, o público entende que, em algumas situações, “quando um homem mais velho se envolve com uma mulher jovem, pode estar a haver um aliciamento um aproveitamento”, diz Vânia Beliz.

Normalmente, ainda que tenham mais idade, os homens têm tanto ou mais desejo sexual do que as jovens companheiras – Vânia Beliz

E pisca, pisca

Na realidade, a atração por pessoas com mais idade está ligada a um desejo de se ser compreendido. “Os homens mais velhos têm outra maturidade”, o que pode ajudar a explicar o fenómeno, segundo a psicóloga e sexóloga Vânia Beliz. Inclusivamente, no que toca à sexualidade, parece haver sincronia e equilíbrio.

“Normalmente, ainda que tenham mais idade, os homens têm tanto ou mais desejo sexual do que as jovens companheiras”, refere a especialista. Já o mesmo não pode ser dito em relação aos casais em que a mulher conta mais dígitos na sua cronologia. “Aí, pode haver um desfasamento do desejo”, afirma psicóloga e sexóloga.

Em sintonia

Boas e más intenções existem em todo o tipo de relacionamentos, pelo que é muito injusto associar propósitos menos positivos a relações com intervalos de idade superior a dez anos. “A partir do momento em que se chega à maioridade, a diferença de idades não deve ser um impeditivo, desde que as pessoas gostem mesmo uma da outra”, frisa a psicóloga. Porque, de resto, estes relacionamentos funcionam tal como os outros.

“Importa que os elementos do casal sejam compatíveis, companheiros, que tenham os mesmos interesses e gostos (façam coisas juntos), que tenham valores e objetivos em comum”, conclui Vânia Beliz. Intimidade é a chave.

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