Saber ouvir é peça fundamental na comunicação em relações positivas, próximas e recíprocas e estas estão na base do que é uma vida que merece ser vivida.
Numa viagem de comboio, há uns tempos, assisti sem querer a uma discussão entre duas amigas. Foi mais ou menos assim. “Fazes sempre a mesma coisa. Sempre que te peço um favor, fazes-te de cara. Parece que nunca tens tempo para mim.” dizia uma.
A outra amiga respondia quase a falar por cima: “Tu julgas é que o Universo gira à tua volta e que eu não tenho mais nada para fazer do que ir a correr fazer tudo o que me pedes”.
E a primeira voltava: “Como assim, o Universo gira à minha volta? E daquela vez em que eu fui a única amiga que foi ter contigo quando estavas com a crise depressiva fechada em casa?”. E novamente a segunda: “Crise depressiva? Eu não tenho depressões; lá porque és depressiva por natureza, os outros não têm que o ser”…
E assim continuaram neste registo por vários momentos até que ficaram em silêncio, numa espécie de impasse amargo.
Nesta conversa, nenhuma das duas ouviu a outra; ambas só reagiram, focadas em responder, em atirar de volta, sem sequer perceberem qual a necessidade implícita em cada mensagem.
Estas duas amigas estavam apenas concentradas em si próprias e é por isso que este é um ótimo exemplo de um diálogo que na verdade é a soma de dois monólogos. Mas por que é tão importante a forma como comunicamos?
Os bons relacionamentos são um dos principais ingredientes de uma vida boa. Vivemos mais felizes porque construímos e vivenciamos relações positivas, próximas, significativas e recíprocas, seja com familiares, amigos, colegas de trabalho ou membros de uma comunidade. Mesmo com desconhecidos com quem nos cruzamos no dia a dia; muitas vezes com estes também trocamos momentos de conexão positiva, um olhar sorridente, uma troca amável de palavras.
Há um “segredo” para os bons relacionamentos: saber ouvir. Ouvir, mais do que tudo, é sublinhar a importância do outro, demonstrar que ele conta e que é importante.
Mesmo que não consigamos responder, mesmo que não tenhamos uma solução, só o facto de o compreendermos faz toda a diferença. Porque quem não se sente ouvido, não se sente reconhecido nas suas necessidades.
As relações positivas são necessariamente recíprocas, de partilha e de co-construção e têm, por isso, na sua base, uma intenção mútua de bem-querer e de cooperação.
Quem não ouve não está disponível para o outro, não consegue estabelecer ou manter laços baseados numa reciprocidade despojada. Todos nós, numa dada situação, já falhámos na tarefa de saber ouvir, e também já sentimos a frustração que pode ser não sermos ouvidos.
Confie e dê o primeiro passo. Entre na dança desta comunicação consciente e positiva. Confie que, da próxima vez, será o outro a estar disponível para si da mesma forma, numa dialética de dar e de receber. De dar e receber algo tão precioso e difícil no mundo atual: a nossa genuína e interessada atenção.
5 regras para saber ouvir
• Ouvir com presença. Isto significa largar o telemóvel, parar o que está a fazer, concentrar-se na pessoa que está a falar consigo. Esteja simplesmente disponível para o outro.
• Ouvir com o coração aberto. Liberte-se de juízos de valor e de preconceitos. Não importa o que gostaria de responder prontamente, quais as suas convicções. A pessoa mais importante neste momento não somos nós, é o outro. Um exercício difícil, de humildade e de generosidade, mas muito refrescante.
• Prestar atenção a todos os sinais. Atente a toda a expressão corporal e facial e não apenas às palavras. Para além de focar a sua atenção no que está a ser dito, observe a forma como está ser dito. É o chamado “ler nas entrelinhas”.
O interlocutor apresenta uma expressão ansiosa? Curva os ombros para a frente? Ou, pelo contrário, está entusiasmado e quer partilhar connosco uma emoção positiva?
• Não ter pressa para responder. Não interrompa, deixe falar e no final devolva em forma de resumo o que acabou de perceber. É geralmente aqui que se estabelece a mais importante conexão. Estamos a demonstrar que compreendemos e o outro sente-se compreendido.
• Fazer perguntas. Inteire-se. Interesse-se genuinamente. “Puxe” pelo outro. Se a mensagem é a partilha de uma boa notícia, pergunte por pormenores, prolongue o momento. Se a mensagem é um pedido, tente perceber quais são as reais necessidades do outro, inteire-se do que está por detrás desse pedido.
Sara Midões é uma entusiasta do poder da Empatia e integra a Psicologia Positiva em estratégias de Comunicação & Marketing. Mãe de dois adolescentes, é praticante convicta de yoga. Para mais informações, contactar através do e-mail sara.midoes@gmail.com.