Toque é crucial para o desenvolvimento emocional e cognitivo das crianças
O toque é fundamental para a nossa perceção do mundo e de nós próprios, para a nossa interação com os outros, já para as crianças, é o motor do desenvolvimento emocional e cognitivo.
“O tato é a língua comum a todas as pessoas do mundo e nem nos apercebemos disso”. A autora desta frase é Laura Crucianelli, investigadora do Departamento de Neurociência do Instituto Karolinska, em Estocolmo, que se tem dedicado ao estudo do tato, especialmente a tudo o que diz respeito ao toque afetivo (carícias) e o papel que este tem na nossa própria perceção e na dos outros.
Os estudos que tem desenvolvido mostram que o toque é muito importante e tudo começa ainda dentro da barriga da mãe.
O feto responde com movimentos quando a mãe acaricia a barriga e, para a investigadora, essa comunicação pode ser muito positiva para a regulação afetiva do bebé depois dos nascimento.
Pele com pele
O contacto pele com pele entre pais e o bebé é essencial, porque refaz a sensação de calor e proteção que o líquido amniótico lhe dá durante a gravidez.
“O modo como somos tocados pelos nossos cuidadores tem uma importância crucial, não só para o nosso desenvolvimento emotivo e cognitivo, mas também para a forma como usaremos esta língua socialmente”, diz Laura Crucianelli, na TEDx Talk The Language of Touch (a língua do toque, numa tradução literal).
Uma investigação liderada pela investigadora demonstra que a forma como uma criança de 1 ano é tocada pela mãe numa atividade diária simples, como folhear um livro, ditará a forma como usará o toque no futuro, sobretudo, se a língua que a mãe usar for caracterizada por castigos e restrições.
Já nos anos 90 do século passado, um estudo realizado em orfanatos romenos mostrou que as crianças que tiveram privação tátil nos primeiros anos de vida sentiram mais dificuldades no desenvolvimento emotivo e cognitivo.
Contudo, foi também observado que as que foram depois adotadas por uma família acolhedora e afetuosa viram as consequências negativas de tais carências diminuírem.
Comunicar através da pele
Mas o toque não é só importante na infância. Usamo-lo quotidianamente, quer com conhecidos, quer com desconhecidos, mas, como em qualquer língua, avisa a investigadora, existem diferenças geográficas e culturais no seu uso.
Na TEDx Talk já mencionada, Laura Crucianelli citou estudos que mediram a frequência com que namorados se tocavam em sítios públicos e ficou demonstrado que nos países do Norte se tocam muito menos do que nos do Sul.
‘Os diversos tipos de toque ativam diferentes áreas cerebrais e isso faz com que sejam lidos e interpretados de forma diversa’, Laura Crucianelli.
“O tato tem um valor comunicativo potente que requer proximidade física e contacto, e as nossas investigações provam que as pessoas conseguem percecionar mais acertadamente as intenções dos outros através do tato“, começa por explicar a investigadora italiana.
E acrescenta: “Um toque lento e delicado irá ser provavelmente entendido como suporte e proximidade, já um toque mais veloz será interpretado como um sinal da outra pessoa requerer atenção. Os diversos tipos de toque ativam diferentes áreas cerebrais e isso faz com que sejam lidos e interpretados de forma diversa”.
Tudo isso acontece através da pele, o nosso órgão mais extenso seja em funções seja em dimensão. Quem nunca se sentiu bem com um determinado toque e mal com outro feito de forma inapropriada?
Através do toque, percecionamos emoções e intenções. “Muitas vezes, numa entrevista de emprego, o aperto de mão é tão importante como um CV. Funciona como um cartão de visita”, avisa Laura Crucianelli.