Zooterapia: conheça os novos ‘terapeutas’ de quatro patas para crianças
A zooterapia tem um efeito terapêutico em crianças diagnosticadas com as mais variadas doenças, contribuindo para o seu desenvolvimento emocional, cognitivo, sensorial e motor.
Os cães não são apenas bons amigos para a brincadeira; podem ter um efeito terapêutico nas crianças diagnosticadas com diversas doenças ou problemas cognitivos. Claro que não são eles próprios que são terapeutas, mas os especialistas que utilizam as suas aptidões naturais nas consultas não têm dúvidas de que a sua ajuda é preciosa.
Tanto que a terapia assistida por animais ou zooterapia, como também é conhecida, já existe em escolas, centros educativos, instituições de apoio à deficiência e até em hospitais, com resultados muito positivos.
Este tipo de terapia é usado em “casos de dislexia, paralisia cerebral, síndrome de Down, deficiências raras, défice de visão e audição, perturbações do espectro do autismo (moderado), ansiedade, depressão, dificuldade de aprendizagem, síndrome de hiperatividade e défice de atenção”, referem Catarina Cascais, psicóloga, e Clara Cardoso, gerontóloga, fundadoras da Ladra Comigo, que se dedica quer à terapia assistida por animais – e que faz parte de um processo mais vasto de tratamento – quer a atividades assistidas por animais que têm objetivos motivacionais e educativos.
Competências a trabalhar através da zooterapia
O primeiro a usar esta terapia foi Boris M. Levinson, um psicólogo norte-americano, que, em 1969, no livro Pet-Oriented Child Psycotherapy (Charles C Thomas Pub Ltd), descreveu os benefícios da presença do seu cão nas consultas de psicoterapia que dava.
De acordo com a sua experiência, o animal aumentava o grau de motivação das crianças e jovens e permitia a comunicação entre paciente e terapeuta.
Catarina Cascais e Clara Cardoso trabalham em escolas e outras instituições, além das consultas privadas, sempre em dupla com os cães Miles, Safira, Milú e Fly, há seis anos.
O seu trabalho é sempre feito em parceria com uma equipa multidisciplinar da qual podem fazer parte médicos, fisiatras, fisioterapeutas, terapeutas de psicomotricidade, professores e outros terapeutas que já acompanhem os mais pequenos.
“Antes de se iniciar a terapia, todas as crianças são avaliadas e mediante a problemática apresentada, percebemos se será necessário estarmos as duas presentes ou só uma de nós, escolhemos o cão mais adequado e criamos uma série de atividades que vão ao encontro dos objetivos que queremos atingir.”
Um novo mundo de sensações
O trabalho feito varia muito de caso para caso, no entanto, podem fazer-se atividades que promovam a parte motora, cognitiva e/ou sensorial. “Queremos trabalhar competências como a atenção, a concentração, a comunicação, a memória, a sensibilização, a motricidade fina e grossa, a empatia, o equilíbrio, a postura, a prática de exercício físico e a adequação comportamental, todas elas geralmente problemáticas para estas crianças”, explicam as terapeutas.
“Quando entramos numa sala com um cão, há logo uma chamada de atenção que não haveria se fôssemos sozinhas”, contam Catarina Cascais e Clara Cardoso.
Outro aspeto que faz os mais pequenos ficarem mais atentos é o facto de não saberem o que o cão vai fazer a seguir, algo que não acontece com os adultos com os quais já interagem.
Por outro lado, como realçam as especialistas, “os cães têm sempre o mesmo olhar terno e amoroso, quer os miúdos façam uma coisa bem ou mal, já as microexpressões dos humanos condicionam muito a interação com estas crianças e elas sentem-se mais à vontade com os cães”.
A empatia e a autoconfiança também são estimuladas nas sessões e “quando uma criança com dificuldades de comunicação consegue dizer a um cão para se sentar, ganha confiança e sente-se mais motivada a arriscar”, sublinham as terapeutas.
Os cães são ainda uma fonte inesgotável de estimulação sensorial: “O nariz é húmido, a barriga macia, as almofadinhas das patas são ásperas e usamos isso para as crianças perceberem as diferenças sensoriais”, confirmam a psicóloga e a gerontóloga.
Tratar a brincar com a ajuda da zooterapia
O objetivo é sempre equiparar a terapia a uma brincadeira e nunca a uma consulta. Quando as crianças têm alguma dificuldade motora e precisam de praticar a marcha, mas são muito reticentes, as terapeutas desviam a atenção do seu problema.
“Dizemos que o cão ainda não passeou naquele dia e que está a precisar de o fazer. Esse desvio do foco faz com que deixem de sentir o seu problema, baixem as barreiras, associem a brincadeira e mostrem-se mais disponíveis e predispostas a andar.”
O mesmo acontece quando querem ser mais assertivas: “Temos sempre uma postura bem-disposta, mas quando as crianças se portam mal, dizemos que têm de ser bem-comportadas para que os cães não fiquem assustados; costuma resultar, porque adoram os cães”, exemplificam.
Além das crianças com os problemas já referidos, Catarina Cascais e Clara Cardoso “também têm alguns casos de crianças que não tendo nenhum diagnóstico estabelecido, têm medo ou fobia de cães, e os pais querem que ultrapassem isso para deixarem de ter medo de sair à rua”, referem, acrescentando ainda que também trabalham com idosos.
Quanto à duração da terapia, preferem não arriscar um período de tempo, “mais uma vez, depende muito de caso para caso”.
Benefícios da zooterapia
As crianças sujeitas à terapia assistida por animais apresentam melhorias em áreas como:
• Expressão de emoções;
• Capacidade e comunicação;
• Aumento da concentração e memória;
• Melhoria do funcionamento cardiovascular e respiratório;
• Interação social e interesse;
• Diminuição da libertação de hormonas;
• Diminuição dos níveis de ansiedade e de tensão arterial;
• Alívio de sentimentos de medo e solidão;
• Diminuição da perceção da dor e da ansiedade;
• Aumento do nível de endorfina;
• Estimulação táctil.