“Isto é o proposto, mas as circunstâncias definem a nossa realidade”, este é o asterisco que se lê no final da curta e exclusiva carta do 46 Lisboa, localizado na Praça das Flores. “Este é um não-lugar”, diz-nos Catarina Romano, proprietária, enquanto nos sentamos ao balcão do pequeno, mas acolhedor espaço que recebe os clientes a meia-luz, com música de fundo.
O 46 Lisboa queria nascer em 2020, mas a pandemia não lhe deu asas para isso. Agora, o seu arranque faz-se de forma tímida e com muito a oferecer. Aliás, este é um não-lugar precisamente porque ultrapassa o conceito de restaurante, não fosse ele um sítio para ouvir música, fazer uma festa de aniversário e até mesmo dançar.
Quando entra, é possível que repare nos auscultadores pendurados que estão do seu lado esquerdo. Se a ideia for só beber um copo, então, pegue na bebida e leve os auscultadores consigo para o lado exterior e oiça a curadoria do Dj Mike Stellar, também conhecido como Miguel Bello, o artista escolhido para o reportório que passa neste espaço.
É impossível não observarmos o minimalismo ao vivo do 46 Lisboa. Ao contrário do esperado, o projeto foi levado a cabo por um ceramista e não por um arquiteto, e talvez seja aqui que a atenção ao detalhe e o bom-gosto sejam levados mais a sério.
Das paredes ao chão, tudo é forrado numa alcatifa bege, um balcão do mesmo tom e uma casa de banho que preferimos manter em segredo (pois merece a sua visita).
Mas vamos à comida
Na carta do 46 Lisboa há uma “margem para o erro”, como nos disseram. Não se procura a perfeição, mas sim o diferente e o arriscado. Por isso, aconselhamo-la a dividir alguns pratos, em vez de seguir o tradicional (falamos da entrada, do prato principal e da sobremesa, ainda que o último tenha mesmo ficado para o fim).
Este é um espaço que respeita o impacto consciente e aposta numa ementa feita exclusivamente a partir de ingredientes biológicos, de fornecedores locais, que apresenta novas opções vegetariana e vegan. Posto isto, é imprescindível experimentar a burrata trufada com trufas, pesto, tomate cherry e azeite bio (12€), os dumplings vegetarianos (12€), os raviolis Girasoli de gorgonzola e pêra (12€) e o hot dog 46 com pão brioche, salsicha merguez, tzatziki, picle cebola e batata palha (10€). Para terminar, a panacotta de maracujá (8€) será a opção certa.
Também a carta de bebidas tem dedo de especialista. Nuno Faria, um dos sócios e responsáveis pelo 100 Maneiras, preparou uma carta com: champanhe, espumante, bebidas espirituosas, cocktails com e sem álcool, kombucha vegan, vinhos naturais e biológicos e ainda uma cerveja envolvida numa manga de papel reciclado polvilhada com sementes de hortelã para semear em casa.
Também a maquilhagem dos colaboradores tem arte. Antónia Rosa, maquilhadora profissional responsável pela makeup da ModaLisboa e centenas de editoriais de moda, desenvolveu a maquilhagem dos colaboradores do 46 Lisboa.
O conceito do 46 Lisboa consegue ir mais além. Aos sábados de manhã, por exemplo, pode aproveitar o Green Club, uma experiência musical que acontece das 11h às 15h com DJ’s ou música ao vivo, acompanhada pela comida vegetariana e vegan do restaurante.
É ainda possível alugar o espaço a título pessoal, para uma festa ou aniversário, por exemplo, mas também este é um lugar para pensadores, projetos e artistas que queiram dar a conhecer o seu trabalho.
Há muito a dizer sobre um espaço que está a emergir entre tantos outros na capital. O que o diferencia é o seu conceito, mas percebê-lo passa por visitá-lo, e é isso que a aconselhamos a fazer. Pela comida, pela música, pela arte e pelo intimismo.
Onde: Praça das Flores, 46, 1200-192 Lisboa
Horário: Aberto de terça-feira a sexta-feira, das 18h às 23h e sábado das 11h às 15h e das 18h às 23h.
Contacto: 937 784 390.