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Ararate: o primeiro restaurante arménio chegou a Portugal

Ararate: o primeiro restaurante arménio chegou a Portugal

Lisboa conta com mais um espaço dedicado às comidas do mundo. Ararate é o primeiro restaurante arménio do País e está pronto para conquistar os portugueses com paladares intensos.

Por Out. 31. 2018

Tenho uma queda por restaurantes de comidas do mundo. Era a experimentar estes espaços que eu e o grupo das melhores amigas da faculdade celebrávamos a amizade todos os meses.

Depois de terminar a licenciatura, reuníamos as quatro uma vez por mês para contar as novidades em conversas que duravam até o restaurante fechar. Provar iguarias tradicionais de diferentes países fazia-nos viajar e sonhar.

A abertura do Ararate poderia ser uma excelente desculpa para voltar a estes míticos jantares. O primeiro restaurante da Arménia em solo português abriu há dois meses e já superou as espetativas da proprietária. “Encomendámos 80 kgs de folhas de videira da Arménia e já não temos. Nunca pensámos que iriam acabar tão depressa”, explica Karine Sarkisyan, a proprietária, num português quase perfeito.

A entrada do Ararate, na Avenida Conde Valbom, 70, em Lisboa

As folhas de videira são um dos ingredientes que chegam diretamente da Arménia para as mãos do chef Andranik Mesropyan, responsável pela cozinha. No Ararate, a gastronomia é tradicional da Arménia, mas isso também significa que inclui influências das suas várias fronteiras. Do Oriente incorpora os temperos exóticos, da Ásia Central traz o grão, da Turquia aplica a técnica de grelhar carne em carvão e da Europa absorve a diversidade de legumes e verduras.

Se acha que, por isso, o que vai encontrar à mesa do Ararate é totalmente distinto do que está habituado, desengane-se. Na verdade, a cozinha mediterrânica está também na base da gastronomia arménia, tal como na portuguesa. Há uma sopa de grão que nos recorda o Alentejo e um ensopado de borrego que também é familiar, mas com temperos mais intensos.

A culpa é das especiarias. “Os sabores na Arménia são ainda mais intensos. Lá usamos mais tomate, mais especiarias… aqui tentámos suavizar um pouco, para não chocar tanto”, explica Karine, que se rendeu a Portugal logo na primeira visita, quando estava de lua de mel, há 12 anos. Nos planos da empreendedora arménia, que também detém o restaurante de cozinha tradicional portuguesa D. Afonso – o Gordo, está fazer uma experiência com pratos mais puros no Ararate uma vez por mês. “O prato dos miúdos é o mais próximo” da cozinha tradicional arménia, revela-nos Karine.

Uma das paredes do interior do Ararate, onde as refeições se querem partilhadas.

Mas chega de história. Vamos para a mesa do Ararate?

Há carnes cozinhadas a baixa temperatura, sobretudo borrego, vitela e vaca, mas também há peixe (estrujão e truta). Há sopas e ensopados, enchidos tradicionais com um sabor mais fumado, devido ao grelhador típico do país (a grelha quase toca no carvão e as cinzas intensificam o sabor), que teve de vir de Espanha. Há beringela, pimento, tomate, cebola e um pimentão doce delicioso que os avós de Karine enviam diretamente para Portugal. E tudo se partilha.

A ementa divide-se em Padaria, Petiscos (sopas, saladas, tapas e entradas), Ensopados e Estufados, Espetadas e Sobremesas e está preparada para nos conquistar logo ao primeiro olhar, com fotografias fidedignas de cada prato.

Na secção de padaria, aquilo que não pode mesmo deixar de provar é o Khachapuri Barco, um pastel tradicional com queijo e ovo que se desfaz a cada dentada. Funciona bem como entrada e o ideal é partilhá-lo com uma ou duas pessoas.

Khachapuri Barco, 7,5€

Quando chegamos aos petiscos, a escolha começa a ser mais difícil. O Tabulé, uma salada de bulgur com tomate picado e salsa, servida em folhas de alface, é uma opção fresca e suave.

A tábua de enchidos tradicionais fumados é um incontornável. Inclui Sudjuk, um tipo de salsicha seca dura, feita de carne picada e gordura com adição de especiarias, e Basturma, um file-mignon seco envolto também em especiarias.

Salada de bulgura Tabulé, 6€

Tjvjik é quase impossível de pronunciar, mas este guisado de miúdos é umas das personificações máximas dos sabores da Arménia a degustar no Ararate (foto de destaque). A palavra significa fígado, mas dentro do pequeno tacho de barro vai encontrar outros miúdos de cordeiro ou vitela e uma generosa porção de cebola e tomate. Aqui o pimentão doce faz-se notar bem: uma viagem degustativa inesquecível!

Se preferir algo mais leve, talvez deva decidir-se pelo Khinkali, os saquinhos de massa recheados com carne picada. Mas cuidado ao trincar: o saboroso caldo aromático escorrerá do interior sem tréguas!

Já nos ensopados, o Putukh é um dos favoritos da gastronomia arménia. A tal sopa de grão, que já falámos em cima, inclui lombo de borrego, grão, bulgur e legumes, tudo servido numa caçarola de barro, coberta com uma tampa feita de pão muito fininho.

Sopa de grão de bico Putukh, 16€

Será uma pena fazer esta viagem sem uma paragem nas espetadas de carnes – as chamadas Khorovats (ou Shashlik), incluindo o famoso kebab, ou Khabab, como se diz na Arménia. Há um grande respeito pela carne na Arménia e a forma como esta é limpam é deveras impressionante, explicam-nos, enquanto as tábuas de madeira, feitas à mão especialmente para o Ararate, chegam à mesa.

Na verdade, grande parte dos objetos de madeira que vemos no restaurante de Karine – mesas, facas, tábuas, portas – foram todos feitos pelo Sr. António, um artesão português da Rebordosa.

Espetadas de carne Khorovats, entre 13€ e 19€

Não era possível terminar esta degustação sem passar pelas sobremesas. Se só puder escolher uma e quiser a mais tradicional, é a Pakhlava que deve vir para a mesa. Feita de massa folhada e nozes, tem um intenso sabor a mel, canela e cravinho. Mas a secção de doces do Ararate também inclui gelados caseiros, uma tarte de merengue muito gulosa e um bolo de mel com creme de leite (excelente candidato a segunda opção!).

“Abrir um restaurante de comida diferente sem conhecer os gostos [dos nativos], não dá. É preciso vir cá, conhecer e perceber”, diz-nos Karine. Isto para explicar que, antes de se aventurar num espaço focado na gastronomia das suas raízes, quis abrir abrir um restaurante de cozinha típica portuguesa.

Valeu a pena a avaliação dos paladares portugueses para termos um Ararate em Lisboa. E nos planos de Karine já existe a ideia de abrir um segundo restaurante. Onde? No Porto.

 


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