Ararate: o primeiro restaurante arménio chegou a Portugal
Lisboa conta com mais um espaço dedicado às comidas do mundo. Ararate é o primeiro restaurante arménio do País e está pronto para conquistar os portugueses com paladares intensos.
Tenho uma queda por restaurantes de comidas do mundo. Era a experimentar estes espaços que eu e o grupo das melhores amigas da faculdade celebrávamos a amizade todos os meses.
Depois de terminar a licenciatura, reuníamos as quatro uma vez por mês para contar as novidades em conversas que duravam até o restaurante fechar. Provar iguarias tradicionais de diferentes países fazia-nos viajar e sonhar.
A abertura do Ararate poderia ser uma excelente desculpa para voltar a estes míticos jantares. O primeiro restaurante da Arménia em solo português abriu há dois meses e já superou as espetativas da proprietária. “Encomendámos 80 kgs de folhas de videira da Arménia e já não temos. Nunca pensámos que iriam acabar tão depressa”, explica Karine Sarkisyan, a proprietária, num português quase perfeito.
As folhas de videira são um dos ingredientes que chegam diretamente da Arménia para as mãos do chef Andranik Mesropyan, responsável pela cozinha. No Ararate, a gastronomia é tradicional da Arménia, mas isso também significa que inclui influências das suas várias fronteiras. Do Oriente incorpora os temperos exóticos, da Ásia Central traz o grão, da Turquia aplica a técnica de grelhar carne em carvão e da Europa absorve a diversidade de legumes e verduras.
Se acha que, por isso, o que vai encontrar à mesa do Ararate é totalmente distinto do que está habituado, desengane-se. Na verdade, a cozinha mediterrânica está também na base da gastronomia arménia, tal como na portuguesa. Há uma sopa de grão que nos recorda o Alentejo e um ensopado de borrego que também é familiar, mas com temperos mais intensos.
A culpa é das especiarias. “Os sabores na Arménia são ainda mais intensos. Lá usamos mais tomate, mais especiarias… aqui tentámos suavizar um pouco, para não chocar tanto”, explica Karine, que se rendeu a Portugal logo na primeira visita, quando estava de lua de mel, há 12 anos. Nos planos da empreendedora arménia, que também detém o restaurante de cozinha tradicional portuguesa D. Afonso – o Gordo, está fazer uma experiência com pratos mais puros no Ararate uma vez por mês. “O prato dos miúdos é o mais próximo” da cozinha tradicional arménia, revela-nos Karine.
Mas chega de história. Vamos para a mesa do Ararate?
Há carnes cozinhadas a baixa temperatura, sobretudo borrego, vitela e vaca, mas também há peixe (estrujão e truta). Há sopas e ensopados, enchidos tradicionais com um sabor mais fumado, devido ao grelhador típico do país (a grelha quase toca no carvão e as cinzas intensificam o sabor), que teve de vir de Espanha. Há beringela, pimento, tomate, cebola e um pimentão doce delicioso que os avós de Karine enviam diretamente para Portugal. E tudo se partilha.
A ementa divide-se em Padaria, Petiscos (sopas, saladas, tapas e entradas), Ensopados e Estufados, Espetadas e Sobremesas e está preparada para nos conquistar logo ao primeiro olhar, com fotografias fidedignas de cada prato.
Na secção de padaria, aquilo que não pode mesmo deixar de provar é o Khachapuri Barco, um pastel tradicional com queijo e ovo que se desfaz a cada dentada. Funciona bem como entrada e o ideal é partilhá-lo com uma ou duas pessoas.
Quando chegamos aos petiscos, a escolha começa a ser mais difícil. O Tabulé, uma salada de bulgur com tomate picado e salsa, servida em folhas de alface, é uma opção fresca e suave.
A tábua de enchidos tradicionais fumados é um incontornável. Inclui Sudjuk, um tipo de salsicha seca dura, feita de carne picada e gordura com adição de especiarias, e Basturma, um file-mignon seco envolto também em especiarias.
Tjvjik é quase impossível de pronunciar, mas este guisado de miúdos é umas das personificações máximas dos sabores da Arménia a degustar no Ararate (foto de destaque). A palavra significa fígado, mas dentro do pequeno tacho de barro vai encontrar outros miúdos de cordeiro ou vitela e uma generosa porção de cebola e tomate. Aqui o pimentão doce faz-se notar bem: uma viagem degustativa inesquecível!
Se preferir algo mais leve, talvez deva decidir-se pelo Khinkali, os saquinhos de massa recheados com carne picada. Mas cuidado ao trincar: o saboroso caldo aromático escorrerá do interior sem tréguas!
Já nos ensopados, o Putukh é um dos favoritos da gastronomia arménia. A tal sopa de grão, que já falámos em cima, inclui lombo de borrego, grão, bulgur e legumes, tudo servido numa caçarola de barro, coberta com uma tampa feita de pão muito fininho.
Será uma pena fazer esta viagem sem uma paragem nas espetadas de carnes – as chamadas Khorovats (ou Shashlik), incluindo o famoso kebab, ou Khabab, como se diz na Arménia. Há um grande respeito pela carne na Arménia e a forma como esta é limpam é deveras impressionante, explicam-nos, enquanto as tábuas de madeira, feitas à mão especialmente para o Ararate, chegam à mesa.
Na verdade, grande parte dos objetos de madeira que vemos no restaurante de Karine – mesas, facas, tábuas, portas – foram todos feitos pelo Sr. António, um artesão português da Rebordosa.
Não era possível terminar esta degustação sem passar pelas sobremesas. Se só puder escolher uma e quiser a mais tradicional, é a Pakhlava que deve vir para a mesa. Feita de massa folhada e nozes, tem um intenso sabor a mel, canela e cravinho. Mas a secção de doces do Ararate também inclui gelados caseiros, uma tarte de merengue muito gulosa e um bolo de mel com creme de leite (excelente candidato a segunda opção!).
“Abrir um restaurante de comida diferente sem conhecer os gostos [dos nativos], não dá. É preciso vir cá, conhecer e perceber”, diz-nos Karine. Isto para explicar que, antes de se aventurar num espaço focado na gastronomia das suas raízes, quis abrir abrir um restaurante de cozinha típica portuguesa.
Valeu a pena a avaliação dos paladares portugueses para termos um Ararate em Lisboa. E nos planos de Karine já existe a ideia de abrir um segundo restaurante. Onde? No Porto.
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