É autora de três livros, professora de meditação, instrutora de ioga, mestre em Reiki e facilitadora de retiros espirituais. Assim poderíamos descrever Rute Caldeira, mas resumiríamos melhor a sua missão ao dizer alguém que nos quer guiar até à nossa verdadeira natureza.
É no seu pequeno templo de madeira, com vista para a serra de Sintra e para o mar, que a conversa flui, cheia de energia. Rute está sentada de pernas cruzadas, com um ar sereno e de olhos a brilhar. Peço-lhe para desenrolar o seu novelo e me contar a sua história. Sem nós. O ponto de partida (e de chegada)? A meditação.
É ela o objeto principal do seu novo livro, O Poder da Meditação – depois de Liberta-te de Pensamentos Tóxicos (2016) e Simplifica a Tua Vida (2017, ambos Manuscrito) -, que pretende ser um guia completo sobre meditação. Mas não só. “Este livro é um murro na mesa para quem acha que a meditação só está disponível para os monges que vivem em mosteiros, que a meditação cala pensamentos e esconde emoções, que a meditação nos coloca em posição de perfeição ‘dos santos que estão nos altares’. É absolutamente o contrário disso”, lê-se logo no primeiro capítulo.
Rute Caldeira formou-se em Comunicação Social e Cultura, com mestrado em Comunicação, Organização e Novas Tecnologias, pela Universidade Católica. De um case study da área da saúde, rapidamente passou a estudiosa da mente humana e da sua complexidade. Uma doença levou-a a interessar-se pelas terapias alternativas e foi sobretudo na prática meditação que encontrou as respostas que procurava.
Este é o seu terceiro livro. De que é que trata?
O livro chama-se O Poder da Meditação e lá as pessoas vão encontrar, de A a Z, tudo sobre meditação, incluindo meditações ativas, meditações de silêncio, meditação para os 7 dias da semana. Foi o livro mais exigente que já escrevi, porque não queria que fosse um manual. Queria que me mantivesse a falar com o leitor, como os outros.
O que está a fazer neste momento? Só meditações ou ainda dá aulas de ioga?
Tive de optar. A minha paixão gigante é mesmo a meditação. O ioga é excelente em termos individuais, mas quando se trata de facilitar, de dar uma aula, a minha paixão é a meditação. Dava por mim numa aula sem dar pelo tempo passar e continua a ser assim até hoje. Tive de fazer escolhas, porque não conseguia estar dedicada ao ioga, à meditação, aos retiros, à própria escrita, aos workshops, o facto de que agora também estar fora de Portugal, com grupos… Agora o meu trabalho está somente dedicado aos grupos. São mesmo muito específicas as pessoas que acompanho, porque não consigo dar mais resposta. E porque sinto que o meu caminho é este: ensinar as pessoas para que não fiquem dependentes de um terapeuta, para levarem para casa as ferramentas que fizeram diferença – e continuam a fazer – na minha vida.
Pode descrever um pouco esse trabalho com os grupos?
Trata-se sobretudo de retiros. Marrocos, Índia, também estive no Nepal. Há magnetismo, as pessoas ganham muito quando há duas pessoas ou três a fazer este trabalho, que acabou por não ficar concentrado só em Portugal. Sabemos que aqui, fazemos uma meditação ao final do dia, mas no dia seguinte temos a nossa rotina. Quando uma pessoa faz isto concentrado numa viagem, em que não existe mais nada, a intensidade é muito maior e conseguimos ver resultados num curto período de tempo. Por exemplo, tive com um grupo em Marrocos, no deserto, fizemos mesmo um retiro lá, onde acordávamos e tínhamos prática de ioga, meditação, etc. E num curto período, é incrível aquilo que acontece ao corpo!
Como é que a meditação entra na sua vida?
Ainda estava na faculdade quando iniciei a prática da meditação. Fui diagnosticada com endometriose aos 21 anos de idade e talvez com 22 anos, conheço uma homeopata, que já não se encontra entre nós, que me passa para a mão um livro. Isto é muito engraçado… Ela não me deu só o livro para mão, mas também a responsabilidade. Ela fez-me a seguinte pergunta: “já te perguntaste qual a razão para estares doente?”. Nunca ninguém me tinha perguntado aquilo!
Como reagiu?
Primeiro foi um choque, porque estava num profundo sofrimento. Tinha mesmo muitas dores e desmaiava. Quando tinha a menstruação, não ia à faculdade nem trabalhava. Para uma mulher que passa por isto – e ainda existem muitas! -, é muito complicado, porque não tens empresas a compreender que vais faltar todos os meses porque o teu corpo não aguenta. É não só muito violento ao nível físico, mas também emocional. Então quando fui diagnosticada, aparece esta “luzinha” e faz-me aquela pergunta, que na altura me pareceu violenta, mas que me fez ficar a noite toda a pensar. Para além de ela me dar a medicação homeopática, passou-me num documento uma série de respirações e recomendações, como caminhar num jardim descalça, fechar os olhos, fazer afirmações positivas para o meu corpo e deixar-me ficar ali… Não fazia ideia de que aquilo era uma prática de meditação. Quando ouvimos os médicos dizerem “não há nada a fazer”, “vais passar o resto da tua vida assim”, “tens de fazer uma pílula contínua e não menstruar”, é muito duro, sobretudo para uma jovem de 21 anos. Até vindo de mulheres, que foi algo que me chocou imenso. Disseram-me uma frase: “vai levar esta doença para a cova”. Com o conhecimento que tenho hoje em dia da mente, isto preocupa-me. Eu tive ferramentas para desprogramar, mas ainda sei a frase de cor. Marca! E o problema é que há mulheres que não têm ferramentas para sair daí e gravam de tal maneira isto como uma assinatura mental, que já nem sequer tentam nada. De facto, esta homeopata deu-me um outro tipo de visão. Também agradeço, porque tive médicos maravilhosos e a medicina convencional continua a ser importante. São tudo medicinas complementares.
Como é que este tipo de trabalho pode ajudar na luta contra uma doença?
A homeopata pediu-me para fazer um detox de três meses, a todos os níveis. Tive de estar aqueles meses sem comer carne nem peixe, tinha frutas e legumes que não podia tocar…
Mas tinha uma alimentação má?
Sim, tinha (risos). Hoje em dia tenho essa consciência. Comia muito glúten, que é um grande inimigo para qualquer pessoa, mas sobretudo para mulheres com endometriose, porque é altamente inflamatório. Não tinha consciência que os açúcares aumentavam muito o fluxo menstrual e aumentam as dores… Tudo isto fazia parte da minha alimentação. Portanto, a homeopata passa-me esta dieta de três meses, a medicação natural e, em conjunto, a prática da meditação que fiz todos os dias afinco, à mesma hora, em jejum. Os meus pais já sabiam, era muito cedo e se me vissem no jardim, não falavam comigo, aquela era a minha hora. Fisicamente, senti grandes diferenças ao final de três meses. Mas emocionalmente, ao final de uma semana, uma mulher que não tinha energia nenhuma, estava a ter energia para fazer as coisas; uma pessoa que estava debilitada, caída, ao fim de uma semana muda, como se despertasse dentro de mim uma capacidade de ser criança. De repente, estava mais recetiva ao som dos pássaros que ouvia no jardim dos meus pais, recetiva à relva, à respiração, estava muito calma.
Como conseguiu disciplinar-se?
Funcionamos muito por fuga à dor. Se há tanta coisa que queremos fazer e pensamos nos estados que temos estado até então, de dor, de não conseguir trabalhar, e não quereros passar o resto da vida assim, e alguém nos diz: ‘assuma este compromisso, mas isto depende de si’, então pensamos ‘eu quero realmente ser saudável, vou agarrar nisto com toda a fé e compromisso’. E foi assim durante três meses, aliás muito mais, porque continuo, e tenho hoje 35 anos. Depois foi um vício, quanto melhor me sentia, mais vontade tinha de comer bem, de respirar bem e de pensar bem. Tomei consciência de que a minha condição física era um espelho da minha condição emocional. Estava numa constante falta de vida, e esta zona do nosso corpo – o útero – está muito ligada à vida e ao prazer de viver. Eu estava completamente virada para o não prazer de viver.
Será preciso acontecer sempre algo marcante para despertarmos essa consciência?
Felizmente, não. Talvez as pessoas que se dedicam a este trabalho tenham histórias muito impactantes, às quais eu agradeço. Não teria esta consciência tão grande do que somos se não tivesse passado pelo que passei. Tinha uma endometriose de grau 4, grave, o último estágio. Tinha uma massa que envolvia intestinos, ovários, todos os órgãos reprodutores. E passados três meses, isso tinha desaparecido. O que os médicos disseram foi que iam retirar o quisto, mas que não podiam retirar mais nada, porque estariam a retirar-me a possibilidade de ser mãe. Fui operada para tirar o quisto e ninguém mexeu na massa. Mas ela desapareceu com este trabalho incrível de alimentação, meditação, ativação do meu corpo a outro nível. Isso fez com que fosse estudar a mente humana e percebesse que, sim, o efeito placebo existe, está explicado pela neurociência, precisamente pelos químicos que produzimos cerebralmente. Mas também temos o poder de criar a doença. E se temos o poder de criar a doença, também temos o poder de criar saúde.
Como é que os médicos reagiram?
A médica disse-me que eu nunca tinha tido endometriose. Rejeitou acreditar que aquilo era possível. Ela disse-me: ‘é impossível, porque a endometriose é uma doença que não tem cura e os seus ovários estão lindos’ – que era uma coisa que eu nunca ouvia. Tinha anos de registos de entrada nos hospitais desmaiada, tinha o diagnóstico, o relatório médico da massa que existia… Ela rejeitou e pronto. Não quis ouvir o que eu tinha feito, mas já tive médicas que quiseram. Aliás, a Escola Superior de Saúde de Leiria organizou um colóquio ligado à ginecologia e pediu-me para dar uma palestra sobre a endometriose e sobre o que eu fazia até hoje. Estava a dar a palestra no meu 4º dia de menstruação, como se nada fosse, e partilhei isso com a audiência. O que é certo é que é uma doença progressiva e a tendência é sempre piorar e não regredir. Eu vim mostrar o contrário.
Voltando à questão inicial…
…se é necessário acontecer sempre algo trágico, a resposta é não. Até porque agora conheço muitas pessoas através dos retiros, dos workshops e das meditações, e não lhes está a acontecer algo trágico. Ou seja, não foi uma perda de alguém, por exemplo. O que sentem é que está a faltar-lhes alguma coisa na vida, ou que o stresse é em demasia, estão a sentir-se insatisfeitas e não se estão sentir vivas. Quer dizer, não podemos considerar isto trágico, mas é algo que abana! Portanto, estou a lidar com muitas pessoas com uma inquietude e que se estão a virar para a meditação sem ter de chegar a isso [algo trágico], e eu acho maravilhoso.
É uma pessoa religiosa?
Era católica. Falo no passado porque as religiões deixaram de fazer sentido para mim, embora as respeite muito. Todas têm coisas boas para nos ensinar, mas faz-me muito mais sentido a palavra espiritualidade, porque não nos impõe regras. Não nos faz acreditar que, se nos comportarmos de certa maneira, vamos para o Céu e de outra, para o Inferno. Apenas diz que temos o livre-arbítrio, temos uma grande liberdade de escolha e que, seja ela qual for, vai-nos trazer sempre uma aprendizagem. Portanto, vai ser sempre bom. Mesmo quando nós consideramos que não é, vai ser sempre bom porque vamos fazer diferente a partir dali. Deixei de estar ligada a qualquer tipo de religião, mas acredito muito em Deus – umas vezes digo Deus, outras Universo. Acredito em algo superior que nos conduz, e que naquelas alturas em que não há saída, alguma coisa – que eu não sei o que é – nos mostra um sinal, um caminho. Essa é a minha crença.
Todos temos a capacidade de meditar? É preciso algum dom?
Todos conseguimos meditar. Hoje posso dizê-lo, já lá vão sete anos de trabalho dedicada. Tinha pessoas que chegavam e diziam ‘eu já tentei e não consigo meditar’. A única questão é que as pessoas não sabem ainda o caminho para chegar à meditação. Mas existem práticas específicas muito simples para entrar num estado de concentração. E depois disso, ficamos preparados para meditar. Isto pode ser através de uma catarse, por exemplo. As meditações ativas funcionam muito bem no nosso mundo. Elas permitem o cansaço do corpo físico. Se nos cansamos fisicamente, a mente deixa de dispersar com o que acontece lá fora, com as tarefas e com o que há para fazer, permitindo uma quietude em ambos os estados, a físico e a mental. Então já é mais fácil entrar nesse modo meditativo. Também há muitas pessoas que pensam que não conseguem meditar porque acham que é parar a mente. Não é! Há vários tipos de meditação: passiva, ativa, budista, vipassana, meditação através dos mantras, através da visualização… tudo isto são práticas e técnicas para chegar a esse estado. Em todas elas, a ideia não é parar a mente, é estarmos num absoluto estado de presença do que acontece dentro de nós.
“A meditação é mais do que ficar 15 minutos ou uma hora sentadas. É um estado de consciência para o resto das tarefas do dia a dia. E nós estamos no oposto”
Isso vai de encontro ao mindfulness, o contrário de vivermos em piloto automático?
Sim. Acho que somos – e continuamos a ser – formatados para o piloto automático. Porque assim funcionamos como máquinas, produzimos mais. Quando há um conhecimento adquirido (por exemplo, ao conduzir, às vezes chegamos a um sítio e não sabemos como), já não pensamos como o fazemos, só fazemos. A isso chama-se o nosso inconsciente competente, e quando o adquirimos, já ninguém pensa, só faz. Portanto, estamos a assemelhar-nos mais a máquinas ou computadores, do que propriamente a seres humanos. Mas isso também está a impactar-nos de modo a que as pessoas digam “eu já não consigo viver desta forma”, porque não faz parte da nossa natureza.
No fundo, tivemos de chegar a este ponto para conseguir perceber que não é o que queremos.
Quando começamos a meditar, o estado de meditação pode ser levado para tudo na nossa vida: quando estamos a escrever em frente ao computador, conseguimos perceber como está a nossa respiração; quando estamos a cozinhar, conseguimos perceber como estão os nossos pensamentos -estou calma? Estou agitada?. É um treino! Quando comemos, estamos a comer; quando conversamos, estamos a conversar; quando amamos, estamos a amar. Estamos num estado de presença. A meditação é mais do que ficar 15 minutos ou uma hora sentadas. A meditação é um estado de consciência para o resto das tarefas do dia a dia. E nós estamos no oposto: quando comemos, estamos a ver o telemóvel, quando conversamos com alguém, estamos a pensar noutra coisa…
A culpa é do multitasking! E dizem que nós, mulheres, somos boas nisso. Mas a que custo?
Sim, realmente os homens nisso são melhores. Para a nossa mente é muito agressivo. Augusto Cury fala muito sobre isso através do Síndrome do Pensamento Acelerado. Chama-se o SPA, mas não o spa bom, das massagens. Existem muitas coisas que tornam o nosso pensamento demasiado acelerado – os telemóveis, os computadores, a televisão – porque são ferramentas de trabalho hoje em dia, porque somos invadidos por muitos estímulos a entrar e para que o nosso cérebro assimile tudo, as ondas cerebrais disparam. Tem muito a ver com a quantidade de informação que recebemos, com o ruído. Quando entramos neste SPA, por vezes chegamos à cama, queremos ter um sono reparador e não conseguimos. Porquê? Porque não sabemos reduzir as ondas cerebrais. A meditação é excelente para isso. A meditação traz-nos para as ondas mais baixas que existem e permite-nos atingir estados profundos de relaxamento e, depois, de sono.
Qual considera ser o maior benefício da meditação?
Vou dizer isto, porque é o subtítulo do meu livro e porque acreditar ser mesmo o grande benefício da meditação: ela leva-nos à nossa verdadeira natureza. Nós saímos da nossa verdadeira natureza, porque a natureza humana é muito calma. Se olharmos para um bebé, vemos a sua natureza. Ele chora quando tem fome, porque tem de ter alguém para cuidar dele, mas os olhos são de uma pacificidade incrível. Só passamos pela ansiedade, irritabilidade, porque estamos a ser violentados com estes ruídos todos à nossa volta. Mas a natureza humana é altamente pacífica, amorosa e compassiva. Quando começamos a meditar, atingimos diariamente estes estados de compassividade. Estamos muito calmas, mais centradas, as coisas acontecem mas, em vez de vermos sempre o copo vazio, vemos muitas soluções à nossa frente.
A meditação também está interligada com a nossa inteligência emocional?
Sem dúvida e também se explica ao nível científico. O nosso pensamento quando está acelerado é uma orquestra desafinada. Podemos mesmo ver isso cá dentro, através dos circuitos neurológicos que abrimos. Portanto, o cérebro está a receber não sei quantos estímulos e precisa de fazer algo quanto a isso. Mas como a mente não está separada do corpo, são estímulos que são enviados para todos os nossos órgãos internos. Temos depois a produção por defeito ou excesso das glândulas endócrinas, as quais vão produzir hormonas (por excesso ou por defeito). Adoro esta definição de Joe Dispenza, um neurocientista que explica o poder da meditação: “somos engenheiros do nosso próprio corpo”. A questão é que o que está a acontecer na cabeça, não está a passar-se só ao nível mental, mas por todo o corpo.
As pessoas têm consciência disso?
Não, é inconsciente. Estamos a pensar de forma inconsciente e a meditação põe-nos a pensar de forma consciente. Como são muitos estímulos, está tudo a acontecer dentro da cabeça, mas não nos apercebemos. E quando começamos a estar conscientes, apercebemo-nos das não sei quantas autoestradas. É uma IC19 em hora de ponta (risos)!
Qual é o primeiro passo para começarmos a meditar?
É um comprometimento: fazer uma mas depois não desistir, porque a meditação coloca-nos primeiro com um contacto que não estamos habituadas. Curiosamente, o que as pessoas mais estranham é ter um contacto consigo próprias, por isso é que digo que o principal benefício é o regresso à nossa natureza. Mas também não aconselho a começar sozinha. Se a pessoa meditar quando chega a casa num dia muito acelerado, pode ser contraproducente. Imaginemos que tem um dia realmente exigente e sente que está mentalmente muito agitada. Se se sentar, puser uma música a tocar e começar a meditar, vai se assustar, porque verá a IC19 em hora de ponta. E pode acontecer uma coisa: gerar mais stresse. Em vez de acalmar, é frustrante. E as pessoas depois desistem. Antes de começar a meditar, precisamos de ter práticas de concentração. Temos de começar pela respiração, porque ela leva-nos lá. Acho que é muito importante as pessoas pesquisarem no Youtube, terem livros que as possam guiar. Não fazerem isso de repente – sentar, fechar os olhos e meditar.
Como é que a meditação impacta a saúde do corpo, sobretudo com base na sua experiência?
Isto é um estudo contínuo, mas comecei a olhar para as coisas e as fichas caíam-me. De ‘meditação’ para ‘medicação’, muda apenas uma única letra. Para mim a meditação é uma medicação natural. E é uma tecnologia à nossa disposição que trabalha de uma forma muito harmoniosa com a tecnologia topo de gama que é o nosso corpo. A partir dos circuitos neurológicos que se abrem, das sinapses que se disparam em termos cerebrais, geram-se as boas ou as más hormonas: o cortisol, ligado ao stresse, ou as tão conhecidas serotonina e melatonina. Há várias coisas que produzimos que nos fazem bem ou, por outro lado, que podem ser uma autêntica bomba atómica para o corpo. O que faz a meditação é, em vez de estarmos a violar constantemente o cérebro com ruídos, pensamentos e emoções violentos, transformamos o cérebro numa orquestra afinada. Reduzimos as ondas cerebrais, que, por sua vez, fazem reduzir o ritmo cardíaco, por exemplo. Há outros exemplos além do meu caso. Deepak Chopra, um médico que está ligado à medicina aiurvédica e vende livros por todo o mundo, fala muito dos casos de hospitais que atendeu na Índia, de pessoas com diagnósticos de morte e que, por milagre, se curaram e estão vivas até hoje. O que é que acontece nesses casos? Muitas vezes pessoas com doenças terminais descobrem a meditação e não recuperaram totalmente ao ponto de não perder a vida, mas descobrem coisas incríveis e percebem até as causas que as levaram a ficar doentes. A meditação é, sem dúvida, uma medicação ao nosso dispor, porque também nos regula ao nível hormonal. Precisamos de melatonina para dormir bem, mas também para sermos férteis, no caso da mulher, por exemplo.
Então deveríamos estar a tomar essa “medicação” de forma preventiva.
Temos muita necessidade de limpar a nossa pele, porque sabemos que vai ficar suja, de lavar os dentes porque vão ficar amarelos e com caries, e ninguém quer isso. Mas devíamos ter a mesma consciência ao nível da mente, porque se tivéssemos consciência de como ela fica manchada e castanha, e como é que a partir dela construímos massas, tumores, quistos…, se isso fosse visível, teríamos o cuidado de lavar a mente como lavamos os dentes.
Faltarão estudos ou ainda será um tabu?
Mas há estudos! Acho que é um misto. Temos a parte do tabu e de se ligar isto ao misticismo, mas ao mesmo tempo também existem estudos muito profundos acerca dos “milagres” (que não o são, nós é que os entendemos como tal, porque é algo químico, biológico) que comprovam isso. Nos EUA já existem clínicas para tratamentos oncológicos, que têm uma sala à parte para trabalhos de visualização e meditação. A ideia é dar ao cérebro a indicação do pensamento associado a uma emoção certa, para produzir saúde no corpo. Há uma complementaridade entre os tratamentos convencionais e a forma como se deve pensar na altura em que estamos doentes. Já existe muita coisa, estudos, muitos livros e documentários também, com histórias incríveis de pessoas que tinham cancro e que mudaram a alimentação ou até que se recusaram a ter tratamentos de quimioterapia. Por exemplo, também nos EUA, no âmbito da aiurveda, há pessoas com cancro, com o corpo minado, a ir para a Índia a fazer um tratamento de três meses a fundo que se chama Panchakarma. O que faz é um detox a todos os níveis: tem de se seguir uma alimentação diferente e específica para cada corpo, purgas e exercícios particulares, inclui ainda uma limpeza dos intestinos que faz vomitar, por exemplo, e depois a parte da psicologia e da meditação. O nível de sucesso do Panchakarma na cura do cancro situa-se acima dos 85%. Este tratamento de três meses é feito a todos os níveis, nunca inclui só o corpo.
É uma visão mais holística.
Sim, é olhar para o ser humano como um todo, tem em conta o que acontece ao nível emocional. A medicina aiurveda olha para o ser humano como um todo. E ela é milenar! A verdade é que a minha história não começa com a endometriose. Ela começa aos 14 anos, quando perdi a minha irmã. Aí tive a certeza de que nós criamos doença no corpo. A endometriose foi uma consequência da revolta da perda desde os meus 14 até aos 18 anos. Foi algo muito violento. O corpo gerou doença. Comecei a encarar a morte de uma forma muito diferente. Hoje em dia já não acredito na saúde só em partes. Há pessoas que comem muito bem e fazem muito desporto, mas o pensamento tem profundo impacto na nossa saúde. Não é só o que comemos, isso é uma alimentação para o corpo; a forma como pensamos é uma alimentação para a mente e que tem um impacto profundo no corpo. Uma pessoa que come saladinhas todos os dias e faz desporto, se sente raiva, vai ter problemas de fígado. A saúde é um profundo alinhamento de tudo, da forma como nos comportamos, como nos alimentamos, como pensamos, esta é uma alimentação muito subtil, mas muito impactante. É como respirar. Por exemplo, a forma mais rápida de passarmos um corpo ácido para um corpo alcalino é com a respiração. É grátis, fácil. Imagine a tecnologia que temos ao nosso dispor e desprezamos!
Se gostava de iniciar a prática de meditação, comece por seguir estes 5 passos simples.