Raro é o dia em que não temos de enfrentar um problema pessoal ou profissional. Felizmente, nem todos com o mesmo grau de dificuldade, mas a melhor forma de enfrentá-los é focar-se na solução com otimismo e não no dilema.
Estarmos constantemente preocupados prejudica a nossa saúde, ao passo que, se formos otimistas, seremos mais criativos e teremos mais capacidade de solucionar problemas. De que lado é que quer estar?
Atração do problema
Em primeiro lugar, será que a nossa atitude atrai problemas? Para obtermos resposta a esta pergunta, temos de perceber como funciona o cérebro.
“O sistema ativador reticular ascendente filtra toda a informação que nos chega e só retém o que é importante para nós e para atingirmos os nossos objetivos. Por isso é que as mulheres grávidas reparam mais noutras mulheres na mesma condição ou, quando compramos um carro amarelo, começamos a reparar noutros da mesma cor (…). Se algo nos interessa, o cérebro faz o possível para o localizar entre todos os inputs que recebemos”, explica Marian Rojas Estapé, psiquiatra e autora do livro Como Fazer para Acontecerem Coisas Boas (Planeta).
Na verdade, o que acontece é que o nosso “cérebro procura que as nossas ilusões façam match com a realidade; por isso é que as pessoas que não têm sonhos e não sabem o que querem se sentem perdidas e as negativas só veem entraves. É essencial, por isso, abrirmos a mente e termos pensamentos positivos”, refere a psiquiatra.
Positivo vs. negativo
Algumas pessoas dão, então, mais ênfase ao problema do que à solução e Marian Rojas Estapé tem uma explicação para isso: “Há pessoas com personalidades muito depressivas, com histórias de muita dor. Outras tornam-se tóxicas porque foram educadas por pais muito negativos e tendem apenas a ver o lado negro das coisas”.
A negatividade ajuda a ver apenas o problema e nunca a solução. “Tal como a pessoa positiva vê oportunidades em todo o lado, a negativa só vê problemas e bloqueios, mesmo perante uma oportunidade; enquanto a positiva diz ‘vou tentar’, a negativa pensa de imediato que nada de bom lhe vai acontecer”, sublinha a psiquiatra.
Posto isto, a solução é educar a nossa atitude perante a vida. “Sabendo que a vida é dura e que inclui sofrimento e dor, não estamos a negá-lo, temos de olhar para os problemas de forma a podermos enfrentá-los e não sermos ‘consumidos’ por eles”, ensina a nossa entrevistada.
Demasiada preocupação
Mas antes de passarmos à solução, o que nos terá transformado em seres permanentemente preocupados? Marian Rojas Estapé não tem dúvidas de que “a obsessão por querermos controlar tudo, quando vivemos num mundo que tem uma forte componente de improviso, é a principal culpada”.
“Queremos ser perfeitas em tudo e mostrar que o somos, queremos ter um filho e estar estupendas passados cinco dias. Isso gere uma expectativa e exigência que, quando não são reais, fazem-nos sentir culpadas e condenadas a uma insatisfação constante”, acrescenta.
Aqui entram também as redes sociais, geradoras de comparações que só aumentam esse descontentamento. “O mundo online tem muita coisa boa, mas a nossa vida não pode depender dele”, avisa a psiquiatra, adepta ferrenha do JOMO – joy of missig out (em português, a alegria de ficar de fora). “A melhor maneira de nos conectarmos com o mundo offline é saber gerir o mundo online”, afirma.
Marian Rojas Estapé lembra-nos que “quando vivemos constantemente preocupados com algo, a nossa mente fica doente. Geramos uma hormona, o cortisol, que, em momentos pontuais, é muito bom, mas, quando é gerado em excesso, deixa-nos doentes, fazendo com que surjam inflamações, enxaquecas, dores musculares e problemas imunitários.
A nível psicológico, gera irritabilidade, ansiedade, falhas de memória, dificuldades de concentração e tristeza. O nosso organismo não está preparado para viver em estado de alerta constante”. Com tudo isso, é normal que a capacidade de resolver problemas fique comprometida.
Estratégias para solucionar
Passemos então para a resolução dos problemas. “Comece por ser realista e fazer um diagnóstico de toda a situação, mas sempre de forma positiva. Com otimismo, a nossa saúde melhora e a nossa criatividade e capacidade de solucionar problemas aumentam”, explica a psiquiatra.
Se perceber que sozinha não consegue, peça ajuda. “As pessoas têm muita dificuldade em pedir ajuda, mas esse passo, por vezes, é desbloqueador e é o que basta para encontrar soluções”, realça Marian Rojas Estapé.
Outro passo importante para a psiquiatra é afastar-se de pessoas tóxicas: “Ao nosso redor queremos ter pessoas que nos apoiem, que nos animem, que puxem pelo melhor que temos dentro de nós, não queremos alguém que nos diga quão mal está o mundo, isso já sabemos”.
Pare também de se sentir culpada por tudo. “É um sentimento muito comum e tóxico, que tanto vem de dentro de nós como é incutido pelos outros e é como um veneno que se vai implantando no organismo que nos bloqueia”, sublinha.
Ouvir a nossa voz interior é positivo, mas não a deixe ser incriminadora, deixe que ela também lhe mostre os aspetos positivos, pois “só assim vai educar o pensamento”, remata Marian Rojas Estapé.