Bem-estar

Saber Viver é... Parar, refletir, abrandar

Já muito descobrimos, errámos, aprendemos, desaprendemos. Os clichés são verdade; a grande jornada da vida escreve-se certa por linhas tortas e, nestes 20 anos de existência, muito temos discorrido no papel (e online) sobre a forma como escolhemos viver a vida.

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© pexels
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Out. 09, 2022

É interessante pensar que a cada século os nossos dias se tornam 1,7 milissegundos mais longos e, no entanto, nunca a vida pareceu escapar-nos tanto por entre os dedos como nas últimas duas décadas.

Estamos sempre ocupadas, faltam horas para fazer tudo o que gostaríamos, responder a cada e-mail do trabalho, cumprir os prazos da faculdade, fazer exercício, marcar aquele jantar que há mais de um ano é alimentado por mensagens de ‘temos de nos ver’, e puf… de repente, é Natal.

A rotina está na lista de culpados para que os nossos dias/semanas/meses comecem a parecer-se com o enredo de O Feitiço do Tempo. ‘Obrigadinha’, revolução industrial, que definiu horas e dias fixos de trabalho, e, claro, Internet, que criou o ‘mundo infinito’, como lhe chama o psicólogo Tony Crabbe, autor do livro que parece o título das nossas vidas, Busy: How to Thrive in a World of Too Much.

A definição pouco precisa de introdução: com um telemóvel sempre na ponta dos dedos com acesso a WhatsApp e email, o trabalho começou a invadir ainda mais a nossa vida fora do escritório… Alô, pandemia, teletrabalho, os nossos chefes sentados connosco na mesa de jantar através da janela do Zoom. Ufa, alguém falou em burnout?

“Um dos fatores que mudou mais nas sociedades contemporâneas, em particular no mercado de trabalho, é o tempo”, confirma David Tavares, sociólogo.

Saber viver na atualidade é em grande parte saber gerir o tempo, quer na vida profissional, porque as tarefas são cada vez mais exigentes e o tempo menor, quer na relação entre a vida profissional e familiar, porque cada vez se torna mais difícil em muitos contextos.”

O alerta do sociólogo sentimo-lo na pele – “o tempo para o trabalho tende a tornar-se totalizante” – mas, tal como Phil, o arrogante meteorologista interpretado por Bill Murray preso no túnel do tempo, se mudarmos as nossas atitudes, a nossa vida pode beneficiar de um plot twist.

Por que estamos sempre com pressa? Há cura para a falta de tempo? É possível desacelerar?

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Estávamos em 2002 e a versão de A Branca de Neve de Carl Honoré já só tinha três anões. Todas as noites quando se preparava para deitar o filho, transformava a hora da leitura numa sessão de poucos minutos na qual virava três ou quatro páginas de uma história de uma só vez.

Nesse mesmo ano, ouviu falar do One-minute Bedtime Stories, correu para o site da Amazon e foi aí que teve a sua grande revelação. Nunca chegou a comprar o livro e hoje Honoré é uma das principais vozes do Movimento Slow, uma vagarosa revolução que está a desafiar as leis da pressa do século XXI.

Garante que não é preciso ser o Dalai Lama e meditar durante cinco horas. Também não precisa de entregar a carta de demissão agora.

Em entrevistas, costuma sintetizar os passos para abrandar em três pontos: faça menos, procure momentos em que está offline e incorpore algum ritual de pausa no seu dia. Podem ser dez minutos a ler poesia, a meditar ou a fazer uma caminhada. As coisas boas levam tempo.

A versão original deste artigo foi publicada na revista Saber Viver nº 268, outubro de 2022.

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