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Saber Viver é... Participar no futuro tecnológico

Saber Viver é… Participar no futuro tecnológico

Já muito descobrimos, errámos, aprendemos, desaprendemos. Os clichés são verdade; a grande jornada da vida escreve-se certa por linhas tortas e, nestes 20 anos de existência, muito temos discorrido no papel (e online) sobre a forma como escolhemos viver a vida.

Por Out. 14. 2022

É decerto estranho, para não dizer distópico, pensar que quando a Saber Viver surgiu ainda não lhe era possível fazer login no Facebook. A ideia, que começou a ser desenvolvida em 2003, tornou-se democrática três anos depois, permitindo que qualquer pessoa se registasse na plataforma.

Um ano mais tarde era possível fazer upload de vídeos para a rede social; em 2008, começámos a falar pelo chat e a fazer o download da app para o nosso smartphone; em 2009, soubemos pela primeira o que era um like; em 2011, fomos apresentados ao conceito de timeline.

E ainda só estamos a falar de mudanças superficiais. Nos primeiros anos da década de 2010, um turbilhão de redes sociais transformou a Internet, revolucionando a maneira como utilizamos a rede mundial de computadores.

O impacto desta na sociedade ultrapassou tudo o que era imaginável e, com meio século de existência, o seu potencial está apenas no início.

Começou por mudar a comunidade científica, depois o negócio dos operadores de telecomunicações e permitiu que, de repente, enormes volumes de informação passassem a estar à disposição de todos.

Depois disso, desenvolveu-se o comércio eletrónico, todo o tipo de serviços online, o teletrabalho, as redes sociais, as redes celulares, a comunicação entre todo o tipo de dispositivos, a interação entre mundo virtual e dispositivos físicos, os edifícios, cidades e transportes inteligentes.

Hoje, muito pouco pode ser feito sem acesso à Internet, ao ponto de que através dela se condicionam eleições, se travam guerras, se desenvolvem ataques e se cometem crimes.

Não precisamos de um motor de busca para saber que nada surge sem consequências: quando o Google se tornou um verbo, sabíamos que estávamos perante algo maior do que nós.

É difícil quantificar a mudança, mas vejamos a coisa por este prisma – o nosso eu digital é mais ‘eu’ do que o nosso eu físico.

Nós não estamos a ir a lugar nenhum – os lugares estão a vir ter connosco, seguindo as pisadas do nosso rastro de informação online (o TikTok está neste momento sob investigação de forma a averiguarem-se os efeitos dos seus algoritmos na saúde mental dos mais jovens).

Dois lados da barricada

Com a realidade paralela do Metaverso apontado como o futuro, surgem os dois lados da barricada:

Potenciais benefícios sociais, particularmente na educação, nos cuidados de saúde e no trabalho (desde designers de vestuário para avatares a arquitetos de metaverso ou bloqueadores de anúncios, estas são algumas das profissões que vão surgir em breve);

Desmembramento da sociedade como um todo, com estas entidades a tomarem o controlo absoluto das nossas vidas (vozes como as do filósofo da computação Jaron Lanier alertam: “Evito as redes sociais pelo mesmo motivo que evito as drogas”).

Qualquer viajante do tempo que saísse de 2002 e parasse por aqui provavelmente acharia que muito mais tempo se passou na sua viagem. E a verdade é que nós também.

Glossário virtual

Metaverso: Mundo virtual que tenta replicar a realidade através de dispositivos digitais. É um espaço coletivo compartilhado, que combina ambientes virtuais com realidade aumentada.

Skin: É o look que muda a aparência das personagens nos videojogos. As marcas de moda estão a entrar neste mundo para vender coleções virtuais.

Há cada vez mais pessoas que querem expressar-se num mundo virtual através de um produto virtual como uma persona virtual – Robert Triefus, vice-presidente da Gucci

Guarda-roupa virtual?

Segundo o The State of Fashion, o relatório anual lançado pela auscultação do Business of Fashion, a digitalização da moda e beleza surge como um dos focos principais para este ano, com uma previsão de a indústria do gaming atingir um valor de 219 mil milhões já em 2024.

“Há cada vez mais pessoas que querem expressar-se num mundo virtual através de um produto virtual como uma persona virtual”, garante o vice-presidente da Gucci, Robert Triefus, nesse mesmo relatório, referindo os 19 milhões de visitantes do Gucci Garden no Roblox.

O vídeo está a tornar-se a comunicação primordial e por isso não é de estranhar (ou, desculpem, mas é) que as novas gerações queiram dar um upgrade no seu look online, criando uma moda digital que é como uma extensão natural dos filtros do Instagram ou Snapchat.

Será que, no futuro, a moda será mais feita de pixels do que de tecido? A Nova Iorque, Londres, Milão e Paris junta-se o novo destino ‘it’ da Moda, o Metaverse Fashion Week, da plataforma de realidade virtual Decentraland.

Com mais de 60 marcas, artistas e designers participantes – entre eles, a Dolce & Gabbana, Elie Saab e Tommy Hilfiger –, o evento trouxe, ao longo de quatro dias, desfiles, palestras, pós-festas, ativações imersivas e lojas pop-up, com as marcas a exibirem looks digitais em avatares nas passerelles virtuais.

Mais de 108.000 usuários únicos, também na sua versão avatar, estiveram presentes para dar uma olhadela nas coleções e fazer compras com suas criptomoedas. Sem filas e sem primeiras filas numa democratização de estilo que soa refrescante.

A versão original deste artigo foi publicada na revista Saber Viver nº 268, outubro de 2022.
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