As águas alcalinas estão na moda. São ou não benéficas?
Será que as águas alcalinas são as mais indicadas por terem um pH diferente das restantes? Pedro Cantista, médico, professor universitário e presidente da Sociedade Portuguesa de Hidrologia Médica, explica-nos se existem ou não vantagens.
Os desportistas preferem as águas alcalinas e até já existem restaurantes que vendem a água consoante o seu grau de alcalinidade. É notório que o consumo deste tipo de águas está na moda. Quanto aos seus benefícios, as opiniões dividem-se. Há quem diga que as águas alcalinas eliminam toxinas, ativam os músculos e melhoram o funcionamento do estômago e pâncreas. Mas também há quem contradiga estes benefícios.
O que sabemos ser certo é que beber água é um dos hábitos mais importantes que devemos ter. Implemente-o.
Águas alcalinas: uma moda ou necessidade?
Verificamos nos dias de hoje uma certa “moda” de preferência pela ingestão de águas alcalinas. Esta ideia deriva da argumentação de que estas águas teriam ações antioxidantes, capacidade de regulação hormonal ou, mesmo, propriedades preventivas de doenças neoplásicas.
Contudo, não existem estudos científicos que comprovem essas possíveis vantagens. Não há nenhum consenso sobre um superior benefício dessas águas em relação a outras de pH diferente.
Mais do que estabelecer uma regra absoluta ou geral acerca do pH ideal de uma água, importa saber que deve ingerir água em quantidade suficiente. Em certas circunstâncias, alguns dos sais minerais que se encontram dissolvidos em diferentes águas têm, efetivamente, ações benéficas.
As águas são todas iguais?
Todas as águas têm composições diferentes. Não existem duas águas iguais. Seja qual for o pH que uma dada água tenha, o organismo humano possui mecanismos fisiológicos para controlar e, se necessário, corrigir esse pH, reequilibrando o seu valor.
Não é porque se bebe mais água alcalina que o pH se mantém sempre ideal. É o rim que exerce essa função, mantendo o pH do sangue com valores entre 7,3 e 7,4.
Em situações pouco favoráveis da nossa saúde, o nosso organismo, e particularmente os nossos rins, têm a capacidade de retificar os desvios hidroeletrolíticos – seja no sentido da acidose (baixa do pH) ou da alcalose (aumento do pH).
E a rede pública?
Talvez muito mais relevante para a nossa saúde seria questionar outros aspetos da água que consumimos. Seja a que nos é fornecida pela rede pública ou a que muitas vezes bebemos sem qualquer tipo de controlo sanitário – de poços, fontes ou mesmo de outros cursos naturais.
Se as primeiras, em geral, nos garantem parâmetros seguros de tratamento anti bacteriológico, as últimas estão sujeitas a contaminação. Constituem um grande risco de propagação de verdadeiras epidemias. Por isso se constituiu uma rede de abastecimento público, controlando os parâmetros bacteriológicos da água através da sua filtragem e do seu tratamento químico.
De modo a evitar que esta veiculasse agentes infeciosos patogénicos, isto é, suscetíveis de causar doenças. No entanto, alguns desses tratamentos da água da rede pública acabam de facto por poder constituir um risco potencial para a nossa saúde, por exemplo, quando se verifica um excesso de cloro ou flúor.
Aqui, sim, pode verificar-se uma certa acidificação, o que até poderá estar na base da argumentação a favor da alcalinidade. Mas o problema não está no pH. Está sim no excesso de alguns químicos.
Mas a água alcalina é boa ou não?
A propaganda que tem veiculado a ideia dos benefícios de alcalinidade da água leva, muitas vezes, as pessoas a quererem, elas próprias, processar a água que vão consumir. Por exemplo, acrescentando bicarbonatos. Fazer isto por sistema e sem qualquer razão médica é um erro. Para essa tarefa existem os nossos rins.
Um aconselhamento de uma água baseado unicamente no simples critério do pH é altamente redutor. Há muitos outros fatores a ter em conta, quando se pretende aconselhar uma água. A começar pelo conhecimento de muitas das suas outras propriedades, que muitas vezes se constituem mesmo como terapêuticas.
Aqui estamos já a falar de águas minerais naturais e devemos mesmo considerar este aconselhamento como uma verdadeira prescrição médica. As ações terapêuticas de uma determinada água mineral natural podem ser de extremo valor para a nossa saúde e, como tal, são objecto de uma área especializada da Medicina conhecida por Hidrologia Médica.
E a água mineral natural?
Somos dos que defendem que a ingestão de água mineral natural deve ser valorizada. É uma prática com benefícios de saúde ancestralmente verificados. Primeiro, de modo empírico mas, nos dias de hoje, cientificamente comprovados.
O processamento químico da água torna-se necessário pela necessidade do seu consumo em grande escala para alimentação de uma imensa população mundial. Infelizmente, a água potável escasseia. Não porque haja menos água no Planeta (essa quantidade é a mesma desde há milhões de anos), mas porque se verifica uma gestão errada do seu consumo.
Urge dinamizar o nosso conhecimento sobre este bem que faz parte de nós e em torno do qual se processa toda a vida. Incremente-se por isso a investigação científica. Mas proceda-se, também, a um cuidadoso tratamento da informação difundida sobre as suas características, propriedades e correto consumo.
Não devem, por isso, ser veiculadas como verdades informações descontextualizadas. Ainda que possam porvir de um ou outro trabalho, ou de uma ou outra opinião. A sua generalização não é de todo exata, benéfica ou mesmo verdadeira.
Descodificador das águas alcalinas
O que é o pH?
Entende-se por pH, o marcador que indica se uma substância é ácida ou alcalina.
Quando é considerado alcalino?
O pH varia de 0 a 14, sendo considerado alcalino quando superior a 7.