#Afinal, as alergias surgem apenas na primavera?
Dois especialistas deixam ainda vários conselhos para minimizar ao máximo a exposição a alergénios.
*De geração em geração, passam-se conselhos que deviam ficar perdidos algures no tempo. No entanto, muitas ideias preconcebidas sobre beleza e bem-estar teimam em regressar. Para as desconstruirmos, criamos esta rubrica, que é uma espécie de fact-check, em que poderá encontrar respostas às questões que sempre teve.*
Os espirros constantes, a comichão no nariz e, muitas vezes, nos olhos ou o pingo que parece não parar são denunciadores de quem tem alergias.
No entanto, não vimos estes sintomas apenas na primavera, estação em que sempre nos fizeram acreditar ser a pior altura para quem sofre desta condição.
Por isso, será que estes podem ser sinais de outro tipo de doenças ou, simplesmente, as alergias podem surgir noutros momentos? Dois especialistas esclarecem a questão.
As alergias são estritas da primavera?
Existem diferentes motivos para vermos alguém espirrar. Enquanto uns têm alergias a ácaros, o que significa que as limpezas e organizações profundas da casa são um pesadelo, outros não podem estar perto de cães, gatos ou determinadas plantas.
Isto significa que há um sem número de potenciadores de alergias com os quais vivemos ao longo do nosso dia a dia.
Deste modo, embora “exista um pico evidente de sintomas de alergia respiratória na altura da primavera, as alergias podem surgir durante todo o ano”, explica Sofia Pinto Luz, coordenadora de Imunoalergologia do Hospital CUF Cascais e da Clínica CUF São Domingos de Rana.
A também criadora da plataforma online Senhora Alergia sublinha que “a chamada alergia sazonal primaveril reaparece todos os anos”, uma vez que “a inflamação crónica da via respiratória é ativada em todas as épocas polínicas”, o que leva “a sintomas habitualmente de rinite alérgica, conjuntivite alérgica e asma alérgica”.
Momentos de maiores sintomas alérgicos
Porém, apesar de, nos últimos anos, as condições meteorológicas terem sofrido grandes alterações, “tornando complicada a previsão, com segurança, das épocas de polinização de cada árvore ou erva”, como nota, a verdade é que, por norma:
• As gramíneas polinizam “entre março e junho” e os seus pólens são “os que mais frequentemente causam alergia”, afirma a profissional.
• “De maio a junho” é a altura da polinização da oliveira, “o maior causador de alergia respiratório na península ibérica”, dentro dos pólens de árvores.
• Conhecida, ora por parietária judaica, ora por alfavaca-de-cobra, causa habitualmente sintomas alérgicos, especialmente em duas alturas: “primeiro, em abril/maio” e, depois, “em setembro/outubro”.
Todo o ano
Além disso, “os ácaros do pó doméstico vivem nas nossas casas todo o ano”, recorda. É exatamente por isso que a “alergia a pó (ácaros) não tem caráter sazonal”; é considerada “perene”.
Contudo, sabe-se que a humidade favorece o crescimento destes microrganismos e, por isso, no inverno, existe, não só uma maior quantidade de ácaros, como de pessoas a espirrar com frequência.
Tiago Azenha Rama, Imunoalergologista no Hospital CUF Trindade, adiciona ainda os animais domésticos e esporos de fungos.
“Ainda que se possa manifestar apenas sob a forma de rinite, rinoconjuntivite ou rinossinusite, que persiste durante todo o ano, a alergia respiratória que se lhes associa manifesta-se frequentemente sob a forma de asma brônquica e pode apresentar uma maior gravidade”, salienta.
Como diminuir a exposição a alergénios
Os dois especialistas deixam vários conselhos para minimizar os sintomas das alergias.
Para pólenes habitualmente no exterior dos edifícios
• Abrir as janelas durante períodos curtos, nas alturas de menor concentração de pólens no exterior, ou seja, ao amanhecer e anoitecer;
• Manter as janelas dos carros fechadas;
• Tomar banho e lavar o cabelo depois de longos momentos no exterior;
• Utilizar óculos escuros, preferencialmente com proteção lateral;
• Usar máscaras faciais, fora de casa.
Dentro de casa
• Manter a temperatura da casa a menos de 25ºC;
• Utilizar um desumidificador, caso os valores de humidade dentro de casa sejam superiores a 60;
• Arejar bem todas as divisões, abrindo as janelas ao acordar para aumentar a circulação de ar;
• Abrir a janela da casa de banho, no fim do banho, de modo a permitir que a humidade que se formou saia mais facilmente;
• Manter as superfícies propícias à criação de fungos, como os cantos do duche ou por baixo do lava-loiças, sempre limpas e secas;
• Usar regularmente produtos de limpeza antifúngica para lavar as superfícies que ficam mais húmidas, como na casa de banho e cozinha;
• Não utilizar aparelhos a vapor para fazer limpeza;
• Optar por paredes lisas e pintadas, evitando o papel de parede;
• Reduzir ou, se possível, eliminar tapetes, carpetes e alcatifas;
• Evitar guardar a roupa ou calçado húmido em armários ou zonas com pouca ventilação;
• Eliminar ou reduzir o número de peluches nos quartos. Os que aí ficarem não deverão estar na cama e devem ser lavados regularmente a temperaturas superiores a 60ºC.
• Evitar cadeiras, sofás e poltronas com estofos feitos com penas ou pelos;
• Não usar vassoura, espanadores ou panos de pó secos. Preferir aspirar o chão com aspiradores com filtros hepa (High-Efficiency Particulate Arrestance) e limpar o pó com um pano húmido.
Resumindo: Afinal, apesar de existir uma clara evidência das alergias respiratórias na primavera, não se limitam a essa altura do ano.