Saúde

Alzheimer: conheça o tratamento que ajuda a regredir a doença

Dale E. Bredesen, neurocientista e neurologista norte-americano, desenvolveu um programa que consegue prevenir ou reverter o declínio cognitivo. Uma fonte de esperança para quem sofre de Alzheimer.

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tratamentos que ajudam a regredir a doença
Rita Caetano
Escrito por
Mar. 15, 2019

É uma das doenças mais temidas pela população mundial e é fácil explicar porquê. Afinal, não há ninguém que queira perder a memória, o pensamento e o raciocínio, por outras palavras, perder a independência.

Um cenário assustador, sobretudo, porque continua a não existir um tratamento do Alzheimer eficaz. O certo é que, segundo dados da Organização Mundial da Saúde, a doença afeta 47,5 milhões de pessoas em todo o mundo e, daqui a um ano, deverá atingir 75 milhões de indivíduos.

Uma nova esperança no tratamento do Alzheimer

Mas nem tudo são más notícias. Dale E. Bredesen, neurocientista e neurologista norte-americano, desenvolveu um programa que consegue prevenir ou reverter o declínio cognitivo e que pode vir ser um ponto de viragem na abordagem a esta doença. Pelo menos, é essa a sua esperança depois de seis anos a implementá-lo nos seus pacientes “com excelentes resultados. Mais de 200 doentes seguem o protocolo ReCODE (Reversal of Cognitive Decline) com sucesso”, como nos disse em conversa telefónica, após o lançamento do seu livro, O Fim do Alzheimer (Lua de Papel), em Portugal.

“A nossa primeira paciente segue o protocolo ReCODE há cinco anos e, aos 73, mantém-se cognitivamente saudável, trabalha a tempo inteiro e viaja pelo mundo”, conta. Chama-se Kristin e quando chegou ao consultório de Dale E. Bredesen já se perdia quando conduzia na autoestrada, trocava nomes, não conseguia analisar dados cruciais no seu trabalho, entre outros sinais de demência. Além disso, já tinha visto o mesmo acontecer à sua mãe.

Resposta protetora para tratamento de Alzheimer

Antes de chegar ao protocolo ReCODE, o neurocientista passou muitos anos a estudar os meandros da doença e a sua maior descoberta foi que “o Alzheimer não surge porque o cérebro deixa de funcionar como devia. Em vez de ser causado pela acumulação das placas de amiloide, é uma resposta protetora do cérebro a três ameaças metabólicas e tóxicas: inflamação (infeções, alimentação…); declínio e escassez de nutrientes, hormonas e outras moléculas de suporte do cérebro; e substâncias tóxicas como metais ou biotoxinas. O problema surge quando as ameaças são constantes e intensas, dando origem a defesas, também elas crónicas, que passam a causar danos”, explica.

“Para reverter o declínio cognitivo e a doença de Alzheimer é, por isso, necessário remover todos aqueles fatores”, acrescenta.

O Alzheimer é a grande preocupação das pessoas que estão a envelhecer, sobretudo pela falta de resposta, mas nós encontrámos uma – Dale e. Bredesen, neurocientista

Pequenos avanços: morte dos neurónios

Cientistas do Centro Champalimaud descobriram recentemente que nas fases iniciais da doença de Alzheimer a morte dos neurónios danificados pode ser positiva. O estudo foi feito com moscas-da-fruta e contraria a ideia generalizada de que a morte dos neurónios era responsável pelo caos cognitivo que se associa a esta patologia.

A investigação diz que esse processo pode proteger o cérebro da acumulação de neurónios disfuncionais e permitir que o primeiro se reajuste e estabeleça novas ligações que compensem a falta dos segundos.

Os três tipos de Alzheimer

Dale E. Bredesen conseguiu individualizar três tipos desta patologia: “Quente ou inflamatório; frio ou atrófico; vil ou tóxico”, salienta.

O primeiro tem uma tendência genética e começa com a perda de capacidade de armazenar novas informações, mantendo recordações antigas e a aptidão para falar, fazer contas, soletrar e escrever. Os sintomas surgem por volta dos 50-60 anos.

O segundo tem os mesmos sintomas, mas aparecem um pouco mais tarde, e não revela sinais de inflamação, embora os níveis hormonais sejam insuficientes, tal como os de vitamina D. Denota-se ainda uma resistência à insulina.

O terceiro surge entre os 40 e os 60 anos, depois de grandes períodos de stresse, e começa com dificuldades cognitivas com números, fala e organização, além de o doente perder memórias recentes e antigas.

“Descobrir o tipo de Alzheimer do qual se padece é essencial para se desenvolver o ReCODE personalizado”, avisa o neurologista. Por isso, os doentes são submetidos a diversos testes antes de iniciar o programa. “Na verdade, o que vamos fazer é equilibrar a bioquímica de cada paciente”, realça o especialista.

10 formas de prevenir (e regredir) o declínio cognitivo

O ReCODE é um programa personalizado para cada pessoa, mas veja quais são os aspetos onde deve atuar para prevenir e regredir o declínio cognitivo.

1. Evitar a resistência à insulina

Está muito associada à alimentação rica em hidratos de carbono simples como o açúcar, alimentos com elevado teor de frutose, estilos de vida sedentários e vida stressante.

2. Seguir a dieta ketoflex

É a dieta flexitariana, ou seja, a sua base são os vegetais, sobretudo, os legumes não amiláceos de várias cores. Pode consumir peixe e carne, mas estes não devem exceder os 60 g por dia. O jejum deve durar 12 horas e devem evitar-se hidratos de carbono simples, gorduras saturadas, glúten e laticínios o mais possível. Aposte nos alimentos ricos em fibra, nas gorduras boas (frutos secos, abacate, sementes, azeite…) e nos prebióticos e probióticos.

3. Fazer exercício físico

Ser sedentário prejudica a função cognitiva, por isso, praticar desporto é fundamental. O exercício físico reduz a resistência à insulina, que desempenha um papel-chave na doença de Alzheimer.

Além disso, aumenta o tamanho do hipocampo – que costuma diminuir nos doentes com Alzheimer –, reduz o stresse, melhora o sono, o humor e a probabilidade de sobrevivência de neurónios recém-nascidos. Deve combinar o exercício aeróbio (correr, caminhar, andar de bicicleta ou dançar) com o treino com pesos.

4. Dormir bem

É fundamental para reverter o declínio cognitivo. Tente dormir oito horas por dia sem recorrer a comprimidos, que também comprometem a função cognitiva.

Mantenha o quarto o mais escuro e tranquilo possível, desligue os aparelhos eletrónicos, descomprima antes de dormir, deite-se antes da meia-noite, não ingira estimulantes depois do início da tarde, evite as refeições pesadas e mantenha-se hidratada.

5. Diminuir o stresse

Aumenta os níveis de cortisol, que em níveis elevados, é tóxico para o cérebro. Além disso, contribui para a subida dos níveis de glicose no sangue, para o aumento da gordura corporal, para a obesidade e para as doenças cardiovasculares, todos fatores que aumentam o risco de declínio cognitivo.

Meditação, ioga, respirar pelo diafragma de forma profunda, fazer massagens e ouvir música são atividades que reduzem o stresse.

6. Treinar o cérebro

Existem vários programas para treinar o cérebro, entre os quais o Double Decision, que reduziu o risco de demência em quase 50%, dez anos após o treino; o grupo BrainHQ também tem programas de dez a 20 minutos por dia, que devem ser feitos cinco vezes por semana.

treinar o cérebro ajuda na prevenção da doença de alzheimer

© Gettyimages

7. Reduzir a inflamação

Esta atua diretamente nos mecanismos da doença de Alzheimer e no declínio cognitivo, portanto é preciso curar a inflamação, evitando as suas causas, como maus hábitos alimentares e infeções crónicas. A canela, o gengibre, o alho, o tomilho e os legumes de folha verde são anti-inflamatórios poderosos.

8. Tratar o aparelho digestivo

Se o fizer, vai reduzir a inflamação sistémica, melhorar a absorção de nutrientes e reforçar as respostas imunitárias. O açúcar, alimentos com organismos geneticamente modificados, álcool, antibióticos, anti-inflamatórios, stresse, pesticidas, herbicidas e glúten, para quem é alérgico ou intolerante, desencadeiam problemas no intestino.

9. Equilibrar as hormonas

Alcançar os níveis hormonais ideais é fundamental e para isso fale com o seu médico. A homocisteína é uma das mais importantes e a sua normalização consegue-se com a toma de vitamina B6, B12 e ácido fólico.

10. Eliminar toxinas

Estas contribuem para o declínio cognitivo, portanto é importante livrar-se delas. As crucíferas, o abacate, a alcachofra, a beterraba, o gengibre, a toranja, as algas e o azeite são bons alimentos para ajudar a eliminar toxinas, tal como ir à sauna. Por sua vez, os bolores, o mercúrio presente nos peixes, alimentos processados e não biológicos, medicação, álcool e cosméticos contribuem para acumularmos toxinas.

O sucesso está na prevenção

Se este protocolo pode prevenir a doença, será que qualquer pessoa pode segui-lo? “Sim. Todas as pessoas podem segui-lo, sobretudo depois dos 45 anos, tal como aos 50 se deve fazer uma colonoscopia para deteção do cancro do cólon”, exemplifica Dale e. Bredesen.

Para o neurologista, essa prevenção é mais importante se houver já casos de Alzheimer na família. “Se essa prevenção for feita, podemos tornar a doença rara, já que quanto mais cedo se iniciar o tratamento, maior será a probabilidade de reversão total”, diz.

Atualmente, Bredesen está a treinar cerca de mil médicos e profissionais de saúde de dez países para que mais pessoas possam receber este tratamento. No entanto, há uma parte da comunidade médica que ainda olha para protocolo de lado. “Preferem continuar com a medicação que já sabem não funcionar. Há 15 anos que não há fármacos novos e já está comprovado que atrasam um pouco a regressão da doença, mas não resolvem o problema e depressa os doentes voltam a piorar”, sublinha o neurocientista.

Dale E. Bredesen deseja que no futuro “todos os países adotem este método para prevenir a doença. Não é difícil e poderá reduzir os elevados custos da demência em muitos deles”.

livro o fim do alzheimer

O Fim do Alzheimer, de Dale R. Bredesen (Lua de Papel)

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A versão original deste artigo foi publicada na revista Saber Viver nº 224, fevereiro de 2019

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