Ataque de pânico: o que é, quais os sintomas e como tratar
Alguma vez pensou que estava a ter um ataque de pânico? Sabe reconhecer os sintomas? Conhece os tratamentos e onde procurar ajuda? A Saber Viver procurou respostas a estas (e outras) perguntas junto de duas especialistas.
As crises de pânico são cada vez mais uma realidade na sociedade moderna, e isso deve-se em parte ao estilo de vida acelerado e ritmo frenético. A pressão multiplica-se, no trabalho e em casa, o stresse aumenta, e a ansiedade subiu ao pódio da doença do século.
Como consequência, o pânico instaurou-se numa sociedade que vive embrulhada em medos, fobias e claro, ansiedade.
Falámos com duas especialistas na área da psicologia clínica, Renata Chaleira e Chantal Feron, e tentámos não só compreender o mistério em torno dos ataques de pânico como também procurar soluções práticas e eficazes.
O que é um ataque de pânico?
“Segundo o Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, um ataque de pânico é um medo ou desconforto intenso que alcança um pico em minutos e durante o qual ocorrem quatro (ou mais) sintomas”, esclarece Renata Chaleira, psicóloga clínica no Hospital CUF Descobertas.
Sem aviso prévio, “os ataques de pânico começam subitamente e em qualquer lugar ou situação“, acrescenta Chantal Feron, psicóloga clínica no Hospital CUF Infante Santo. Estão ainda “associados a uma sensação de perigo iminente, e podem durar aproximadamente 20 minutos.”
Em termos científicos, estes acontecimentos explicam-se da seguinte forma: são como o instinto de sobrevivência. Por exemplo, quando se aproxima um animal selvagem, o primeiro instinto é fugir. Ou seja, nestes casos, assim como no ataque de pânico, o cérebro ativa o modo de sobrevivência e fica em alerta, causando um leque de sintomas incontroláveis.
Sintomas:
• Palpitações, coração acelerado, taquicardia;
• Sudorese;
• Tremor;
• Sensações de falta de ar;
• Sensações de asfixia;
• Dor ou desconforto torácico;
• Náusea ou desconforto abdominal;
• Sensação de tonturas, vertigem ou desmaio;
• Ondas de calor ou de frio;
• Parestesias (anestesia ou sensações de dormência);
• Desrealização (sensações de irrealidade) ou despersonalização (sensação de estar distanciado de si mesmo);
• Medo de perder o controlo ou “enlouquecer”;
• Medo de morrer.
O que fazer se tiver um ataque de pânico
Se sentir algum destes sintomas, eis o que deve fazer:
• Reconhecer os sintomas e tranquilizar-se, relembrando que estes são provenientes de um ataque de pânico, e que não é uma condição clínica grave com risco de morte iminente. A crise é realmente intensa e causa mal-estar severo, mas é passageira (cerca de 10-30 minutos);
• Respirar pelo nariz e se necessário começar a respiração diafragmática para o controlo da frequência e profundidade das inspirações, no intuito de não hiperventilar;
• Utilizar, se necessário, algumas técnicas de relaxamento como, por exemplo, permanecer deitado, respirando lenta e profundamente, tentando relaxar os diferentes grupos musculares e concentrando-se na memória de um cenário tranquilo;
No entanto, se a crise for muito intensa ou de tempo excessivamente prolongado, deve recorrer aos psicofármacos aconselhados pelo seu médico psiquiatra para o efeito.
Quais as causas?
“Não existe por norma uma causa associada a um ataque de pânico, pois costuma ser inesperado. Mas pode estar associado à agorafobia, uma perturbação onde existe muita ansiedade”, responde Renata Chaleira.
Entre 30 a 50% das pessoas que sofrem de agorafobia, também conhecida como ansiedade social ou “medo de multidões”, têm Síndrome do Pânico. Ou seja, são passíveis de ter ataques de pânico espontâneos com mais frequência, têm uma preocupação excessiva com futuros ataques e, por vezes, alterações no comportamento de forma a evitar situações que consideram de risco (na maior parte dos casos, associadas a um ataque anterior).
“Um dos aspetos mais difíceis dos ataques de pânico é o medo intenso de que estes se repitam, o que pode levar o paciente a evitar situações e lugares em que os ataques possam ocorrer”, explica Chantal Feron. Este evitamento pode levar os doentes a não quererem sair de casa, acrescenta.
Quanto à frequência com que acontecem, Renata Chaleira esclarece que depende de indivíduo para indivíduo. “Na consulta surgem doentes que só tiveram um ataque de pânico, como existem outros que apresentam diversos ao longo da vida, com um espaçamento curto entre eles.”
Estatisticamente falando: homens vs. mulheres
A Perturbação de Pânico afeta anualmente mais de um terço dos adultos em Portugal, contudo “é cerca de duas vezes mais comum em mulheres“, revela Chantal Feron. Tem geralmente início ou no fim da adolescência ou no começo da vida adulta, entre os 20 e 30 anos de idade.
Este intervalo de idades “pode estar associado a experiências traumáticas na infância e/ou situações de stresse na vida adulta. É frequente pacientes relatarem eventos de stresse, como mudanças de papéis, uma perda significativa, um diagnóstico de doença, entre outros, nos 12 meses que precedem o primeiro ataque de pânico”, esclarece a especialista.
Ansiedade ou ataque de pânico?
Esta é uma dúvida que persiste: será uma crise de ansiedade o mesmo que um ataque de pânico? Renata Chaleira esclarece: “a ansiedade está por norma sempre presente no ataque de pânico”.
“O ataque de pânico distingue-se de Perturbação de Ansiedade Generaliza por ser súbito, apresentar no indivíduo um desconforto intenso, com um pico elevado em minutos ou segundos”, explica. Já a Perturbação de Ansiedade Generalizada é uma preocupação excessiva com diversos eventos ou atividades, e onde deverão estar presentes três dos sintomas associados à perturbação.
Sintomas da Perturbação de Ansiedade Generalizada
• Inquietação ou sensação de estar com os nervos à flor da pele;
• Cansaço;
• Dificuldade na concentração, atenção e memória;
• Irritabilidade;
• Tensão muscular;
• Perturbação do sono.
Como é feito o diagnóstico de Perturbação de Pânico?
Antes de mais, é essencial consultar o médico de família, “que irá excluir doenças orgânicas que possam causar sintomas semelhantes, como doenças cardiovasculares ou da tiróide”, explica Chantal Feron. “Caso se exclua doença orgânica, o paciente será encaminhado para uma avaliação psicológica e respetiva intervenção”.
Passo a passo para o diagnóstico
1. Existirem ataques de pânico recorrentes e espontâneos;
2. Preocupação persistente em relação a ataques adicionais;
3. Preocupação em relação às consequências como: perder o controlo, ter um ataque cardíaco, enlouquecer, etc.;
4. Alteração significativa do comportamento relacionada com as crises de pânico;
5. Deve-se especificar se há ou não agorafobia associada;
6. Certificar-se que os ataques de pânico não se devem aos efeitos fisiológicos diretos de uma substância (abuso de droga ou medicamento) ou a uma condição médica geral (ex: hipertireoidismo);
7. Garantir que os ataques de pânico não são explicados por outra perturbação mental, como uma fobia específica, perturbação obsessiva compulsiva, perturbação de stresse pós-traumático, entre outras.
Tratamentos possíveis
O tratamento tem como objetivo eliminar os sintomas associados aos ataques de pânico, de forma a que o paciente possa ter uma vida o mais normal possível.
“É aconselhada a intervenção de um médico psiquiatra e de um psicólogo, pois o tratamento combinado de psicofármacos e psicoterapia tem-se revelado o mais eficaz”, aconselha Chantal Feron.
A psicoterapia em questão consiste “numa psicoeducação sobre a perturbação cujo objetivo é conhecê-la e corrigir interpretações erradas; o treino de técnicas para diminuição da ansiedade, como a respiração diafragmática, o relaxamento muscular e a reestruturação cognitiva”, esclarece.
Fontes: Saudecuf.pt; Tuasaude.com; DGS.
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