Muitas vezes, ora em consulta, ora na televisão e redes sociais, ouvimos médicos e especialistas alertar para a importância dos autoexames mensais para detetar alguma alteração nas mamas, mamilos e axilas.
Todavia, será este procedimento, atualmente, desadequado? Continuam os profissionais de saúde a recomendar este autoexame como meio de prevenção de um possível cancro, por exemplo?
De modo a identificarmos, mais facilmente, se existe algo de errado com a nossa saúde, decidimos perceber, junto de entidades e especialistas, se a palpação da mama feita em casa é um método eficaz.
Primeiro, analisámos os factos. Segundo a Liga Portuguesa Contra o Cancro, em Portugal, foram detetados cerca de sete mil novos casos de cancro da mama, em 2020.
Embora não seja, de acordo com a mesma organização, “um dos mais letais”, deste total, 1.800 mulheres morrem com a doença. Já no que diz respeito aos homens, um em cada 100 cancros desenvolve-se no sexo masculino.
Assim, perguntamos: a prevenção começa em casa?
O autoexame da mama é eficaz?
Em 2009, a U.S. Preventive Services Task Force, uma instituição de saúde americana, emitiu um comunicado em que aconselhava as mulheres a pararem de fazer o autoexame da mama, depois de uma investigação na China e Rússia, que demorou 12 anos.
Nesse estudo, que envolveu 260 mil mulheres, divididas em dois grupos – umas que executavam este procedimento e outras que não o faziam -, observou-se que a taxa de mortalidade de ambos era muito similar.
Ou seja, mesmo que o autoexame tenha ajudado a detetar precocemente a doença, não teve qualquer impacto no número de mortes.
Além disto, concluiu que as mulheres que faziam a palpação da mama acabavam por se sujeitar a mais biópsias que o outro grupo. Algumas delas desnecessárias.
Também a Organização Mundial da Saúde reconhece que não há qualquer prova que o autoexame da mama ajude na prevenção de doenças. No entanto, a sua prática faz com que as mulheres sejam mais responsáveis pelo seu estado de saúde. Assim, o autoexame “é mais recomendado para alertar as mulheres do que, propriamente, como método de triagem“.
Conhecer o corpo
Exatamente por isso, “a maioria dos especialistas deixou de recomendar o autoexame da mama e começou a usar o conceito de ‘breast awareness’ (numa tradução literal, consciência do peito)“, esclareceu Therese Bevers, diretora do Cancer Prevention Center, na MD Anderson, Universidade do Texas, nos EUA, ao Refinery 29.
O que é então o ‘breast awareness‘? No site da Cleveland Clinic, nos Estados Unidos, é explicado que o importante é estar atento a qualquer alteração no peito e que os exames devem ser feitos hospital/clínica – não em casa. Isso serve para evitar custos de saúde desnecessários, exames dolorosos e preocupações que podem não passar disso mesmo: preocupações.
Contrariamente ao que possa pensar, este conceito não é exclusivo desse país. Natália Amaral, ginecologista, clarifica à Saber Viver que é também utilizado em Portugal.
Ao que deve estar atenta
“O que recomendamos no dia a dia da nossa prática clínica é, sim, que a mulher conheça o seu corpo. Isto é, se estiver em idade reprodutiva, a mulher, após uma menstruação, deve palpar a sua mama, mas calmamente, sem grande esforço, e observá-la, vendo se há alguma mancha, pontos vermelhos ou corrimento”, sublinha.
E conclui: “é conhecer o corpo e não o utilizar como um diagnóstico ou, de facto, um exame de prevenção”. Afinal, o “autoexame, da forma que era feito, criava, de facto, ansiedades terríveis. Não havia, portanto, qualquer benefício nisso”.
Por isso, “qualquer alteração que note, deve recorrer ao médico“, salienta.
No site da Liga Portuguesa Contra o Cancro, recomendam ainda prestar atenção a “alterações na mama ou no mamilo, quer no aspeto, quer na palpação; nódulos, sensibilidade no mamilo, alteração do tamanho ou forma da mama, entre muitas outras.
Além disso, aconselha que conheçam o seu histórico familiar e o seu tecido mamário.