Saúde

A boa alimentação é essencial para os doentes oncológicos. Uma nutricionista explica porquê

A malnutrição pode interferir nos tratamentos de quem sofre de cancro e ainda agravar as complicações no pós-operatório. Elsa Madureira, nutricionista no Centro Hospitalar e Universitário de São João, EPE, explica a importância da alimentação na doença oncológica.

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© pexels
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Fev. 04, 2022

Os doentes com cancro, embora possam ser muito diferentes uns dos outros, dependendo do tipo, localização e estádio da doença, têm elevado risco de malnutrição e são muito suscetíveis a mitos e desinformação no que respeita à alimentação.  Por isso, durante todo o percurso da doença, doentes e cuidadores devem ser orientados sob o ponto de vista nutricional.

Frequentemente, chegam já malnutridos ao diagnóstico. Esta malnutrição refere-se a uma situação complexa em que há perda de peso, falta de apetite, perda de massa muscular e outras alterações do organismo. É provocada pela conjugação de vários fatores decorrentes da presença de células tumorais.

Por um lado, os sintomas, como a falta de apetite, provocados pelo tumor ou tratamentos, levam a uma ingestão alimentar insuficiente. Por outro lado, a resposta inflamatória leva a alterações metabólicas que culminam na diminuição de músculo, acompanhada, ou não, por perda de gordura.

No doente malnutrido é maior a probabilidade de ter que interromper ou reduzir os tratamentos, de ter complicações pós-operatórias, de ter que ir às urgências ou ficar internado, portanto, é pior o prognóstico.

É por isso importante a identificação pela equipa de saúde, o mais cedo possível, dos doentes de maior risco e a referenciação para a consulta de nutrição.

A educação alimentar e o esclarecimento dos inúmeros mitos que rodeiam a alimentação é fundamental para que doente e família compreendam a importância que esta tem durante os tratamentos e deixem de ter medo de comer
Elsa Madureira, nutricionista Elsa Madureira, nutricionista

O acompanhamento é indispensável

Na consulta, o nutricionista faz a avaliação nutricional do doente, o que implica conhecer a doença, o seu estado, tratamentos que fez e vai fazer, sintomas que apresenta e que são esperados; questionar como se está a alimentar, bem como outras questões relacionadas com a nutrição do doente.

Depois, define a estratégia de intervenção nutricional mais adequada, de acordo com as necessidades nutricionais (geralmente aumentadas), as especificidades da doença, mas, também, com os gostos, tolerâncias e possibilidades socioeconómicas do doente.

Na maioria das vezes é feito um aconselhamento alimentar individualizado de forma a que o doente se alimente adequadamente para melhorar o seu estado nutricional.

Pode ser necessário adaptar a frequência ou o volume das refeições ou a consistência dos alimentos tornando-os mais moles ou líquidos. Pode também ser necessário reforçar o aporte de determinados nutrientes como as proteínas, por exemplo, ou pode ser necessário retirar alguns alimentos (mesmo que pareçam os mais indicados ou saudáveis, como os vegetais).

Em todas as fases da doença, o acompanhamento da nutrição é essencial, sempre com uma intervenção individualizada
Elsa Madureira, nutricionista Elsa Madureira, nutricionista

A educação alimentar e o esclarecimento dos inúmeros mitos que rodeiam a alimentação é fundamental para que o doente e família compreendam a importância que esta tem durante os tratamentos e deixem de ter medo de comer.

No entanto, em alguns tipos de cancro e nos doentes com determinados sintomas, não é possível atingir as necessidades apenas com alimentos, sendo recomendada a utilização de suplementos nutricionais orais que, sendo os produtos farmacêuticos com uma interessante composição nutricional, vão ajudar a aumentar o aporte de nutrientes e, assim, evitar a malnutrição ou alguns défices.

Aspetos como o baixo volume e a variedade de sabores poderão ser fundamentais para garantir uma boa adesão, bem como a adequação aos sintomas – por exemplo, existem suplementos com sabores sensoriais específicos para doentes com alterações de paladar.

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