A boa alimentação é essencial para os doentes oncológicos. Uma nutricionista explica porquê
A malnutrição pode interferir nos tratamentos de quem sofre de cancro e ainda agravar as complicações no pós-operatório. Elsa Madureira, nutricionista no Centro Hospitalar e Universitário de São João, EPE, explica a importância da alimentação na doença oncológica.
Os doentes com cancro, embora possam ser muito diferentes uns dos outros, dependendo do tipo, localização e estádio da doença, têm elevado risco de malnutrição e são muito suscetíveis a mitos e desinformação no que respeita à alimentação. Por isso, durante todo o percurso da doença, doentes e cuidadores devem ser orientados sob o ponto de vista nutricional.
Frequentemente, chegam já malnutridos ao diagnóstico. Esta malnutrição refere-se a uma situação complexa em que há perda de peso, falta de apetite, perda de massa muscular e outras alterações do organismo. É provocada pela conjugação de vários fatores decorrentes da presença de células tumorais.
Por um lado, os sintomas, como a falta de apetite, provocados pelo tumor ou tratamentos, levam a uma ingestão alimentar insuficiente. Por outro lado, a resposta inflamatória leva a alterações metabólicas que culminam na diminuição de músculo, acompanhada, ou não, por perda de gordura.
No doente malnutrido é maior a probabilidade de ter que interromper ou reduzir os tratamentos, de ter complicações pós-operatórias, de ter que ir às urgências ou ficar internado, portanto, é pior o prognóstico.
É por isso importante a identificação pela equipa de saúde, o mais cedo possível, dos doentes de maior risco e a referenciação para a consulta de nutrição.
O acompanhamento é indispensável
Na consulta, o nutricionista faz a avaliação nutricional do doente, o que implica conhecer a doença, o seu estado, tratamentos que fez e vai fazer, sintomas que apresenta e que são esperados; questionar como se está a alimentar, bem como outras questões relacionadas com a nutrição do doente.
Depois, define a estratégia de intervenção nutricional mais adequada, de acordo com as necessidades nutricionais (geralmente aumentadas), as especificidades da doença, mas, também, com os gostos, tolerâncias e possibilidades socioeconómicas do doente.
Na maioria das vezes é feito um aconselhamento alimentar individualizado de forma a que o doente se alimente adequadamente para melhorar o seu estado nutricional.
Pode ser necessário adaptar a frequência ou o volume das refeições ou a consistência dos alimentos tornando-os mais moles ou líquidos. Pode também ser necessário reforçar o aporte de determinados nutrientes como as proteínas, por exemplo, ou pode ser necessário retirar alguns alimentos (mesmo que pareçam os mais indicados ou saudáveis, como os vegetais).
A educação alimentar e o esclarecimento dos inúmeros mitos que rodeiam a alimentação é fundamental para que o doente e família compreendam a importância que esta tem durante os tratamentos e deixem de ter medo de comer.
No entanto, em alguns tipos de cancro e nos doentes com determinados sintomas, não é possível atingir as necessidades apenas com alimentos, sendo recomendada a utilização de suplementos nutricionais orais que, sendo os produtos farmacêuticos com uma interessante composição nutricional, vão ajudar a aumentar o aporte de nutrientes e, assim, evitar a malnutrição ou alguns défices.
Aspetos como o baixo volume e a variedade de sabores poderão ser fundamentais para garantir uma boa adesão, bem como a adequação aos sintomas – por exemplo, existem suplementos com sabores sensoriais específicos para doentes com alterações de paladar.