Ranger ou apertar os dentes é um ato bem mais comum entre a população do que pode pensar. Em termos estatísticos, acredita-se que esse distúrbio está presente em cerca de 20% da população adulta e afeta até 40% das crianças e adolescentes.
Para Ramiro Loureiro, diretor clínico Malo Clinic Coimbra, o bruxismo “caracteriza-se por ser uma atividade muscular involuntária e repetitiva dos músculos responsáveis pela mastigação, o que leva a que se aperte ou ranja os dentes de forma prejudicial”.
Tal acontece devido a uma multiplicidade de fatores que desencadeiam uma resposta atípica, involuntária e indesejada no sistema nervoso central. Facto é que, se persistir de forma regular, pode desgastar os dentes e toda a musculatura da mandíbula.
Embora seja associado quase sempre ao período noturno, uma vez que acontece maioritariamente à noite, durante o sono, também pode ocorrer durante o dia. Temos assim dois tipos de bruxismo, o noturno e o diurno.
O que causa bruxismo?
Se está a viver um período de grande tensão e stresse (nesta altura de pandemia, quem não?), este é o primeiro indicativo de que pode vir a sofrer com o bruxismo. Segundo Ramiro Loureiro, “é provável que, na maioria dos casos, dois ou mais fatores possam atuar em conjunto”.
As principais causas do bruxismo são:
- Stresse e ansiedade;
- Distúrbios do sono;
- Alterações no sistema nervoso central;
- Consumo de determinados fármacos e estupefacientes.
Sintomas a ter em conta
Nem sempre é evidente que um doente sofre de bruxismo, uma vez que “pode ser totalmente assintomático e apresentar apenas sinais de desgaste dentário”, explica o diretor clínico da Malo Clinic Coimbra. Contudo, a maioria demonstra ser sintomática, apresentando tensão e dor muscular na zona da face, cabeça e pescoço, entre outros.
Independentemente das causas, tipologias ou grau de bruxismo – seja quando fazemos fricção entre os dentes de cima e de baixo, em movimentos de um lado para o outro, ou quando apertamos os dentes, com pressão, uns contra os outros –, estes são os sinais a que deve estar atenta:
- Ranger ou apertar de dentes alto o suficientemente para acordar a pessoa ao lado;
- Dores de cabeça;
- Desconforto na articulação temporomaxilar;
- Dores nos músculos da cara e ouvidos;
- Rigidez dos ombros;
- Limitação dos movimentos na abertura da boca;
- Músculos da mandíbula cansados ou presos;
- Perturbações do sono;
- Desgaste ou fratura dos dentes;
- Inflamação das gengivas;
- Sensibilidade dentária.
De todos, as dores de cabeças destacam-se por serem o sintoma mais comum. Aliás, em comparação, ocorrem três vezes mais nas pessoas que sofrem com o bruxismo.
“É importante referir que mesmo os doentes assintomáticos podem, mais tarde ou mais cedo, desenvolver dores musculares, articulares e limitações funcionais”, reforça o especialista.
Fatores de risco
Segundo o nosso entrevistado, “o bruxismo pode desencadear quatro tipos de consequências distintas”, são elas:
- Alterações ao nível da dentição com desgaste e fraturas dos dentes, comprometendo as funções estética e mastigatória;
- Dores musculares na cabeça e no pescoço;
- Dores e alterações da articulação temporomandibular com elevado grau de incapacidade na alimentação;
- Contribuição para a instalação ou perpetuação da dor crónica, com consequências graves a nível do bem-estar geral dos doentes.
Diagnóstico
“Geralmente, a suspeita de bruxismo surge na sequência de relatos de ruídos durante a noite, queixas de dor, tensão muscular, dores de cabeça e sinais de desgaste dentário”, descreve Ramiro Loureiro. “Na presença destes sinais ou sintomas é fundamental consultar o médico dentista de forma a estabelecer um diagnóstico e plano de tratamento.”
Nessa consulta, e após atentar aos diferentes sinais de bruxismo visíveis, como fissuras, fraturas, desgaste ou sensibilidade dentária, o dentista irá confirmar, ou não, o prognóstico.
Prevenir ou tratar?
Ainda sem uma cura, é verdade que existem formas de controlar e suavizar o bruxismo. Mas para começar, a prevenção pode ser uma boa aposta.
“Uma vez que o stresse e a ansiedade são as duas principais causas do bruxismo, encontrar formas de relaxamento e redução dos níveis de stresse, como por exemplo a prática desportiva, pode ser uma forma eficaz de controlar o distúrbio. Em casos com quadros de ansiedade severos, a psicoterapia também é uma opção válida e por vezes fundamental”, esclarece o nosso entrevistado.
Os hábitos alimentares e o consumo de determinadas substâncias também podem influenciar o bruxismo, por isso, quem sofre deste hábito deve “evitar o consumo em excesso de alimentos e bebidas que contenham cafeína e álcool, devido ao potencial de alterarem os padrões de um sono regular e reparador”.
Evite ainda mastigar pastilhas elásticas, “uma vez que intensifica a atividade dos músculos da mastigação potenciando ainda mais os efeitos nefastos da exagerada contração muscular”, acrescenta Ramiro Loureiro.
Caso o bruxismo se faça sentir com alguma intensidade, e a atormente de noite ou de dia, então a solução passa por adquirir uma goteira miorrelaxante, “que são dispositivos personalizados utilizados como uma proteção num dos maxilares e que visam limitar as consequências musculares e dentárias do bruxismo, diminuindo a tensão/dor muscular e prevenindo o desgaste dentário”, explica o médico dentista.
Saiba que, nos casos de bruxismo mais severo, ou seja, em que os dentes já se encontram muito desgastados, o diretor clínico Malo Clinic Coimbra defende que é essencial proceder à reabilitação dos mesmos de forma a assegurar o restabelecimento das funções mastigatória (músculos, dentes e articulação temporomandibular), estética e fonética.
Juntamente com as goteiras miorrelaxantes, pode ser necessário associar medicação, como relaxantes musculares, fisioterapia e ainda terapias alternativas como acupuntura.
Bruxismo nas crianças
“O bruxismo infantil é frequentemente observado durante a dentição de leite e associado à erupção de dentes e ao alinhamento dos mesmos nos maxilares“, começa por explicar o nosso entrevistado.
“Coincide igualmente com fases em que as crianças experienciam desenvolvimentos cognitivos e motores muito acentuados sendo por isso, tal como nos adultos, associado a alterações a nível emocional.”
Quanto aos sinais e sintomas, são semelhante aos do adulto, contudo, a grande parte dos casos tem resolução espontânea, sem necessidade de tratamento. Mas existem alguns casos de bruxismo infantil que são excepção,
“Nos raros casos de maior severidade, importa descartar alterações a nível respiratório (apneia do sono, hipertrofia amigdalina, etc.), distúrbios de hiperatividade e quadros de stresse e ansiedade”, conclui Ramiro Loureiro.