Os calos são provavelmente uma das patologias mais frequente dos pés e comprometem a saúde e a qualidade de vida de quem os tem. Se faz parte do grupo que sofre com este problema, saiba que nem tudo está perdido, pois há formas de aumentar a elasticidade da pele e evitar o seu espessamento nas áreas afetadas.
Para perceber ao certo o que são, como surgem, como se tratam e previnem, falámos com Manuel Portela, presidente da Associação Portuguesa de Podologia, que nos explicou o essencial a saber para que possa melhorar a saúde dos seus pés.
O que são os calos?
“Cientificamente são designados por quertatopatias (patologias da queratina), caraterizam-se por um espessamento anormal da pele. A pele tem uma substância denominada queratina responsável pela sua resistência e elasticidade e quando é sujeita a um excesso de pressão ou fricção num determinado ponto da mesma, é estimulada a produção de queratina pelos queratinócitos, provocando um espessamento exagerado conhecido como calosidade”, começa por explicar o especialista.
A pressão ou atrito intermitentes, geralmente sobre uma superfície óssea, que ocorre em grande parte devido ao calçado inadequado, à atividade profissional ou à prática desportiva, e que implica fricção e pressões constantes, é apontada como uma das principais causas para o aparecimento de calos, mas “podem ainda ser indicativos de problemas mais complexos provocados por deformações na estrutura óssea”, acrescenta Manuel Portela.
Os diferentes tipos de calos
“Existem diferentes tipos de queratopatias e todos elas provocam desconforto e dor, por vezes incapacitante, podendo evoluir para infeções da pele e feridas difíceis de tratar e cicatrizar”, afirma o especialista que destaca estas três:
• Hiperqueratoses: são as calosidades tipicamente da planta dos pés e calcanhares que se caraterizam pelo espessamento da pele em zonas mais amplas e generalizadas.
• Tilomas: são os calos sem núcleo, menos duros, aparecem entre os dedos e na “polpa” dos dedos.
• Helomas: são possivelmente os calos mais complicados e os mais dolorosos, aparecem no dorso dos dedos associados aos dedos em garra e na zona metartársica, planta do pé, com presença de núcleo, normalmente muito duros e profundos.
É importante reter que quanto maior a profundidade, maior é a compressão dos tecidos, nomeadamente dos nervos, provocando por isso dores fortes e até mesmo incapacitantes.
O que provoca o aparecimento de calos?
Os calos ou as calosidades aparecem como mecanismo de defesa da própria pele e, regra geral, ocorrem nas mãos e/ou nos pés.
Nas mãos são mais frequentes em pessoas cuja profissão implique a realização de movimentos repetitivos numa área específica ou a utilização de, por exemplo, ferramentas pesadas. Já nos pés aparecem com mais frequência nas zonas de maior apoio plantar, no dorso dos dedos, associados aos dedos em garra e entre os dedos, devido à pressão provocada pelos sapatos estreitos.
Segundo o presidente da Associação Portuguesa de Podologia, “os idosos estão mais expostos a este problema, já que o tecido subcutâneo e gordura presentes na planta dos pés diminui, assim como a elasticidade dos tecidos. Não obstante, as articulações do pé e dos dedos do pé também sofrem alterações morfológicas e funcionais, ficando mais proeminentes e criando zonas de conflito”.
Possíveis tratamentos
Saiba que retirar os calos ou as calosidades não é, de todo, o melhor procedimento. “Deverá ser investigada a causa destas queratopatias e direcionar o tratamento em função da causa. Se estivermos perante um pé cavo, por exemplo, deveremos em primeiro lugar compensar este pé, redistribuindo os pontos de pressão plantar, e posteriormente retirar os calos ou calosidades”, explica Manuel Portela. Este mesmo método é também utilizado para os calos associados às artroses dos dedos, para os dedos em martelo ou em garra, para a compressão interdigital.
Assim, o tratamento deverá ser sempre orientado em função da causa e a realização de um estudo pormenorizado é imprescindível, pois permite realizar e aplicar tratamentos corretivos capazes de tratar definitivamente esta patologia.
“Não se deve usar queratolíticos (calicidas), lâminas, limas ou lixas para retirar os calos, devem ser avaliados pelo podologista e tratados convenientemente”, afirma o especialista que acredita que o essencial para tratar e prevenir os calos é “a aplicação de um creme hidratante de forma a aumentar a elasticidade da pele, a diminuir a atividade dos queratinocitos e evitar o espessamento da pele”.
É possível eliminar os calos definitivamente?
De acordo com o presidente da Associação Portuguesa de Podologia, a maioria dos calos tendem a desaparecer gradualmente, quando a fricção ou a pressão que o causam é cessada.
Contudo, há outra medidas que podem influenciar o tratamento. “É possível eliminar os calos através da introdução de hábitos de higiene dos pés, aplicação de hidratantes diariamente, modificar o tipo de calçado quando necessário e corrigir alterações de postura incorreta dos pés ou dos dedos.”
“Estas correções podem ser conservadoras através de ortótese customizadas ou pequenas intervenções cirúrgicas de algumas deformidades, como os dedos em garra ou artroses dos dedos, para corrigir o posicionamento dos dedos”, acrescenta o podologista.
Assim, sempre que seja identificada a causa é possível eliminar definitivamente os calos.
Prevenir é a chave
Como em quase todas as patologias de saúde, a prevenção é essencial. No caso dos calos, e segundo o especialista, “a melhor forma de prevenção é prestar atenção aos sinais que os pés nos dão”.
“O calçado é extremamente importante nestas situações, especialmente se passarmos muito tempo em pé ou a caminhar. Como tal, devemos mudar o calçado que utilizamos no local de trabalho, isto é, optar por um calçado mais confortável“, esclarece Manuel Portela.
O mesmo se aplica durante a prática de desporto, onde o calçado também deve ser adequado ao exercício que está a ser praticado.
Para além disso, um dos passos essenciais para prevenir o aparecimento de calos e, consequentemente, as dores associadas, é mesmo a hidratação diária da pele, uma vez que os calos surgem devido ao excesso de pressão.
Cuidados a ter com os pés
- Realizar uma esfoliação e colocar um creme hidratante para deixar a pele mais suave;
- Usar calçado adequado e que respeite o comprimento e a largura do pé;
- Ingerir muitos líquidos para evitar a xerose cutânea, pele seca, que está intimamente associada ao aparecimento das calosidades.
O cuidado com os pés deve ser regular, principalmente após o banho. “Deve secar muito bem os pés, designadamente entre os dedos, e colocar sempre hidratante”, remata Manuel Portela.
Caso haja necessidade de uma intervenção clínica, aí deve sempre consultar um especialista no assunto para que seja feito um diagnóstico e, a partir daí, descobrir qual o melhor tratamento.