Cancro da mama. Conheça os fatores de risco e os sinais aos quais deve estar atenta
Há cada vez mais casos de cancro de mama em todo o mundo. Um estilo de vida saudável é fundamental para a prevenção. Mas será suficiente? Não. O importante é estar atenta. Recorde os fatores de risco, os sintomas e saiba o que está ao seu alcance para prevenir a doença.
“O cancro de mama é uma epidemia que tem vindo a aumentar”. Quem o afirma é Carlos Rodrigues, coordenador da Unidade da Mama do Hospital CUF Santarém.
“Este é o tipo de cancro mais comum entre as mulheres (não considerando o cancro da pele). E corresponde à segunda causa de morte por cancro, na mulher“, alerta.
A incidência desta doença na Europa ocidental é de 90 novos casos por ano em cada 100 mil habitantes. E em Portugal é semelhante.
Em termos objetivos, no nosso País são detetados cerca de sete mil novos casos de cancro da mama por ano. Apesar desta doença ser mais frequente entre os 50-70 anos, nas restantes idades também surgem imensos casos.
A taxa de sobrevivência depende do estádio da doença. Aos cinco anos, para mulheres com carcinoma da mama no estádio 0 ou estágio I (situações de cancro inicial), é perto de 100%. No estágio IV (cancro muito avançado já com atingimento de outros órgãos), as pacientes têm uma taxa de sobrevivência relativa de 22%.
Em Portugal, a sobrevivência global aos cinco anos é de 85%, a quinta melhor a nível europeu.
Carlos Rodrigues lembra que esta é uma das doenças com maior impacto na nossa sociedade. “Afeta um órgão cheio de simbolismo, na maternidade, na feminilidade, na sensualidade, sexualidade e socialmente exposto”.
No que diz respeito a novos estudos sobre o cancro da mama, admite que cada vez sabemos mais, mas ainda falta saber imenso. “Sabemos que esta doença raramente se controla apenas com o bisturi. Sabemos também que a busca de tratamentos dirigidos, biológicos será o futuro e irão aumentar ainda mais as taxas de sucesso”.
Aproveite estas (últimas) palavras de esperança e comece já a tirar todas as dúvidas sobre o cancro da mama.
O que é o cancro da mama?
O cancro da mama, tal como qualquer outro cancro, tem origem em células que deixaram de responder à programação interna, começa por explicar Ida Negreiros, coordenadora da Unidade da Mama da CUF Lisboa.
Segundo a médica, estas células deixaram de saber quando devem dividir-se e quando devem morrer. Assim, dividem-se descontroladamente e dificilmente morrem.
Resumindo, “o cancro da mama é um conjunto de células da mama que perdeu os seus mecanismos de regulação. Por isso cresce na mama e a partir desta pode disseminar-se”.
Fatores de risco e causas para o seu aparecimento
De acordo com Ida Negreiros, há fatores de risco para o cancro da mama que não podem ser modificados. Por exemplo, ser mulher. Apesar de existir cancro da mama no homem, o risco é muito baixo. “Quanto a estes fatores, nada se pode fazer”, lamenta. São eles:
• A idade (> 55 anos);
• A idade precoce da primeira menstruação (< 12 anos);
• A idade tardia da menopausa (> 55 anos);
• A genética.
Segundo a médica, existe atualmente uma grande preocupação com as causas genéticas, mas estas existem apenas em 5 a 10% dos tumores da mama. “Nestes casos, costuma haver na família outros casos de cancro da mama ou de outros órgãos, em mais do que um familiar, frequentemente em idades jovens.”
Também há antecedentes pessoais que podem aumentar o risco de cancro, continua Ida Negreiros. É o caso de a paciente já ter tido um cancro da mama, ter feito tratamentos de radioterapia ao tórax, antes dos 30 anos, e de ter feito tratamento hormonal de substituição para a menopausa.
Sobre os fatores de risco e causas para o aparecimento do cancro da mama, Carlos Rodrigues enfatiza que a grande maioria dos casos (90%) surge de forma esporádica, ou seja, em famílias sem risco específico identificado. São eles:
• Sedentarismo;
• Tabagismo e consumo excessivo de álcool;
• Não amamentar;
• Excesso de peso;
• Alimentação pouco saudável (com excesso de gorduras saturadas e carnes vermelhas);
• Terapêutica hormonal prolongada e sem aconselhamento médico adequado.
Sintomas do cancro da mama
Carlos Rodrigues chama a atenção para que se tenha sempre presentes estes sinais de alerta, que devem motivar a ida rápida ao médico.
• Qualquer alteração na mama ou no mamilo, quer no aspeto quer na palpação;
• Qualquer nódulo ou espessamento na mama, perto da mama ou na zona da axila;
• Sensibilidade no mamilo;
• Alteração do tamanho ou forma da mama;
• Retração do mamilo (mamilo virado para dentro da mama);
• Pele da mama, aréola ou mamilo com aspeto escamoso, vermelho ou inchado; pode apresentar saliências ou reentrâncias, de modo a parecer “casca de laranja”;
• Secreção ou perda de líquido pelo mamilo.
Como se previne este cancro?
“Com hábitos de vida saudável: alimentação variada e equilibrada (rica em frutas e vegetais), manter o peso controlado, fazendo exercício físico, não fumar nem consumindo álcool. A maternidade e a amamentação também são um fator protetor”, respondem prontamente os especialistas.
Mas Carlos Rodrigues lembra ainda algo mais radical. “Nos casos hereditários, ou seja, com mutação genética identificada, deve realizar-se mastectomia profilática (de prevenção). Pode também realizar-se a reconstrução mamária, se a mulher assim o desejar.”
Como se deteta o cancro da mama?
O coordenador da Unidade da Mama na CUF Santarém aproveita esta questão para alertar que o cancro de mama habitualmente só dá sintomas em fases mais avançadas da doença.
“Um nódulo mamário só se consegue palpar quando tem pelo menos 1 cm, o que significa que a doença já existe há alguns anos”, explica. E acrescenta que o objetivo é tentar que o diagnóstico seja feito antes disso, quando a doença não se palpa e não dá sintomas.
Ou seja, “a forma como frequentemente um cancro da mama é detetado precocemente não é pela doente, mas por alterações nos exames de rotina, em mulheres sem qualquer sintoma“, complementa Ida Negreiros.
A doença deteta-se através da realização de imagiologia mamária de rastreio (mamografia e ecografia mamária), de forma periódica, em locais de qualidade. “Atenção que o corrimento mamilar com sangue ou de cor castanha também deve ser valorizado e levar a doente a procurar o médico”, alerta a médica.
“Em caso de suspeita de cancro da mama, está indicada a realização de uma biópsia mamária“, acrescenta o ginecologista. E lembra que, nesse percurso de diagnóstico, poderão ser necessários exames adicionais da mama, como a ressonância magnética, ou de outras partes do corpo, como a ecografia abdominal, radiografia do tórax, cintigrafia óssea ou TAC torácica, abdominal e pélvica.
Após o diagnóstico, caracterização biológica do tumor e a avaliação da extensão da doença, a equipa médica tem de programar o plano de tratamentos.
O importante a reter, segundo estes especialistas, é que as mulheres, cujo diagnóstico seja feito na fase inicial, têm muito mais chances de cura com tratamentos mais simples.
Quais os tipos desta doença?
De uma forma muito simplificada, podemos dizer que a maioria os tumores da mama são ductais e os restantes lobulares, informa Ida Negreiros. E acrescenta que, dentro destes dois grandes grupos, a maioria é sensível às hormonas, havendo também nos dois grupos tumores não sensíveis a hormonas.
O médico aproveita para acrescentar que o cancro pode ser intraductal ou “in situ”, isto é, uma doença sem capacidade de se disseminar para outros órgãos.
No caso de ser invasivo, ou seja, com capacidade de sair para fora da mama e atingir outros órgãos, divide-se de acordo com uma classificação molecular em Luminal A, Luminal B, HER2 positivo e basal-like.
Quais os tratamentos?
Segundo os entrevistados, podemos sistematizar os tratamentos do carcinoma da mama em:
• Locais: cirurgia e radioterapia. Focam-se apenas na mama.
• Sistémicos: quimioterapia / hormonoterapia / tratamentos biológicos. Destinam-se a evitar que a doença apareça noutras partes o corpo.
O cancro de mama é uma doença que contém muitas doenças diferentes e a maneira como cada uma é tratada também poderá ter diferenças, explicam. “As doentes poderão necessitar de todos aqueles tratamentos ou apenas de alguns. Além disso, a sequência com que são realizados depende da especificidade de cada caso”, esclarecem.
O desafio na recuperação
A recuperação é muito variável, de acordo com cada doente e com os tratamentos realizados. “Numa doente que necessite de cirurgia, quimioterapia e radioterapia, sensivelmente dez meses após o diagnóstico da doença, terá completado o seu percurso terapêutico”, complementa o ginecologista.
A partir daqui, a paciente estará apta a regressar à sua vida anterior ao diagnóstico. Claro que “com as devidas adaptações ou limitações específicas, tendo em conta as sequelas provocadas pelos tratamentos (muito variáveis em cada caso)”, alerta.
O médico até se regozija ao dizer que a grande maioria das doentes mantém uma vida muito parecida com a que tinha anteriormente. Seja como for, todas mantêm seguimento especializado durante pelo menos 10 anos.
Ajudas técnicas depois de uma mastectomia
“Depois de uma mastectomia total sem reconstrução, é possível utilizar próteses externas para compensar a falta da mama“, informa a coordenadora da Unidade da Mama da CUF Lisboa. “Há também soutiens nos quais é mais fácil colocar a prótese, e até fatos de banho adaptados para esse fim”, esclarece.
Mas, tal como nos explica Carlos Rodrigues, cada vez menos se fazem mastectomias. “Com o aumento do diagnóstico precoce, a maioria das doentes pode ser tratada com cirurgia conservadora, isto é, retirando apenas o tumor e conservando a mama”.
O ginecologista informa ainda, que nos casos em que seja necessário remover toda a mama (mastectomia), deve ser sempre oferecida à doente a possibilidade de realizar uma reconstrução.
“A cirurgia estética e reconstrutiva é parte integrante do tratamento. Atualmente não se pode conceber o tratamento destas mulheres de outra forma. Este acesso tem de ser universal, rápido e de qualidade”, sublinha. E ressalta ainda: “é considerado critério de qualidade quando uma Unidade de Mama tem taxa de cirurgia conservadora acima de 60%”.
Ida Negreiros ainda vai mais longe ao dizer que os procedimentos de reconstrução não tentam apenas que a mama afetada fique bem. É importante que fique equilibrado o conjunto das duas mamas. Por isso, pode ser necessário intervir na outra mama, com intenção de as simetrizar.
Mas atenção que a necessidade de fazer uma mastectomia total ou apenas parcial depende de vários fatores. O principal é a relação entre o tamanho do tumor e o tamanho da mama. “Terão mais possibilidades de conservar a mama as mulheres a quem o cancro foi diagnosticado pequeno”, finaliza Ida Negreiros.
Cancro da mama e a idade
Nas mulheres mais jovens, é mais frequente que os tumores sejam mais agressivos e com necessidade de tratamentos também mais agressivos, informa Carlos Rodrigues.
Mas, de acordo com a médica entrevistada, isso não quer dizer que seja mais difícil para uma mulher mais nova “sair” da doença do que uma mais velha. “Tudo depende do estádio no diagnóstico e da agressividade biológica do tumor“.
“Nas mulheres jovens, no auge da sua vida profissional, compromissos sociais e familiares, por vezes ainda com desejo de maternidade, sonhos e planos, o diagnóstico de um cancro de mama é psicologicamente devastador”, lamenta o ginecologista. E alerta que a quimioterapia pode causar infertilidade de imediato ou anos depois, por danos nos óvulos e nos folículos ováricos.
Mas isso depende do tipo de tumor, do tipo de tratamento, do tipo de medicamento utilizado, da dose e do número de sessões. “O ideal é que a mulher jovem seja avisada desta situação e ter a opção de colher e criopreservar ovócitos. Assim, mantém a possibilidade de ter filhos após a quimioterapia”, esclarece.
Além da questão da fertilidade, Carlos Rodrigues explica que a mulher enfrenta três grandes desafios:
• Aceitação de si própria após as sequelas físicas e psicológicas deixadas pelo tratamento;
• Manutenção de uma vida sexual/conjugal saudável;
• Regresso à sua atividade laboral.