Tudo o que precisa de saber sobre o Cancro no Sangue
Setembro assinala o mês do Cancro no Sangue. Ao contrário de outros tipos, este cancro ainda é pouco conhecido pela população portuguesa. Cristina Godinho, enfermeira no IPO de Lisboa, explica tudo sobre esta condição, que por vezes é silenciosa.
Um diagnóstico precoce faz a diferença quando se trata de cancro, daí ser fundamental conhecer esta doença e ter em atenção os possíveis sintomas e sinais de alerta.
A Saber Viver conversou com Cristina Godinho, enfermeira no Hospital de Dia de Quimioterapia e Hemato-oncologia do IPO de Lisboa, para descobrir tudo sobre o cancro no sangue.
O que é o Cancro no Sangue
De acordo com a enfermeira, este tipo de cancro tem origem no sangue e também no sistema imunitário, que protege contra infeções, vírus e até mesmo do cancro em si, visto que este é causado por uma disfunção no crescimento e comportamento celular.
Uma produção excessiva de glóbulos brancos na medula óssea pode também, em alguns casos, provocar o aparecimento de diferentes tipos de cancro do sangue.
Tipos de cancro
Existem vários tipos deste cancro, nomeadamente a leucemia, o mieloma múltiplo e os linfomas.
Leucemia
São quatro as variações da leucemia, “sendo que a maioria se desenvolve a partir das células que vão dar origem a glóbulos brancos”, afirma Cristina Godinho.
São estes a leucemia mieloide aguda (LMA), a leucemia mieloide crónica (LMC), a leucemia linfoblastica aguda (LLA) e a leucemia linfoide crônica (LLC). A leucemia não é um cancro hereditário.
Este tipo de cancro no sangue “causa um acumular de células doentes na medula óssea, substituindo de forma descontrolada as células saudáveis, o que predispõe o organismo a infeções, anemia e hemorragias”, acrescenta.
Linfomas
Há dois tipos de linfomas, sendo estes o linfoma de Hodgkin e o linfoma não Hodgkin. Estes afetam o sistema linfático, que é composto por uma rede de pequenos vasos e gânglios.
Existem várias causas para o seu aparecimento, “como exposição a vírus (EBV, HIV), ou outros agentes infeciosos, doenças autoimunes ou estados de imunossupressão prévios (em doentes transplantados, por exemplo)”, indica Cristina Godinho.
Mieloma múltiplo
Por fim, o mieloma múltiplo. Este pode afetar os ossos, mas é necessário saber que o mieloma não é caracterizado como um cancro nos mesmos.
Este tipo de cancro do sangue “atua em células específicas dos glóbulos brancos e desenvolve-se quando estas células se tornam anómalas e se multiplicam”, explica a enfermeira.
Não é uma doença hereditária, sendo que os familiares diretos do doente não precisam de ser rastreados.
Sintomas
Não só se manifestam em locais diferentes do corpo, como cada cancro do sangue tem sinais de alerta a ter em atenção.
- Leucemia – febre, suores noturnos, cansaço, anemia, infeções recorrentes, sangrar e fazer nódoas negras muito facilmente, dores articulares;
- Linfomas – inchaço nos gânglios linfáticos na virilha, axila, pescoço, parte de trás das orelhas e parte de trás da cabeça;
- Mieloma múltiplo – diminuição da força muscular, sensibilidade nas mãos e pés, falta de apetite, fadiga, perda de peso, dor nos ossos.
Diagnóstico e tratamentos
Se apresentar estes sintomas é aconselhado consultar um profissional de saúde para observação. Depois desta o paciente pode ser encaminhado para um hematologista, se assim se justificar.
Este médico irá então colher dados da história clínica e familiar, observá-lo e pedir exames. Cada caso é um caso, e “cada doença tem o seu método de diagnóstico adequado, e cabe ao hematologista avaliar cada situação”, confirma Cristina Godinho.
Em relação aos tratamentos, a enfermeira explica que para este tipo de cancro os pacientes costumam fazer quimioterapia, quer endovenosa quer via oral, radioterapia e imunoterapia. Diz também que em alguns casos o transplante de medula é uma opção.
Destaca a evolução dos tratamentos, em particular para o mieloma múltiplo, que aumentam a qualidade de vida dos doentes bem como a sua sobrevida.
Incidência na população portuguesa
- Leucemia – a LLC é a mais comuns em idade adulta, enquanto a LLA é mais frequente em crianças. Já a LMA é uma doença rara;
- Linfoma de Hodgkin – entre os 15 e os 30 anos, e depois dos 60;
- Linfoma não Hodgkin – incidência ligeiramente superior nos homens, sendo que aumenta com a idade (44,6 casos/100.000 habitantes depois dos 65 anos). É pouco frequente em crianças;
- Mieloma múltiplo – são registados no país entre 300 e 500 novos casos por ano. É mais frequente em homens, dos 50 aos 70 anos.
Percussões na saúde mental e física
Receber um diagnóstico de cancro gera ansiedade, medo e incerteza. De acordo com Cristina Godinho, “o doente pode passar por fases com aumentos de níveis de depressão, tendendo a isolar-se ou a ter pensamentos mais negativos”.
O paciente pode ainda vir a sentir uma diminuição de autoestima, devido às transformações físicas causadas pelos tratamentos.
Ao longo do decurso da doença, é fundamental que o paciente tenha acompanhamento familiar e profissional, de forma a que consiga gradualmente adaptar-se a esta nova fase da vida.
A enfermeira aconselha os pacientes a manterem-se ativos, seja com um curto passeio ou em atividades de grupo com troca de experiências.
“Os hospitais estão dotados de equipas multidisciplinares que acompanham o doente no percurso de doença, o doente não é visto de forma fragmentada, mas sim como um todo, quer a nível físico quer a nível mental, duas esferas intimamente ligadas”, acrescenta.
Prevenção
- Evitar fumar;
- Praticar exercício físico;
- Evitar excesso de açúcares e de álcool;
- Controlar o peso.
O diagnóstico precoce do cancro do sangue aumenta, em muito, a percentagem de cura. É recomendado estar sempre atenta aos sinais e sintomas, bem como ir regularmente ao médico.