9 perguntas e respostas sobre a candidíase vaginal
A estatística diz-nos que cerca de 75% das mulheres terá candidíase vulvovaginal pelo menos uma vez na vida. É uma percentagem mais do que suficiente para querermos saber tudo sobre esta incomodativa infeção, desde a prevenção ao tratamento.
O que é afinal a candidíase vulvovaginal? O que causa esta infeção? Só nós, mulheres, devemos ser tratadas ou também os nossos parceiros sexuais?
Ana Maria Coelho, ginecologista-obstetra do Hostpial CUF Infante Santo, responde às principais dúvidas relacionadas com aquela que é a infeção ginecológica mais comum.
1. O que é a candidíase?
Trata-se de uma das infecções ginecológicas mais frequentes, causada pelo predomínio de um tipo de fungo na vagina do género Candida. Das várias espécies de Candida, a Candida albicans é a mais comum, sendo responsável por cerca de 90% dos casos.
2. Com que frequência afeta a mulher?
Em termos de incidência podemos dizer que cerca de 75% das mulheres terão pelo menos um episódio ao longo da vida e aproximadamente 40-45% terão dois ou mais episódios.
3. Quais são as principais queixas associadas à infecção vulvovaginal fúngica?
A mulher queixa-se habitualmente de prurido (comichão) vulvar, associado a ardor vaginal, além de dor/desconforto durante a atividade sexual (dispareunia). Manifesta-se por um corrimento branco, grumoso e espesso, comparado ao aspeto de um requeijão, que não apresenta geralmente odor desagradável.
Durante a observação ginecológica, as paredes da vagina apresentam-se espessadas e avermelhadas, revestidas por placas de corrimento fortemente aderente. Pode existir igualmente inflamação, acompanhada de fissuras (gretas) na vulva. Estes sintomas podem agravar-se nos dias que antecedem o fluxo menstrual.
4. Estamos a falar de uma infecção sexualmente transmissível?
A candidíase não é uma infecção sexualmente transmissível. A Candida é um fungo que está presente naturalmente na nossa flora biológica entre milhões de outros microorganismos.
Em situações normais, um sistema imunológico competente e a presença equilibrada de outros microorganimos na nossa flora natural impedem que a Candida se multiplique exageradamente. Por esse motivo, estar colonizada pelo fungo Candida não é sinónino de ter uma infecção.
Tratando-se de um microorganismo oportunista, aproveita-se de situações de deficiência do sistema imunológico ou de alteração da composição da flora vaginal para se multiplicar e provocar infecções com as queixas já referidas.
5. Quais são as causas conhecidas desta vulvovaginite?
Em regra, a Candida prolifera nas situações de deficiência do sistema imunológico, alteração da flora microbiana vaginal e aumento do pH vaginal. São vários os factores de risco conhecidos, nomeadamente:
• uso recente de antibióticos. Cerca de 25 a 30% das mulheres que são medicadas com um antibiótico de largo espectro desenvolvem consequentemente uma infecção fúngica pela interferência negativa sobre as bactérias da flora vaginal;
• imunossupressão secundária a doenças como SIDA, decorrente de tratamento de doenças autoimunes ou oncológicas, ou por medicação prolongada com corticóides, aumentam o risco de candidíase pela interferência negativa no desempenho no nosso sistema imunológico;
• diabetes mellitus, principalmente se apresentarem um deficiente controlo metabólico;
• alterações hormonais. Níveis baixos de estrogénios interferem no pH e na composição da flora vaginal, aumentando o risco de candidíase.
6. Como é feito o diagnóstico?
O diagnóstico baseia-se nos dados clínicos descritos. Pode ser confirmado laboratorialmente pelo exame microscópico do exsudado (corrimento) vaginal colhido com o auxílio de uma zaragatoa.
A observação ginecológica por um especialista é fundamental para o despiste de outras causas de corrimento vaginal e para o correto tratamento.
7. Todas as mulheres devem ser tratadas? E os seus parceiros sexuais?
Pelo que já foi descrito, as mulheres que não apresentem queixas não devem ser tratadas. Na abordagem do tratamento, consideramos dois tipos de candidíase:
1. Forma não complicada: surge de forma esporádica numa mulher com um sistema imunológico competente, com manifestações ligeiras e provocada pelo género albicans. Anti-fúngico oral (toma única) ou aplicação tópica (creme ou óvulos) são formas de tratamento igualmente eficazes.
2. Forma complicada: surge com manifestações graves numa mulher imunodeprimida ou com diabetes mellitus descompensada, provocada por géneros não-albicans e pode surgir de forma recorrente (4 ou mais episódios por ano). Anti-fúngicos orais em tomas repetidas e/ou aplicação tópica prolongada (14 dias).
Apenas os parceiros sexuais que apresentem queixas devem ser igualmente tratados.
8. E se a candidíase recorrer? É motivo para alarme?
Conforme referido, se se registarem dois ou três episódios por ano, com manifestações ligeiras a moderadas e numa mulher saudável, não deve ser motivo para alarme. Os episódios devem ser pontualmente tratados e não há indicação para reavaliação posterior se a mulher tiver ficado sem queixas.
Os casos de manifestações mais graves, que recorrem numa mulher debilitada numa frequência de quatro ou mais vezes por ano, devem obrigar o especialista a confirmar. A confirmação é feita por exame cultural do exsudado vaginal, indicando o género causador e adequar o tratamento. Dentro do possível, o(s) factor(es) de risco identificado(s) naquela mulher devem ser corrigido(s)/controlado(s) e pode haver indicação para reavaliação posterior e tratamento de manutenção semanal.
9. Que medidas podem ser adoptadas para prevenir esta infecção?
Para além de medidas relacionadas com as causas descritas, outras deve ser adotadas de forma a manter hábitos saudáveis de higiene íntima. Alguns exemplos passam por não usar diariamente penso higiénico nem fazer duches vaginais. Deve-se também evitar vestuário apertado ou detergentes para a roupa com corantes ou perfumes. E ainda, preferir um produto hipoalergénico específico para a lavagem genital e fazê-lo logo após atividade física e sexual.
O uso simultâneo de um probiótico, sempre que for necessária medicação com antibiótico, pode diminuir o risco de candidíase.
Fonte: Ana Maria Coelho, ginecologista-obstetra do Hostpial CUF Infante Santo. Edição de Carolina de Almeida
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