Enquanto nutricionista que trabalha na área clínica, claramente que um dos motivos mais frequentes de vinda a uma consulta de nutrição é a necessidade de emagrecimento. Contudo, sinto sempre que é importante explicar que uma coisa é perder peso e outra é emagrecer. E porquê?
Perder peso de forma genérica é a diminuição do total de massa corporal, que pode incluir muito mais do que a gordura, como água e massa muscular. Assim, embora a perda de peso possa ser uma meta para muitas pessoas é fundamental perceber que nem toda a perda de peso é benéfica para a nossa saúde. Se realizada de forma desequilibrada, podem acontecer défices nutricionais, perda de massa muscular e até alterações hormonais.
No caso do emagrecimento, este refere-se à diminuição de gordura corporal em que o objetivo passa também por manter a massa muscular, geralmente conseguido com uma mudança dos hábitos alimentares de forma equilibrada, bem como alterações do estilo de vida com incentivo à prática de atividade física.
E, como tal, é um processo que demora o seu tempo! Costumo dizer várias vezes que isto não é um sprint, mas sim uma maratona com os seus altos e baixos. Mais importante que perder peso é ganhar saúde.
Sabendo de antemão tudo isto, será mais fácil entender que o emagrecimento não pode passar só por fazer o que os outros dizem que fazem, ou por pensar que só aquele alimento super saudável é o segredo para perder peso.
Um dos grandes erros é acreditarmos que determinados alimentos nos vão mudar ou que a dieta da moda é que vai resultar, quando na realidade o que tem de mudar é o nosso mindset.
Por isso, diria que um dos pontos que pode atrapalhar o processo de emagrecimento é mesmo a falta de conhecimento sobre a nutrição em si. É fundamental que haja literacia nutricional para que se possa aprender a fazer escolhas mais saudáveis e equilibradas. E, se perceber que não consegue fazê-lo sozinho, pedir ajuda a um nutricionista para lhe traçar todo um plano alimentar personalizado e adequado às suas necessidades individuais, gostos e objetivos.
E quando já se é acompanhado por um nutricionista e o corpo parece não responder?
O nosso corpo é uma máquina extraordinária e quando ele não reage, e já temos tudo na equação para que o resultado seja o expectável, ficamos sempre mais apreensivos sobre o porquê desse acontecimento.
Em consulta, gosto sempre de voltar a rever o plano com a pessoa para tentar perceber se está a fazer algo errado, ou se há algo que se possa mudar para garantir o défice calórico necessário ao processo de emagrecimento. Porém, quando percebo que a pessoa está a fazer tudo direitinho e, mesmo assim, o corpo permanece resistente, poderá ser indicativo de alterações hormonais, sejam femininas, insulínicas, tiroideias e até mesmo das glândulas suprarrenais pelo cortisol.
Geralmente, nestas situações, peço sempre que seja consultado o médico para que possam ser feitas análises a fim de perceber se existe alguma alteração e em função disso adaptar. Outro motivo que não ajuda é, claramente, o estilo de vida que muitas vezes está fortemente correlacionado com o aumento de stress e/ou ansiedade diária.
O estilo de vida muitas vezes agitado, sempre a correr e sem tempo para nada de forma constante, pode originar um desequilíbrio das glândulas suprarrenais levando a um aumento da produção do cortisol.
Ou seja, o cortisol é uma hormona vital para o organismo, mas que também é conhecida como a hormona do stress, uma vez que em momentos de maior stress esta hormona é libertada de forma a poupar energia corporal, regular o humor e controlar a pressão arterial. Além disso, sabe-se que pode aumentar a necessidade de comer alimentos com maior densidade calórica e isso originar um aumento de peso.
E como podemos nós controlar isso?
É aí que a atividade física, meditação, yoga, exercícios de respiração, entre outros, se tornam estratégias que nos podem ajudar a gerir o stress.
E em último mas não menos importante, a falta de motivação.
Quando se inicia o processo de emagrecimento costumo dizer para definir objetivos realmente importantes e que não passem só porque “quero ter o peso X para a praia”. E porquê?
Porque o processo de emagrecimento é um desafio constante. É-se colocado à prova várias vezes durante o mesmo e se não pensarmos na mudança para além do peso, facilmente deixamos os novos hábitos alimentares que estamos a tentar implementar.
É fundamental mudar para ter mais saúde e perceber que para isso não deixamos de ter vida social e gosto por determinado tipo de alimentos. Não vamos deixar de consumir o que mais gostamos, apenas vamos aprender a fazê-lo de forma mais equilibrada e consciente. Por isso, uma das formas de não perder a motivação é celebrar cada conquista e cada mudança de hábito alimentar, que o corpo encarrega-se de agradecer.
Formada em Ciências da Nutrição, pelo Instituto Superior de Ciências da Saúde Egas Moniz, Inês Soares possui ainda uma pós-graduação em Nutrição Pediátrica, pelo Instituto de Ciências da Saúde da Universidade Católica Portuguesa. Neste momento, está a fazer formação em Microbiota, sendo que as áreas que mais estuda são a microbiota intestinal e o sistema gastrointestinal, no geral. Porém, costuma dizer que é uma apaixonada nata pela nutrição. Podem encontrá-la na clinica IaraRodrigues, onde é nutricionista e dá consultas, desde 2017.