© Unsplash
Coronavírus: tudo o que precisa de saber pela voz de um especialista

Coronavírus: tudo o que precisa de saber pela voz de um especialista

Originário na China, o coronavírus está entre os humanos, causando doenças do foro respiratório e, no pior dos cenários, a morte. A evolução deste quadro, agora ao nível mundial, tem sido acompanhado de perto por uma população atenta. Falámos com um especialista em doenças infecciosas.

Por Jan. 28. 2020

Se tem estado atenta à comunicação social nos últimos tempos, é praticamente impossível que não se tenha cruzado com as notícias que fazem referência ao novo coronavírus, o 2019-nCoV.

Tudo terá começado em meados de dezembro de 2019 na cidade de Wuhan (com 11 milhões de habitantes), na China, num mercado de marisco e carnes, onde pessoas e animais vivos convivem de perto.

A maioria dos casos infecciosos – semelhantes a uma gripe, ou em ocorrências mais graves, uma pneumonia – surgiram associados a este local e embora a origem da infeção seja desconhecida, pensa-se que tenham sido animais infetados a transmiti-lo aos humanos. A necessidade de mais investigação é, pois, uma realidade.

No decorrer de 2020, a evolução do coronavírus tem sido acompanhada de perto pelas autoridades internacionais. Em números e até à data, contabilizam-se mais de 4 mil casos, com 107 mortes e 63 recuperações confirmadas, em mais de uma dezena de países, apesar de o foco principal ser sobretudo a China – que celebra, nestes dias, o ano novo lunar, com viagens internas na ronda dos milhões.

Na Europa, há 2 casos registados, em França e na Alemanha, contudo, o Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças (ECDC) considera a importação de casos infetados para os países Europeus uma probabilidade moderada. Devem-se, pois, cumprir as medidas adequadas de prevenção e controlo da infeção.

O quadro real da mesma poderá ser acompanhado de perto, com uma atualização direta aqui. Também o Sistema Nacional de Saúde português disponibiliza informação pormenorizada relevante, e a linha Saúde 24 poderá vir a ser uma ferramenta útil, em caso de necessidade.

Para já conversámos com João Farto e Abreu, especialista em doenças infecciosas da Clínica CUF Alvalade e do Hospital CUF Cascais, e fizemos as principais questões que queremos saber e cujas respostas nos vão manter por dentro do assunto.

Coronavírus: as respostas às principais perguntas

O que é o coronavírus?

São um grupo (família) de vírus que podem infetar humanos e animais. Só desde há alguns anos, já em pleno século XX, é que se lhes dá mais atenção em Medicina, a partir do aparecimento do SARS (Síndrome Respiratório Agudo Grave), em 2003, e do MERS (Síndrome Respiratório do Médio Oriente), em 2012.

(…) as primeiras e principais medidas de contenção já estão em curso: rastreio, diagnóstico e isolamento dos casos suspeitos e regiões de origem – João Farto e Abreu, especialista em doenças infecciosas

O que se sabe sobre o coronavírus que apareceu na China, designado 2019-nCoV?

É um serótipo novo, daí o nome com que foi batizado: 2019-nCoV (o “n” significa “novel”, novo). A importância aqui é que, sendo novo, a raça humana ainda não possui imunidade adquirida contra ele. Daí o perigo potencial, porque as pessoas infetadas estão “virgens” do ponto de vista imunitário (de defesas).

Ainda não se pode falar em disseminação. A China tem uma população de cerca de 1,5 mil milhões de pessoas e até agora existem centenas de casos identificados.

Irão aumentar muito em número, mas não é de esperar que isso aconteça de uma forma descontrolada, na medida em que as primeiras e principais medidas de contenção já estão em curso: rastreio, diagnóstico e isolamento dos casos suspeitos e regiões de origem.

Como é que ocorre a transmissão entre pessoas e qual o período de incubação?

Pela inspiração de micro gotículas emitidas pelos doentes infetados: tosse, espirros, etc. – mas com menos facilidade do que na gripe ou nas “constipações” comuns. E também através das mãos contaminadas com essas gotículas e outros produtos biológicos infectados, pois o vírus entra principalmente pela boca, nariz e olhos.

Pensa-se que será necessário um contacto próximo para o contágio se efetuar. Por sua vez, o período de incubação [tempo que ocorre desde a infeção até ao aparecimentos dos primeiros sintomas] pondera-se que seja de 2 a 10 dias, dependendo de vários fatores.

Não existe uma terapêutica específica contra o vírus. O tratamento consiste em manter o doente equilibrado e vivo até que o seu organismo consiga eliminar o mesmo – João Farto e Abreu, especialista em doenças infecciosas

Quais os sintomas a que devemos estar atentas?

São principalmente febre, tosse e dispneia (“falta de ar”), os três em geral de aparecimento súbito.

Que cuidados devemos ter para prevenir o contágio?

O habitual neste tipo de transmissão será evitar espaços fechados e com muita gente (mas por enquanto de uma forma razoável e sem pânico) e lavar frequentemente as mãos, principalmente antes das refeições e, especialmente, depois de tocar/mexer em objetos de uso comum.

E se formos viajar?

Se formos viajar, o risco depende muito do local de destino – os aeroportos de maior risco já foram provisoriamente encerrados na China. É prudente usar uma máscara comum em viagens longas e principalmente se o(s) vizinho(s) próximo(s) estiver(em) a tossir frequentemente.

O que ainda falta saber sobre este vírus?

Várias informações, principalmente a sua origem exata; uma definição melhor da sua transmissão e, do ponto de vista biológico, a sua caracterização molecular e antigénica, com o objetivo de construir uma vacina.

Não existe uma terapêutica específica contra o vírus. O tratamento consiste em manter o doente equilibrado e vivo até que o seu organismo consiga eliminar o mesmo. Nos casos mais graves, é preciso o internamento e, quando necessário, ventilação assistida.

Apesar de tudo, este serótipo de vírus é novo, mas o grupo a que ele pertence não é, pelo que é razoável fazer previsões – João Farto e Abreu, especialista em Doenças Infecciosas

Como é que o País se está a preparar? O que é que os portugueses podem esperar?

É plausível esperar que o surto epidémico seja contido num prazo não muito longo porque a comunidade científica e as entidades responsáveis a nível nacional e nos diversos países já estão precavidas em termos de medidas de contenção.

A China já isolou vários aeroportos e a própria Organização Mundial da Saúde não achou ainda necessário emitir medidas de emergência internacional, as quais têm um preço social e económico muito pesado.

Apesar de tudo, este serótipo de vírus é novo, mas o grupo a que ele pertence não é, pelo que é razoável fazer previsões.

Portugal e as entidades oficiais respetivas, no caso a Direção Geral da Saúde, têm profissionais competentes e estão a acompanhar o processo. No fundo, há canais de informação a nível europeu e os procedimentos inserem-se nas recomendações internacionais.