Coronavírus: tudo o que precisa de saber pela voz de um especialista
Originário na China, o coronavírus está entre os humanos, causando doenças do foro respiratório e, no pior dos cenários, a morte. A evolução deste quadro, agora ao nível mundial, tem sido acompanhado de perto por uma população atenta. Falámos com um especialista em doenças infecciosas.
Se tem estado atenta à comunicação social nos últimos tempos, é praticamente impossível que não se tenha cruzado com as notícias que fazem referência ao novo coronavírus, o 2019-nCoV.
Tudo terá começado em meados de dezembro de 2019 na cidade de Wuhan (com 11 milhões de habitantes), na China, num mercado de marisco e carnes, onde pessoas e animais vivos convivem de perto.
A maioria dos casos infecciosos – semelhantes a uma gripe, ou em ocorrências mais graves, uma pneumonia – surgiram associados a este local e embora a origem da infeção seja desconhecida, pensa-se que tenham sido animais infetados a transmiti-lo aos humanos. A necessidade de mais investigação é, pois, uma realidade.
No decorrer de 2020, a evolução do coronavírus tem sido acompanhada de perto pelas autoridades internacionais. Em números e até à data, contabilizam-se mais de 4 mil casos, com 107 mortes e 63 recuperações confirmadas, em mais de uma dezena de países, apesar de o foco principal ser sobretudo a China – que celebra, nestes dias, o ano novo lunar, com viagens internas na ronda dos milhões.
Na Europa, há 2 casos registados, em França e na Alemanha, contudo, o Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças (ECDC) considera a importação de casos infetados para os países Europeus uma probabilidade moderada. Devem-se, pois, cumprir as medidas adequadas de prevenção e controlo da infeção.
O quadro real da mesma poderá ser acompanhado de perto, com uma atualização direta aqui. Também o Sistema Nacional de Saúde português disponibiliza informação pormenorizada relevante, e a linha Saúde 24 poderá vir a ser uma ferramenta útil, em caso de necessidade.
Para já conversámos com João Farto e Abreu, especialista em doenças infecciosas da Clínica CUF Alvalade e do Hospital CUF Cascais, e fizemos as principais questões que queremos saber e cujas respostas nos vão manter por dentro do assunto.
Coronavírus: as respostas às principais perguntas
O que é o coronavírus?
São um grupo (família) de vírus que podem infetar humanos e animais. Só desde há alguns anos, já em pleno século XX, é que se lhes dá mais atenção em Medicina, a partir do aparecimento do SARS (Síndrome Respiratório Agudo Grave), em 2003, e do MERS (Síndrome Respiratório do Médio Oriente), em 2012.
O que se sabe sobre o coronavírus que apareceu na China, designado 2019-nCoV?
É um serótipo novo, daí o nome com que foi batizado: 2019-nCoV (o “n” significa “novel”, novo). A importância aqui é que, sendo novo, a raça humana ainda não possui imunidade adquirida contra ele. Daí o perigo potencial, porque as pessoas infetadas estão “virgens” do ponto de vista imunitário (de defesas).
Ainda não se pode falar em disseminação. A China tem uma população de cerca de 1,5 mil milhões de pessoas e até agora existem centenas de casos identificados.
Irão aumentar muito em número, mas não é de esperar que isso aconteça de uma forma descontrolada, na medida em que as primeiras e principais medidas de contenção já estão em curso: rastreio, diagnóstico e isolamento dos casos suspeitos e regiões de origem.
Como é que ocorre a transmissão entre pessoas e qual o período de incubação?
Pela inspiração de micro gotículas emitidas pelos doentes infetados: tosse, espirros, etc. – mas com menos facilidade do que na gripe ou nas “constipações” comuns. E também através das mãos contaminadas com essas gotículas e outros produtos biológicos infectados, pois o vírus entra principalmente pela boca, nariz e olhos.
Pensa-se que será necessário um contacto próximo para o contágio se efetuar. Por sua vez, o período de incubação [tempo que ocorre desde a infeção até ao aparecimentos dos primeiros sintomas] pondera-se que seja de 2 a 10 dias, dependendo de vários fatores.
Quais os sintomas a que devemos estar atentas?
São principalmente febre, tosse e dispneia (“falta de ar”), os três em geral de aparecimento súbito.
Que cuidados devemos ter para prevenir o contágio?
O habitual neste tipo de transmissão será evitar espaços fechados e com muita gente (mas por enquanto de uma forma razoável e sem pânico) e lavar frequentemente as mãos, principalmente antes das refeições e, especialmente, depois de tocar/mexer em objetos de uso comum.
E se formos viajar?
Se formos viajar, o risco depende muito do local de destino – os aeroportos de maior risco já foram provisoriamente encerrados na China. É prudente usar uma máscara comum em viagens longas e principalmente se o(s) vizinho(s) próximo(s) estiver(em) a tossir frequentemente.
O que ainda falta saber sobre este vírus?
Várias informações, principalmente a sua origem exata; uma definição melhor da sua transmissão e, do ponto de vista biológico, a sua caracterização molecular e antigénica, com o objetivo de construir uma vacina.
Não existe uma terapêutica específica contra o vírus. O tratamento consiste em manter o doente equilibrado e vivo até que o seu organismo consiga eliminar o mesmo. Nos casos mais graves, é preciso o internamento e, quando necessário, ventilação assistida.
Como é que o País se está a preparar? O que é que os portugueses podem esperar?
É plausível esperar que o surto epidémico seja contido num prazo não muito longo porque a comunidade científica e as entidades responsáveis a nível nacional e nos diversos países já estão precavidas em termos de medidas de contenção.
A China já isolou vários aeroportos e a própria Organização Mundial da Saúde não achou ainda necessário emitir medidas de emergência internacional, as quais têm um preço social e económico muito pesado.
Apesar de tudo, este serótipo de vírus é novo, mas o grupo a que ele pertence não é, pelo que é razoável fazer previsões.
Portugal e as entidades oficiais respetivas, no caso a Direção Geral da Saúde, têm profissionais competentes e estão a acompanhar o processo. No fundo, há canais de informação a nível europeu e os procedimentos inserem-se nas recomendações internacionais.