Aspetos da evolução social, como o envelhecimento da população e a sobrevivência com incapacidade permitida pelos avanços médicos, exigem às famílias uma maior e mais longa responsabilização pela função de cuidar.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde, estima-se que, entre 2025 e 2050, a população idosa constitua 40% dos efetivos e, em Portugal, de acordo com o Instituto Nacional de Estatística, a esperança média de vida aumentou em cerca de dois anos numa década (de 2009 a 2019, de 79,3 para 81,1 anos).
Segundo um estudo da Entidade Reguladora da Saúde, Portugal tem a maior taxa de cuidados domiciliários informais da Europa. De acordo com a Associação Nacional de Cuidadores Informais, estima-se que existam cerca de 1,4 milhões de cuidadores informais, sobretudo mulheres entre os 31 e os 64 anos de idade.
O que é um cuidador informal?
É uma pessoa que, por altruísmo, cuida de alguém, normalmente um familiar, que necessita de cuidados permanentes por se encontrar numa situação de dependência.
A pessoa cuidada pode ter uma incapacidade física e/ou uma perturbação cognitiva, como na demência (em cerca de 1/3 dos casos), após um AVC, na doença de Parkinson, entre outros.
O cuidador assegura a satisfação das várias necessidades da pessoa dependente, como por exemplo, a alimentação, a higiene, a segurança e conforto, compras de supermercado e de vestuário, acompanhamento às consultas e toma da medicação.
Segundo um estudo financiado pela União Europeia, os cuidadores informais prestam mais de 80% de todos os cuidados de que as pessoas que vivem com doenças necessitam.
O que sente o cuidador informal?
Cuidar de alguém, sobretudo com vínculo afetivo, apesar de compensador pode ser desafiante. Revela-se uma tarefa complexa e difícil, física, emocional e financeiramente, a tempo praticamente inteiro, que obriga à alteração das rotinas e ocupa tempo pessoal.
Por esta razão, o cuidador informal pode sentir-se:
- Esgotado ou exausto, pelo número de tarefas, preocupações e questões a resolver;
- Com dificuldade em realizar as suas obrigações e desejos pessoais (laborais, familiares, sociais);
- Culpado e insuficiente, pela exigência das tarefas para as quais, muitas vezes, não se sente preparado;
- Triste, por ver alguém querido progressivamente diferente e menos capaz;
- Pouco reconhecido, porque a pessoa que está a ser cuidada não é capaz de o fazer ou porque sente falta de ajuda de outros familiares;
- Subestimado, quando as suas próprias necessidades são negligenciadas;
- Sozinho.
Além disso, enquanto gerem as responsabilidades do cuidado ao outro, podem prejudicar a assistência à sua própria saúde e bem-estar.
Quais os sinais de que deve procurar ajuda em saúde mental?
Pelas circunstâncias acima descritas, o cuidador apresenta especial risco de problemas de saúde física e mental, precisando, por vezes, também ele, de ser cuidado.
No caso particular da saúde mental, há alguns sinais de que poderá precisar de um acompanhamento profissional:
- Tristeza ou desânimo;
- Perda de prazer nas atividades de que gostava;
- Cansaço, falta de energia ou falta de vontade de realizar as atividades diárias;
- Pensamento lento, dificuldades na concentração ou memória;
- Irritabilidade ou ansiedade;
- pensamentos negativos ou pessimistas, de nada valer a pena;
- Sentimentos de culpa, de não ter valor ou de ser incapaz;
- Apatia;
- Dificuldade ou falta de vontade de estar com os amigos ou família;
- Alterações do sono ou do apetite.
Se um cuidador informal sentir ou tiver constantemente alguns destes sintomas, deverá procurar ajuda especializada.
Lembre-se de que para ser capaz de cuidar dos outros é necessário cuidar de si primeiro e que, quando as suas necessidades forem atendidas, a pessoa de quem cuida também beneficiará.
No site do Movimento Cuidar dos Cuidadores Informais pode encontrar mais informações sobre o papel do cuidador informal.