Pode tornar-se num verdadeiro desconforto viver o dia a dia com a pele irritada, com prurido e a descamar em várias partes do corpo e sem saber bem como contornar o problema. A dermatite atópica pode também chegar à idade adulta, mas são os bebés os mais afetados por esta patologia.
Afinal, o que caracteriza esta doença?
O que é a dermatite atópica
“A dermatite atópica faz parte de um grupo de patologias que habitualmente surgem em idades típicas, respeitando a chamada “marcha atópica”, na qual se incluem também a rinite alérgica e a asma, habitualmente com história familiar conhecida”, começa por explicar-nos Ana Rita Travassos, dermatologista. “A expressão “pele atópica” é usada frequentemente quando as manifestações da dermatite atópica são leves, e caracteriza-se por uma pele mais seca, com tendência a vermelhidão e descamação em certas áreas específicas, como as pregas dos membros e prurido”, acrescenta.
Esta patologia encontra-se no grupo de doenças de pele a que chamamos eczema. É também chamada de eczema atópico, mas o eczema em si inclui ainda outras dermatoses. “É o caso do eczema de contacto alérgico/irritativo – uma forma de eczema que se desenvolve numa zona específica de contacto com um alergénio ou irritante, o eczema desidrótico (que surge nas mãos e nos pés associado ao calor) ou o eczema asteatótico que surge geralmente em idades avançadas, especialmente nas pernas, associado a pele extremamente seca.“
O suor ou certas peças de vestuário, por exemplo, podem também contribuir para o aumento destes sintomas, mas há algumas diferenças entre bebés e adultos. Nos bebés, estes sinais manifestam-se, habitualmente, na face, tronco e abdómen e nas crianças a partir dos dois anos, e nos adolescentes, surgem em zonas como nas dobras à frente dos cotovelos ou nas pernas atrás dos joelhos. Já nos adultos, pode ir até às mãos, pálpebras, e em alguns casos “os mamilos e menos frequentemente pode apresentar uma forma generalizada”, afirma a especialista.
As principais causas
Sendo esta “uma doença inflamatória da pele, associada a uma resposta imunitária ‘exagerada’”, a dermatologista indica alguns potenciais fatores ambientais considerados como causadores desta patologia.
“Desde microorganismos, poluentes/irritantes, alergénios aerotransportados ou alimentares, num ambiente genético suscetível (fatores genéticos conhecidos estão associados à disrupção da barreira cutânea e genes associado à regulação da resposta imunitária)”, assim com a história familiar, asma ou rinite alérgica, podem também ser indicadores, explica Ana Rita Travassos.
Mas o fator psicológico é também importante
Mais do que uma causa, os fatores psicológicos são também consequência do que a dermatite atópica pode ter em alguém. Segundo a dermatologista:
- Tanto o stresse físico como o psicológico podem contribuir para uma crise de eczema;
- A qualidade de vida pode ser afetada. “Nomeadamente quando associada ao prurido (comichão) com consequente perturbação do sono e cansaço durante o dia, sendo ainda frequentes sintomas de ansiedade e depressão, potencialmente associados à baixa autoestima.”
A dermatite atópica nos bebés
Segundo Ana Rita Travassos, a dermatite atópica tem início na infância “afetando 20-30% das crianças, com evolução para a idade adulta em 20-50% dos casos”. Em mais dos 50% dos casos a manifestação da doença será apenas de forma ligeira e apenas 3% serão casos de dermatite atópica grave.
Mas, ainda hoje, não há muitas explicações sobre o porquê de ser uma patologia tão associada aos bebés e crianças.
“Algumas teorias existem sobre a razão pela qual a dermatite atópica surge antes de outras doenças do cluster da atopia, nomeadamente que a pele será um local de sensibilização inicial aos alergénios, mesmo na ausência de inflamação na pele. Ou seja, mesmo em crianças sem dermatite atópica clínica, se existirem alterações da estrutura da barreira cutânea, estas têm maior risco de desenvolver asma posteriormente”, diz.
Já para os pais, pode ser uma verdadeira preocupação lidar com este problema pela sensação de desconforto visível que a pele dos bebés e crianças apresenta. Aqui, não existem dúvidas: os cuidados na higiene e hidratação da pele não podem ser descurados.
“Em alguns hospitais, associadas à consulta de Dermatologia Pediátrica, para acompanhamento de crianças com dermatite atópica, há mesmo as chamadas Escolas de Atopia, em que é realizado o ensino aos pais dos cuidados a ter com a pele destas crianças”, refere a especialista.
E no dia a dia, há cuidados que têm de ser tidos como obrigatórios no tratamento da pele atópica:
- Banhos curtos e pouco quentes;
- Uso de produtos hipoalergénicos, sem perfume e pH baixo e aplicação de creme emoliente em toda a pele;
- Evitar ambientes urbanos, superprotegidos e muito limpos;
- Cuidado com a exposição a fumo de tabaco e poluentes ambientais;
- Evitar exposição a potenciais alergénios alimentares e cutâneos, como perfumes, metais (níquel), animais domésticos (pelo de gato), ou ácaros do pó;
- Preferir ambientes mais frios ou demasiado quentes e baixa humidade.
No entanto, Ana Rita Travassos garante que “a exposição aos fatores ambientais e o desenvolvimento da dermatite atópica está dependente de fatores individuais quer ao nível da estrutura da barreira cutânea, quer do próprio processo de inflamação (geneticamente programados).”
Já em casa, a especialista diz que há várias questões que não têm ainda uma resposta clara, como é o caso da alimentação, exposição a animais domésticos ou pó.
Os produtos a preferir
No caso dos bebés, e na hora da compra de produtos cosméticos há alguns fatores a ter em conta. Porém, a especialista assegura que “os emolientes são os produtos que devem ser utilizados na pele dos lactentes e crianças com dermatite atópica ou pele atópica. Estes são produtos que contribuem para a manutenção da barreira cutânea numa pele em que esta função está comprometida, restaurando a camada lipídica, diminuindo a perda transepidermica de água e reduzindo o prurido.”
Estes produtos têm uma composição mais simples do que os cremes hidratantes, são hipoalergénicos, não têm perfumes e têm um perfil de conservantes mais seguro.