Quer dar sangue? Dizemos-lhe o essencial a saber
Sabe o que acontece ao seu sangue após uma dádiva? E quais os requisito para ser dador? Falámos com Ana Paula Sousa, diretora técnica do Centro de Sangue e da Transplantação de Lisboa, sobre estas e outras questões essenciais para doar sangue.
Doar sangue é um ato solidário através do qual pode salvar até três vidas com apenas uma dádiva. Se ainda não o fez, descubra quais os requisitos, conheça o processo e saiba onde se dirigir.
Para que as informações abaixo fossem as mais fidedignas possíveis, recorremos a uma especialista na matéria, Ana Paula Sousa, diretora técnica do Centro de Sangue e da Transplantação de Lisboa. Leia tudo e comece o ano a praticar o bem.
Tudo o que precisa de saber para doar sangue
Quais os requisitos para ser dador?
Podem dar sangue todos os indivíduos saudáveis , entre os 18 e os 65 anos de idade (para uma primeira dádiva, o limite é até aos 60 anos), com peso igual ou superior a 50 kg e com hábitos de vida saudáveis.
E quais as principais exclusões?
Existem vários motivos que podem condicionar o adiamento da dádiva de sangue.
Uma das causas mais comum é o valor da hemoglobina abaixo do limite mínimo necessário para dar sangue. Outra das razões prende-se com a realização de viagens para zonas endémicas de doenças infeciosas transmissíveis pela transfusão, como sejam por exemplo as viagens para zonas endémicas de malária.
Reforçam-se também as exclusões que agora, em período de pandemia Covid-19, estão em vigor:
- Se o dador esteve doente com febre tosse ou falta de ar nos últimos 28 dias;
- Se esteve em contacto com doentes potencialmente infetados com Covid-19 e/ou se veio de uma zona que esteja de quarentena ou em que haja um foco Covid-19.
Nestas situações os dadores não reúnem os critérios de elegibilidade para a dádiva de sangue, pelo que são suspensos temporariamente.
É verdade que a orientação sexual pode ser um fator de exclusão para a doação?
A dádiva de sangue é voluntária, anónima e não remunerada, podendo todo e qualquer cidadão candidatar-se a dar sangue, sendo que, a dádiva será sempre condicionada por um conjunto de situações que se torna premente avaliar durante a consulta médica, nomeadamente a história clínica pessoal e familiar do dador, as viagens, as infeções, os comportamentos e estilos de vida, entre outras situações, no sentido de salvaguardar qualquer reação adversa quer no dador quer no doente.
As questões associadas com o comportamento sexual, com o impacto na segurança do sangue e dos componentes sanguíneos são realizadas, quer seja a primeira dádiva, quer nas dádivas seguintes, durante a consulta que antecede a doação, de acordo com o normativo legal em vigor (Decreto Lei 267/2007, atualizado pelo DL 185/2015) e a Norma de Orientação Clinica 9/2016, atualizada em fevereiro de 2017.
Como se processa a dádiva e quantos litros de sangue são retirados?
Após a verificação de que o dador está apto para a dádiva de sangue, é efetuada previamente uma avaliação da ingestão hídrica pelo dador e este é encaminhado para a sala de colheita.
Neste local é confirmada novamente a identidade do dador (confirmação positiva da identidade) e efetuada a punção venosa após avaliação dos acessos do dador.
A colheita demora entre 10-12 minutos, e são colhidos 450 ml (+/- 10%) de sangue, que corresponde a uma unidade de sangue total.
Esta unidade de sangue total vai ser processada e separada nos seus componentes sanguíneos. Obtém-se assim um concentrado eritrocitário, um buffy-coat (que será utilizado na constituição de um pool de plaquetas) e uma unidade de plasma.
Tipos de sangue
Qual a duração do sangue doado fora do corpo?
O prazo de validade depende da especificidade da produção do componente sanguíneo em questão, da solução aditiva adicionada (para preservação do metabolismo celular) e do cumprimento de outros requisitos de qualidade, como seja a temperatura de armazenamento.
Esta varia entre valores negativos (abaixo de -25ºC, no caso de plasma fresco congelado, com uma validade de 36 meses), temperaturas entre 2-6ºC (concentrados eritrocitários), e ainda a uma temperatura entre os 20-24ºC, no caso dos concentrados plaquetários.
Assim:
- O plasma pode ser congelado e mantido a temperaturas negativas de – 25ºC ou abaixo, e ter uma validade até 36 meses;
- O concentrado de plaquetas tem a duração de cinco dias, mas no caso de ser inativado (submetido a um processo de redução patogénica), a validade vai até sete dias, devendo ser mantido em agitação contínua, a uma temperatura de 22ºC;
- O concentrado eritrocitário tem um período de validade que pode ir até 42 dias, devendo ser mantido a 4ºC.
É possível que a doação não seja aproveitada?
Há um conjunto de requisitos laboratoriais legais para validação de um componente sanguíneo para que possa ser transfundido. Sempre que a conformidade não se verifica, a unidade não poderá ser transfundida.
Caso o dador comunique ao serviço alguma situação que possa colocar em causa a segurança transfusional, no caso da informação pós-dádiva, a unidade é retirada.
Quantas pessoas posso ajudar?
Depois de validados (em conformidade com os requisitos legais) e rotulados, ficam disponíveis para distribuir para os hospitais, podendo ser transfundidos aos doentes consoante a deficiência de componente que apresentem.
Assim, poder-se-á considerar que um dador poderá salvar até três vidas.
Qual o procedimento para quem pretender dar sangue pela primeira vez?
Circuito da dádiva em época de pandemia:
- Higienizar as mãos antes de entrar;
- Usar máscara obrigatoriamente;
- Consultar informação de auto-exclusão à entrada;
- Medição da temperatura corporal;
- Inscrição – preenchimento do consentimento informado;
- Triagem Clínica – consulta com um profissional de saúde qualificado;
- Dádiva de Sangue – se apto na triagem, será encaminhado para a colheita;
- Refeição – refeição ligeira, com reforço de ingestão de água.
Quais os cuidados a ter antes e após a doação de sangue?
Uma das recomendações que é sempre feita aos dadores de sangue é o reforço da ingestão de líquidos no antes e no pós-dádiva.
Também no período imediatamente a seguir à doação o dador não deverá realizar esforços físicos. Deverá ter um cuidado particular, nomeadamente com o braço puncionado, através do qual foi colhido o sangue.
Há algum tipo de benefício para os dadores?
Há um diploma legal que rege o Estatuto do Dador de Sangue (Lei n.º 37/2012, de 27 de agosto), que identifica os seus deveres e direitos enquanto dador de sangue.
Assim, os dadores de sangue têm direito a isenção de taxas moderadoras no SNS caso efetuem duas dádivas no período de 12 meses ou caso estejam impedidos de dar sangue por razões clínicas, desde que tenham um histórico superior a 10 dádivas (Decreto-Lei 113/2011 de 29 de Novembro).
Existe alguma plataforma/app para saber onde pode ser feita a dádiva?
Existem os sites Ipst.pt e Dador.pt.
Qual a importância de doar sangue com regularidade?
A dádiva de sangue benévola traduz-se num gesto de grande altruísmo e solidariedade do dador para com o próximo e de extrema importância para os doentes cuja vida ou a qualidade de vida depende de uma transfusão sanguínea.
Em contraponto, os serviço de sangue têm um papel fundamental no cuidado e no acolhimento, na informação e na educação do dador, com promoção de comportamentos adequados à manutenção de hábitos de vida saudáveis, promovendo e complementando a sua literacia em saúde.
Um dador regular, fidelizado à dádiva de sangue, constitui uma oportunidade ao desenvolvimento e ao acompanhamento de boas práticas em saúde.
Saiba ainda que os homens podem dar sangue quatro vezes por ano e as mulheres três, com um intervalo mínimo de dois meses entre as dádivas.
Agora que já sabe tudo sobe o tema, está a pensar em doar sangue? Conte-nos tudo!