Estima-se que, em todo o mundo, a doença de Parkinson atinja cerca de 6,2 milhões de pessoas e, em Portugal, possa afetar 22 mil pessoas. Já existe muito informação sobre esta doença, ainda que a causa permaneça desconhecida. Ainda assim, a certeza é que já é possível viver com algum conforto.
A medicina avançou e disponibiliza agora alguns tratamentos promissores para que os doentes possam viver com tranquilidade, sem colocar o seu bem-estar em causa.
Como nos explica Martinho Pimenta, neurologista no Hospital CUF Tejo e nas Clínicas CUF Belém e CUF Miraflores, “devido aos fatores ambientais e ao envelhecimento populacional tem havido um aumento da prevalência da doença de Parkinson, tanto em Portugal como noutros países”.
Em baixo, explicaremos melhor os meandros desta doença e como pode reconhecê-la.
O que é a doença de Parkinson e quais são os seus sintomas
“É uma doença neurodegenerativa que ocorre em determinado número de neurónios, sobretudo aqueles que transmitem uma substância que é o modelador do movimento, que se chama dopamina”, começa por explicar o neurologista.
A doença de Parkinson pode, efetivamente, decorrer em idade mais jovens, mas a sua prevalência é acima dos 65 anos, idade em que se começa a notar as primeiras alterações motoras.
A nível de sintomatologia, estes são os sintomas mais comuns:
- Lentidão de movimentos;
- Rigidez de movimentos;
- Tremores;
- Instabilidade postural ou desequilíbrio;
- Mimica facial diminuída;
- Diminuição do volume da fala.
Apesar de estes serem os mais visíveis, não são os únicos sintomas a ter em atenção. “O que nós sabemos, e já desde a primeira descrição feita por James Parkinson há 200 anos, é que esta não é apenas uma doença motora, vai além disso. Hoje, damos uma maior importância à sintomatologia não motora na medida em que ela pode anteceder em muitos anos, talvez até uma década, a sintomatologia motora”, refere Martinho Pimenta.
Quando pensamos nesta doença, é inevitável pensar nas dificuldades de movimentos que esta causa. No entanto, há também alterações no seu organismo que podem ser sinal do seu desenvolvimento. São elas:
- Alterações na atividade intestinal ou obstipação;
- Perturbações de sono, como insónias;
- Alterações no olfato;
- Alterações no ritmo cardíaco;
- Alterações do sistema nervoso autónomo.
Outra das consequências da doença de Parkinson pode ser a demência, mas esta é diferente em relação à da doença de Alzheimer, por exemplo, pois não ocorre habitualmente durante a instalação dos sintomas motores.
“Quando a demência ocorre em simultâneo com os sintomas motores pode não tratar-se da doença de Parkinson, mas sim da doença de Corpos de Lewy, que é diferente. A demência associada à doença de Parkinson ocorre normalmente numa fase mais tardia”, esclarece o médico.
Na doença de Alzheimer, na sua forma típica (isto porque existem diferentes variantes), a forma de apresentação da demência é com um declínio progressivo da memória. Já na doença de Parkinson, “os domínios cognitivos que estão inicialmente mais comprometidos são as funções executivas (a atenção) e as capacidades visuoconstrutivas ou visuoespaciais”.
A memória pode vir também a ser atingida, mas não num grau da doença de Alzheimer.
Os fatores de risco
Como referimos acima, a causa da doença é desconhecida, mas Martinho Pinheiro assegura que existem fatores de riscos que podem ser controlados. “A influência dos fatores genéticos é bem menor do que aqueles que são reconhecidos na doença de Alzheimer, mas há, por exemplo, alguns fatores ambientais que se consideram ser de risco a desenvolver a doença de Parkinson”.
O especialista refere-se à exposição prolongada de pesticidas, mas também ao consumo elevado de laticínios. Estes são dois fatores associados a esta patologia que podem, e devem, ser controlados em idades mais jovens.
“Não sabemos ainda a importância dos sintomas não motores como pronuncio da doença de Parkinson. Sabemos que ela é mais frequente em determinadas famílias. Havendo casos na família, a possibilidade de vir a sofrer da doença é também maior”.
O diagnóstico
Não há nenhum exame específico para fazer o diagnóstico da doença de Parkinson, embora existam formas de fazer uma avaliação neurológica. O primeiro passo, segundo Martinho Pimenta, é excluir outras causas. “Isto é, os sintomas podem ocorrer noutras situações que não na doença de Parkinson. Há medicamentos, principalmente do foro psiquiátrico, que podem simular esta doença. Primeiro, é preciso excluir que estes sintomas não são produzidos por outros medicamentos”.
O especialista reforça que é necessário excluir doenças metabólicas ou vasculares que também possam simular estas manifestações. “A sintomatologia de Parkinson pode acontecer devido a outras doenças. É preciso que se faça um exame de imagem cerebral para excluir outras doenças, análises clínicas e, na dúvida, se tivermos um tremor que não sabemos a sua origem, fazemos um DaTSCAN em que poderemos provar que existem recetores da dopamina diminuídos da doença de Parkinson”, menciona.
Viver com Parkinson
O avanço da ciência permite que hoje seja possível ter uma vida confortável e equilibrada com esta patologia. Um dos tratamentos referidos pelo médico para o alívio das manifestações motoras é a toma da levadopa.
“Hoje a terapêutica da doença de Parkinson é suficientemente desenvolvida. Podemos dar uma qualidade de vida aos doentes como anteriormente não era possível e a maioria pode ter um alívio sintomático muito bom. São vários os tratamentos disponíveis e a própria cirurgia desta doença veio abrir um novo capítulo no tratamento, o que é muito satisfatório”.
O objetivo da comunidade médica é garantir todo o conforto e tratar a panóplia de sintomas, incluíndo a depressão, que também se pode manifestar por volta dos 60 anos.