Saúde

Doença de Parkinson: como reconhecer os sintomas e tratar

Hoje, já é possível que uma pessoa com doença de Parkinson viva com algum conforto. A Saber Viver falou com um especialista sobre os pormenores desta perturbação cerebral.

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Doença de Parkinson: como reconhecer os sintomas e tratar Doença de Parkinson: como reconhecer os sintomas e tratar
© Shutterstock
Marta Chaves
Escrito por
Mai. 18, 2021

Estima-se que, em todo o mundo, a doença de Parkinson atinja cerca de 6,2 milhões de pessoas e, em Portugal, possa afetar 22 mil pessoas. Já existe muito informação sobre esta doença, ainda que a causa permaneça desconhecida. Ainda assim, a certeza é que já é possível viver com algum conforto.

A medicina avançou e disponibiliza agora alguns tratamentos promissores para que os doentes possam viver com tranquilidade, sem colocar o seu bem-estar em causa.

Como nos explica Martinho Pimenta, neurologista no Hospital CUF Tejo e nas Clínicas CUF Belém e CUF Miraflores, “devido aos fatores ambientais e ao envelhecimento populacional tem havido um aumento da prevalência da doença de Parkinson, tanto em Portugal como noutros países”.

Em baixo, explicaremos melhor os meandros desta doença e como pode reconhecê-la.

O que é a doença de Parkinson e quais são os seus sintomas

“É uma doença neurodegenerativa que ocorre em determinado número de neurónios, sobretudo aqueles que transmitem uma substância que é o modelador do movimento, que se chama dopamina”, começa por explicar o neurologista.

A doença de Parkinson pode, efetivamente, decorrer em idade mais jovens, mas a sua prevalência é acima dos 65 anos, idade em que se começa a notar as primeiras alterações motoras.

A nível de sintomatologia, estes são os sintomas mais comuns:

  •  Lentidão de movimentos;
  •  Rigidez de movimentos;
  • Tremores;
  • Instabilidade postural ou desequilíbrio;
  • Mimica facial diminuída;
  • Diminuição do volume da fala.

Apesar de estes serem os mais visíveis, não são os únicos sintomas a ter em atenção. “O que nós sabemos, e já desde a primeira descrição feita por James Parkinson há 200 anos, é que esta não é apenas uma doença motora, vai além disso. Hoje, damos uma maior importância à sintomatologia não motora na medida em que ela pode anteceder em muitos anos, talvez até uma década, a sintomatologia motora”, refere Martinho Pimenta.

Quando pensamos nesta doença, é inevitável pensar nas dificuldades de movimentos que esta causa. No entanto, há também alterações no seu organismo que podem ser sinal do seu desenvolvimento. São elas:

  • Alterações na atividade intestinal ou obstipação;
  • Perturbações de sono, como insónias;
  • Alterações no olfato;
  • Alterações no ritmo cardíaco;
  • Alterações do sistema nervoso autónomo.
Hoje a terapêutica é suficientemente desenvolvida. Podemos dar uma qualidade de vida a quem sofre da doença de Parkinson como anteriormente não era possível – Martinho Pimenta, neurologista

Outra das consequências da doença de Parkinson pode ser a demência, mas esta é diferente em relação à da doença de Alzheimer, por exemplo, pois não ocorre habitualmente durante a instalação dos sintomas motores.

Quando a demência ocorre em simultâneo com os sintomas motores pode não tratar-se da doença de Parkinson, mas sim da doença de Corpos de Lewy, que é diferente. A demência associada à doença de Parkinson ocorre normalmente numa fase mais tardia”, esclarece o médico.

Na doença de Alzheimer, na sua forma típica (isto porque existem diferentes variantes), a forma de apresentação da demência é com um declínio progressivo da memória. Já na doença de Parkinson, “os domínios cognitivos que estão inicialmente mais comprometidos são as funções executivas (a atenção) e as capacidades visuoconstrutivas ou visuoespaciais”.

A memória pode vir também a ser atingida, mas não num grau da doença de Alzheimer.

Os fatores de risco

Como referimos acima, a causa da doença é desconhecida, mas Martinho Pinheiro assegura que existem fatores de riscos que podem ser controlados. “A influência dos fatores genéticos é bem menor do que aqueles que são reconhecidos na doença de Alzheimer, mas há, por exemplo, alguns fatores ambientais que se consideram ser de risco a desenvolver a doença de Parkinson”.

O especialista refere-se à exposição prolongada de pesticidas, mas também ao consumo elevado de laticínios. Estes são dois fatores associados a esta patologia que podem, e devem, ser controlados em idades mais jovens.

“Não sabemos ainda a importância dos sintomas não motores como pronuncio da doença de Parkinson. Sabemos que ela é mais frequente em determinadas famílias. Havendo casos na família, a possibilidade de vir a sofrer da doença é também maior”.

O diagnóstico

Não há nenhum exame específico para fazer o diagnóstico da doença de Parkinson, embora existam formas de fazer uma avaliação neurológica. O primeiro passo, segundo Martinho Pimenta, é excluir outras causas. “Isto é, os sintomas podem ocorrer noutras situações que não na doença de Parkinson. Há medicamentos, principalmente do foro psiquiátrico, que podem simular esta doença. Primeiro, é preciso excluir que estes sintomas não são produzidos por outros medicamentos”.

O especialista reforça que é necessário excluir doenças metabólicas ou vasculares que também possam simular estas manifestações. “A sintomatologia de Parkinson pode acontecer devido a outras doenças. É preciso que se faça um exame de imagem cerebral para excluir outras doenças, análises clínicas e, na dúvida, se tivermos um tremor que não sabemos a sua origem, fazemos um DaTSCAN em que poderemos provar que existem recetores da dopamina diminuídos da doença de Parkinson”, menciona.

O objetivo da comunidade médica é garantir todo o conforto e tratar a panóplia de sintomas – Martinho Pimenta, neurologista

Viver com Parkinson

O avanço da ciência permite que hoje seja possível ter uma vida confortável e equilibrada com esta patologia. Um dos tratamentos referidos pelo médico para o alívio das manifestações motoras é a toma da levadopa.

“Hoje a terapêutica da doença de Parkinson é suficientemente desenvolvida. Podemos dar uma qualidade de vida aos doentes como anteriormente não era possível e a maioria pode ter um alívio sintomático muito bom. São vários os tratamentos disponíveis e a própria cirurgia desta doença veio abrir um novo capítulo no tratamento, o que é muito satisfatório”.

O objetivo da comunidade médica é garantir todo o conforto e tratar a panóplia de sintomas, incluíndo a depressão, que também se pode manifestar por volta dos 60 anos.

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