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Doença pulmonar obstrutiva crónica afeta 14% dos portugueses. Porquê?

Doença pulmonar obstrutiva crónica afeta 14% dos portugueses. Porquê?

O tabaco é o principal responsável mas não atua sozinho. Também a exposição continuada a irritantes ambientais fazem com que a doença pulmonar obstrutiva crónica esteja presente na vida de milhares de portugueses. O pneumologista António Carvalheira Santos explica tudo.

Por Out. 6. 2020

Quando o tempo arrefece, as doenças respiratórias começam a “ter mais audiência”. Acontece que nem sempre a meteorologia assina a culpa. Também o tabaco e os agentes ambientais são responsáveis por problemas como a doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC), que afeta, infelizmente, cerca de 14% da população portuguesa.

Para ficar a conhecê-la melhor, António Carvalheira Santos, chefe de serviço de Pneumologia do Hospital Pulido Valente, explica o essencial a saber sobre esta doença.

Os números não enganam

O aumento da esperança média de vida e os efeitos do tabagismo a nível respiratório provocaram, nos últimos anos em Portugal, um aumento de doenças respiratórias crónicas que são responsáveis por um grande impacto na vida dos doentes e por elevados custos diretos com a saúde.

As doenças respiratórias crónicas atingem cerca de 40% da população portuguesa, sendo a mais comum a Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica (DPOC) que afeta 14,2% dos portugueses com mais de 40 anos.

Conheça as causas

Sabe-se que os hábitos tabágicos são responsáveis por 90% dos casos de DPOC, o que faz com que os doentes apresentem menores níveis de oxigénio no sangue, causando a falência dos vários órgãos.

Os ex-fumadores e qualquer pessoa exposta ao fumo do tabaco (fumadores passivos) são também potenciais doentes.

A exposição continuada a irritantes ambientais, aliada a alguma predisposição genética constitucional, também levarão ao surgimento da doença.

Com o envelhecimento e a manutenção dos fatores de agressão ao aparelho respiratório, a nossa caixa torácica perde capacidade para responder às necessidades do organismo – António Carvalheira Santos, pneumologista

Sintomas frequentes

Alguns dos sintomas de alerta desta doença que evolui limitando bastante a vida diária dos doentes, que se veem então confrontados com um quadro de incapacidade, são:

  • Falta de ar;
  • Tosse;
  • Expetoração;
  • Respiração ruidosa;
  • Cansaço.

As consequências

A DPOC é uma doença com dois componentes de desigual envolvimento: a bronquite crónica com inflamação brônquica e consequente obstrução que leva à dificuldade expiratória, e o enfisema com destruição alveolar e a consequente perca de territórios para as trocas gasosas com diminuição da capacidade de passagem do oxigénio para o sangue, bem como da eliminação do dióxido de carbono resultante do trabalho celular.

Com o envelhecimento e a manutenção dos fatores de agressão ao aparelho respiratório, a nossa caixa torácica, que é como um fole, perde capacidade para responder às necessidades do organismo, de que resulta uma deficiente entrega de oxigénio aos diferentes órgãos, nomeadamente aos órgãos nobres – cérebro, coração, pulmões, rins e fígado, mas também aos músculos, traduzindo-se na diminuição ou mesmo incapacidade para as atividades de vida diária.

A dispneia e o cansaço levam à abstenção do exercício, ao isolamento familiar e social, à ansiedade e à depressão face às dificuldades apresentadas no dia a dia.

Só pode haver uma estratégia adequada ao tratamento da DPOC, desde que a avaliação funcional respiratória e a reabilitação respiratória sejam peças integrantes na avaliação – António Carvalheira Santos, pneumologista

O que fazer?

A reabilitação respiratória diminui comprovadamente as agudizações destas patologias, o recurso às urgências, o tempo de internamento, aumenta a qualidade de vida e consequentemente reduz os custos relacionados com a saúde.

Reabilitar é voltar a habilitar e as orientações da Sociedade Europeia de Pneumologia, bem como da Direção Geral de Saúde, indicam a reabilitação respiratória como parte integrante da terapêutica dos doentes respiratórios crónicos sintomáticos.

Hoje em Portugal, só cerca de 1% dos doentes com indicação têm acesso à reabilitação respiratória e esta deveria ser generalizada e de proximidade e não confinada, quase exclusivamente aos hospitais. Assim, só uma franja de privilegiados tem acesso a esta terapêutica.

O futuro

A Direção Geral de Saúde aponta para a necessidade de expandir a espirometria (função pulmonar) à população para avaliação funcional respiratória, extremamente deficitária e a reabilitação respiratória de proximidade abarcando os doentes respiratórios crónicos sintomáticos, que dela necessitem.

Só pode haver uma estratégia adequada ao tratamento da DPOC, bem como de outras doenças respiratórias crónicas, desde que a avaliação funcional respiratória e a reabilitação respiratória sejam peças integrantes na avaliação, bem como na terapêutica destes doentes.

Quando enfrentamos as doenças crónicas, nomeadamente a DPOC, temos de as integrar no conceito de qualidade de vida, obtido com diagnóstico precoce, medidas terapêuticas e de reabilitação adequadas.

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