“Diz-me quando nasceste e dir-te-ei que doença terás…” A frase parece saída de um oráculo da Feira Popular, mas é o objeto do estudo realizado na Universidade da Columbia.
Uma equipa de cientistas analisou os registos médicos de 1,7 milhões de pacientes do New York-Presbyterian Hospital/ CUMC, comparou mais de 1600 doenças e datas de nascimento, e conseguiu estimar o risco de várias doenças, entre as quais nove patologias cardiovasculares.
Segundo os números, quem nasce em março tem mais probabilidade de fibrilhação auricular (um tipo de arritmia crónica), insuficiência cardíaca congestiva e de insuficiência mitral.
Embora relevante, o investigador principal reconheceu, em comunicado, que o mês de nascimento tem um impacto menor do que a dieta ou o exercício.
Desvendamos as principais doenças do coração para que se mantenha informada e consciente. Para além disso, revelamos os fatores de risco e quais os melhores métodos de prevenção. Por isso, veja o que ainda pode fazer pelo seu coração.
Aprenda a viver mais e melhor
Nos últimos dez anos, a esperança de vida aumentou cerca de três anos em Portugal. Atualmente, “estima-se em 77,16 anos para os homens e de 83,03 anos para as mulheres.
Este aumento da longevidade leva a que as doenças ligadas ao envelhecimento estejam mais presentes. E os hábitos de vida não têm sido os mais saudáveis, contribuindo para o aumento das doenças cardiovasculares”, alerta José Miguel Santos, cardiologista da CorClínica em Lisboa.
As artérias são as principais “vítimas”. É certo que a idade lhes retira eficiência, mas é a acumulação de gordura nas suas paredes (aterosclerose) que prejudica a sua função ao estreitar ou bloquear a passagem do sangue.
Por exemplo, ao limitar a irrigação cardíaca, pode criar angina de peito (uma dor passageira no peito ou braço após esforço ou stress), mas se a falta de irrigação for acentuada origina uma dor súbita e prolongada: o enfarte do miocárdio.
Segundo o cardiologista, “a maior causa de morbilidade e mortalidade cardiovascular é a doença coronária e o enfarte do miocárdio é a forma mais conhecida. Esta patologia tem atualmente como terapêutica muito eficaz a angioplastia (quando efetuada nas primeiras horas leva à redução drástica nas complicações e na mortalidade).”
Na lista de patologias cardiovasculares, são “motivo de preocupação aquelas que não têm tratamento específico ou que existem de forma ‘silenciosa’, em que muitas vezes a primeira manifestação é a morte súbita (as doenças causadoras de arritmias graves, como a síndrome de brugada, cardiomiopatias ou displasia arritmogénica do ventrículo direito)”, ilustra.
Conhecer os riscos das doenças do coração
A deteção precoce dos sintomas e o tratamento ajudam a evitar o pior. Mas o melhor é agir a montante: identificar os riscos e prevenir.
“A idade, o sexo masculino (ou o feminino após a menopausa) e a história familiar de aterosclerose prematura em parentes de primeiro grau (homem com menos de 55 anos e mulher com menos de 65 anos)”, descreve José Miguel Santos, são os fatores não modificáveis.
No extremo oposto estão o tabagismo, a hipertensão arterial, as dislipidemias (LDL ou ‘colesterol mau’ alto e/ou HDL ou ‘colesterol bom’ baixo), a diabetes, a obesidade (principalmente acima da cintura), o stress psicossocial e o sedentarismo.
Para o especialista é importante fazer “uma avaliação do risco de eventos cardiovasculares usando, por exemplo as tabelas de Framingham que separaram os indivíduos de baixo risco (probabilidade <10% em dez anos); médio risco (probabilidade 10-20% em dez anos) ou alto risco (probabilidade >20% em dez anos) para intervir em conformidade. Esta avaliação deve ser feita a partir dos 40 anos de idade (tenha ou não tido problemas cardíacos) e repetida periodicamente de acordo com a evolução clínica e analítica.”
O perímetro abdominal é outro indicador importante. Isto porque a gordura nesta parte do corpo constitui um risco acrescido. O valor deve ser inferior a 94 centímetros (homem) e a 80 centímetros (mulher). Se exceder os 102 e os 88 centímetros, respetivamente, o risco cardiovascular é potenciado.
As estatísticas portuguesas
O verdadeiro segredo de um coração saudável está em duas palavras: dieta e desporto.
“Num estudo português que avaliou 10.885 mulheres, verificou-se que 82% das mulheres com mais de 18 anos tem pelo menos um fator de risco; 64% das mulheres têm excesso de peso e 69% das mulheres não pratica regularmente exercício físico” exemplifica José Miguel Santos. Adotar um estilo de vida saudável é determinante.
Uma alimentação equilibrada passa por reduzir o sal (em Portugal o consumo diário de sal é de dez gramas, o dobro do recomendado pela Organização Mundial da Saúde) e a evitar a ingestão de gorduras saturadas e trans (na carne vermelha, alimentos préconfecionados) e de açúcar.
O que pode fazer
Um estudo publicado no British Medical Journal revela que o açúcar, nomeadamente a frutose em refrigerantes e alimentos processados, agrava significativamente o risco de doenças do coração: 74 gramas de frutose por dia podem aumentar em 77% o risco de hipertensão arterial.
Assim, alertamos que a dieta que deve fazer tem de ser variada e conter: fruta e vegetais, leguminosas e cereais integrais, frutos secos, carnes brancas e peixe, gorduras polinsaturadas como o azeite. Praticar exercício de forma regular contribui para um peso, tensão arterial e níveis de colesterol saudáveis.
8 passos para um coração mais saudável
1. Comer mais vezes por dia (entre quatro a seis refeições) e menos de cada vez;
2. Reduzir o consumo de sal. Não ultrapassar o limite de cinco gramas/ dia;
3. Não comer açúcares;
4. Usar poucas gorduras (de preferência polinsaturadas);
5. Ingerir frutos secos, fruta fresca, peixe, legumes e leguminosas;
6. Praticar exercício físico, idealmente de uma forma diária ou pelo menos durante 40 minutos três vezes por semana;
7. Deixar de fumar e limitar a ingestão alcoólica a quantidades moderadas;
8. Evitar o stress quotidiano.