Aprenda a distinguir as diferentes dores de cabeça (e conheça os tratamentos)
Já todas sentimos o desconforto causado por uma dor de cabeça. Seja ao acordar ou no final de um dia de trabalho extenuante, acontece com alguma frequência sentirmos desconforto na cabeça. Mas sabia que essa dor pode ser sinal de outros problemas?
Existem mais de 300 tipos de cefaleias (ou dores de cabeça, como são conhecidas) diferentes. Acredita? É verdade e o conceito de “dor de cabeça” vai muito para além do desconforto que costumamos sentir.
“Cefaleia ou dor de cabeça são termos genéricos que, como os nomes indicam, designam qualquer dor sentida na cabeça e podem ter diferentes causas”, explica Isabel Pavão Martins, Neurologista no Hospital CUF Infante Santo e Professora de Neurologia na Faculdade de Medicina e Instituto de Medicina Molecular da Universidade de Lisboa.
As causas de uma dor de cabeça podem ter origem extracraniana (no couro cabeludo, por exemplo) ou intracraniana (no sistema nervoso, artérias e veias encefálicas, meninges ou nervos cranianos). E podem também ser dores que se manifestam na cabeça, mas que têm origem na coluna cervical.
Que tipos de cefaleias existem e quais são os seus sintomas?
Apesar de haver diferentes causas e sintomas de dores de cabeça, podem dividir-se em dois tipos: cefaleias primárias e secundárias.
1. Cefaleias primárias
São as mais comuns e não correspondem a nenhuma lesão do sistema nervoso. É neste grupo que se incluem as enxaquecas.
“A enxaqueca caracteriza-se por uma dor latejante e intensa, que se sente sobretudo num dos lados da cabeça”, explica a especialista. E acrescenta: este tipo de dor de cabeça é acompanhada “de intolerância a todos os estímulos sensoriais – de luz, som e movimento – e por uma sensação de mal-estar geral, náuseas e vómitos”.
Ainda neste grupo está incluída a cefaleia de tensão. Caracteriza por ser uma “dor pouco intensa, que os doentes descrevem como um peso em toda a cabeça e que costuma aumentar com o stresse”, diz Isabel Pavão Martins.
E ainda a cefaleia em guinada idiopática, caracterizada por uma sensação de picada instantânea, localizada num ponto muito específico da cabeça.
2. Cefaleias secundárias
Estas resultam de uma causa específica, como “traumatismo craniano, sinusite, acidente vascular cerebral, entre outras”, esclarece a neurologista.
Qual a diferença entre uma enxaqueca e uma cefaleia?
“A enxaqueca é uma doença do cérebro, de causa hereditária, que se associa a uma resposta excessiva aos estímulos, nomeadamente ao stresse, às alterações do sono, ao jejum prolongado ou aos estímulos sensoriais”, esclarece.
Esta doença manifesta-se por episódios de dor de cabeça intensa, que pode durar entre 4 e 72 horas. “A dor não aparece sozinha, mas sim associada a náuseas e a intolerância à luz e som”, diz a especialista.“Depois da crise, a pessoa recupera e volta ao normal”, acrescenta.
Causas de uma dor de cabeça: é possível que seja outra doença?
De acordo com a especialista do Hospital CUF Infante Santo, as dores de cabeça “podem surgir em resposta a uma doença do sistema nervoso ou a uma doença sistémica, tais como perturbações do sono (carência de sono ou a apneia do sono), hipoglicemia ou febre”.
Isabel Pavão Martins alerta ainda para o facto de o uso excessivo de analgésicos ser, também, uma causa de dores de cabeça, que melhoram quando se suspende esse consumo excessivo.
A neurologista alerta ainda para alguns sinais que devem motivar a consulta com um especialista, como “dores de cabeça de instalação súbita, que surgem durante o esforço físico, ou que aparecem associadas a outros sinais neurológicos, [como] visão dupla ou desequilíbrio, ou que se iniciam tardiamente na vida ou que surgem na sequência de um traumatismo craniano”.
Sinais de alerta: quando deve ir ao especialista?
• Alterações súbitas nas sensações ou na visão, fraqueza, perda de coordenação, convulsões, dificuldade de fala ou compreensão de fala, ou alterações nos níveis de consciência, como sonolência ou confusão;
• Uma febre e rigidez no pescoço faz com que baixar o queixo ao tórax seja doloroso e por vezes impossível;
• Uma cefaleia súbita e intensa;
• Dor na têmpora (como ao pentear os cabelos) ou dor na mandíbula ao mastigar;
• A presença de cancro ou de uma doença que enfraqueça o sistema imunológico;
• Utilização de drogas que inibem o sistema imunológico;
• Sintomas que afetem todo o corpo, como febre ou perda de peso;
• Uma cefaleia que piora progressivamente;
• Olhos vermelhos e halos ao redor de luzes.
Como controlar o aparecimento de dores de cabeça?
“Os hábitos saudáveis de vida, com horários regulares de refeições e de sono, exercício físico e uma dieta equilibrada”, tal como “evitar o consumo de bebidas alcoólicas e de tabaco e o controlo do stresse permitem controlar alguns dos fatores precipitantes e agravantes das dores de cabeça”, explica Isabel Pavão Martins.
Tratamentos: o que é possível fazer?
Para além de procurar manter hábitos de vida saudáveis, é ainda possível aliviar os sintomas das dores de cabeça através de medicação (tratamento farmacológico), que deve ser prescrita pelo médico especialista. E ainda de tratamentos não-farmacológicos, como tratamentos de relaxamento e controlo da tensão muscular.
Terapêuticas alternativas: ajudam?
Acupuntura
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a acupuntura pode ser uma forma de tratamento eficaz contra as dores de cabeça.
Luís Fino, técnico de acupunctura no Centro de Terapias Cabana do Sol, explica que esta técnica, através da inserção de agulhas em pontos específicos, estimula a “libertação de substâncias endógenas, como endorfinas, neurotransmissores e hormonas que vão modelar o sistema nervoso central, proporcionando uma sensação analgésica e bem-estar geral”.
O tratamento é totalmente personalizado a cada doente. “É feita uma avaliação minuciosa do estado físico, psicológico e energético do paciente e é traçado um plano de tratamento para a dor e os motivos que a provoca”, explica Luís Fino.
Os tratamentos começam com “uma ou duas sessões semanais, com uma duração que varia entre os 20 e os 50 minutos”, passando posteriormente a quinzenal ou mensal”, esclarece Luís Fino. E acrescenta; segundo a OMS, “são apenas necessárias algumas sessões para que na maioria dos casos, haja uma taxa de eficácia no tratamento que ronda os 80%”.
Hipnose
Elsa Marques também trabalha no Centro de Terapias Cabana do Sol, mas na área da hipnose. Esta técnica, que procura levar o indivíduo a um estado de maior comunicação entre o consciente e o subconsciente, também é utilizada no alívio das dores de cabeça. “Tu guardas no teu subconsciente a memória da dor, a forma como ela é impactante em ti ou não; não é a dor em si, é a forma como tu vês a dor”, explica. “Se utilizares a hipnose, dás algumas coordenadas ao subconsciente para que a sensibilidade a essa dor seja menor ou para transformar a dor numa sensação completamente diferente”.
É possível utilizar esta técnica em quem sofra de dores crónicas, apesar de esta dor, segundo Elsa Marques, estar “mais enraizada”. “Guardas mais memórias, mais profundas, porque são mais consecutivas, para alterar a forma como o nosso corpo reage a essa dor”, explica.
À semelhança do que acontece com a acupuntura, também a hipnose é feita de forma totalmente personalizada a cada paciente. “Quando se trata de dores, há várias fases na sessão, mas é extremamente importante levar a pessoa a um estado de relaxamento profundo, porque à medida que a pessoa relaxa, os sintomas aliviam”, explica Elsa Marques.
“Os efeitos da hipnose numa pessoa que sofre de dores de cabeça são notórios se a coisa for feita com continuidade”, diz. “Se a pessoa perceber toda a tensão e resistência que cria a uma dor de cabeça, a que é que associa quando tem essa dor de cabeça, a partir de quando é que essa dor de cabeça surge, com que frequência, em que situações, é muito mais fácil libertar-se dessa dor de cabeça”, esclarece a especialista em hipnose. E relembra: “é importante trabalhar isto a um nível subconsciente”.