O eczema, ou dermatite atópica, é uma inflamação da pele que se caracteriza por sintomas como vermelhidão, elevação da pele ou vesículas com conteúdo líquido citrino. Na sua fase crónica, a pele pode tornar-se espessada, pregueada e hiperpigmentada.
Não é uma doença contagiosa e estima-se que afete entre 2 e 5% da população portuguesa – apesar de poder afetar todas as idades, é mais frequente em crianças com menos de 5 anos.
Que tipos de eczema existem?
De acordo com o João Maia e Silva, dermatologista na Clínica CUF de Alvalade e Coordenador de Dermatologia no Hospital CUF Descobertas, o eczema pode ser provocado por causas endógenas (próprias do indivíduo) ou exógenas (externas ao indivíduo).
• Eczema atópico: Quando a causa é atopia (predisposição hereditária a reações de hipersensibilidade).
• Eczema de contacto alérgico: Quando a sensibilidade está relacionada com o contacto com alguma substância específica.
• Eczema de contacto traumático: Quando é causado por algum traumatismo.
• Neurodermite: Quando estão envolvidos fatores neuro-psicogénicos.
• Eczema disirótico: Quando a causa é a retenção de suor.
• Dermite de estase: Quando estão envolvidas alterações vasculares.
Sintomas de eczema
Apesar de existirem múltiplas causas para o aparecimento de eczema, os seus sintomas são independentes, explica João Maia e Silva, e dividem-se em duas fases: a inicial (ou aguda) e a crónica.
Fase inicial:
• Rubor da pele
• Inchaço
• Aparecimento de bolhas, exsudação e crostas
• Comichão
Fase crónica:
• Pele seca
• Descamação
• Fissuras
• Espessamento da pele
• Alterações de pigmentação
• Comichão
“Na primeira fase, os principais sintomas são eritema (rubor da pele), edema (inchaço), aparecimento de vesículas e bolhas, exsudação e formação de crostas”, explica. E acrescenta: “após 4 a 6 semanas, se o eczema se mantiver ativo, estas lesões dão lugar a pele seca, descamação, fissuras, espessamento da pele e alterações de pigmentação. É possível sentir prurido (comichão) em ambas as fases”.
O especialista dá o exemplo do eczema atópico, que surge em “crianças com terreno particular de alergias e antecedentes familiares de eczema, rinite e asma” e cujas crises tendem a tornar-se menos frequentes e intensas com o crescimento, sendo notável uma melhoria após os 6 anos de idade.
“Nos indivíduos que mantêm eczema atópico na idade adulta, as lesões tornam-se mais frequentes na face e nas mãos, muitas vezes por motivos comportamentais associados à profissão”, esclarece.
É possível prevenir o eczema? Cuidados a ter
Para o especialista da Clínica CUF Alvalade, a prevenção do eczema passa, sobretudo, pela disponibilização de informação de qualidade e pelos cuidados a ter com a pele e com o ambiente à nossa volta. Estes passam pela hidratação e manutenção da barreira cutânea, bem como a limpeza adequada dos espaços e dos tecidos, de modo a evitar fatores que possam levar ao aparecimento de sintomas, como o contacto com a origem da alergia.
• Na higiene:
O indivíduo que tenha eczema deve evitar duches ou banhos quentes e prolongados. O duche deve ser rápido, com água tépida e o gel de banho deve ser suave ou conter óleos.
Deve enxaguar-se para retirar os excessos de produto, secando a pele com toques suaves e sem esfregar, aplicando hidratante em todo o corpo.
• No vestuário:
Usar “roupas leves, de algodão e de cores claras, evitando o vestuário de lã ou sintético”. Como agasalho, devem preferir peças mistas, com algodão e matérias-primas sintéticas, evitando usar muita roupa.
Durante a lavagem, devem usar um detergente suave e não usar amaciador. E, muito importante: nunca secar a roupa ao ar livre em época de polinização.
• No quarto:
Na cama, devem optar por colchões e almofadas em espuma sintética, com resguardos anti-ácaros, em vez de penas ou látex; lençóis e mantas em algodão; e edredões em espuma sintética, com revestimento em algodão.
Nunca devem aquecer demasiado o quarto das crianças, arejando diariamente e limpando o pó dos móveis e do chão com frequência. Evitar alcatifa e tapetes nos quartos e optar por cortinas de algodão ou sintéticas, que possam ser lavadas com frequência.
Evitar peluches e optar por brinquedos em plástico e não guardar livros ou revistas no quarto.
Há tratamento?
“O tratamento passa pelo controlo do prurido, pelo tratamento das agudizações e das complicações”, explica João Maia e Silva. “Para o controlo do prurido não adianta dizer ‘não coces!’. É importante manter as unhas curtas e dar alternativas ao ato de coçar como a hidratação, a pulverização de água termal e a exposição ao frio.”
O especialista acrescenta ainda que o “o tratamento das agudizações tem por base a utilização de corticosteroides tópicos, imunomoduladores tópicos e anti-histamínicos orais”. Também a fototerapia com radiação ultravioleta pode ser benéfica. Muito recentemente, surgiram tratamentos ditos biológicos que estão a revolucionar o tratamento dos eczemas pela sua eficácia e perfil de segurança”, explica o dermatologista.
A exposição solar agrava ou alivia os sintomas?
“A exposição à radiação solar tem efeitos anti-inflamatórios na pele. Daí se depreende que a exposição solar poderá ter efeito benéfico em algumas formas de eczema, tal como ocorre noutras doenças como a psoríase”, explica João Maia e Silva. E recomenda uma “exposição ligeira e gradual”, uma vez que o calor associado a zonas com muito sol agrava o eczema.
“Idas à praia furtuitas em dias de calor nas horas desaconselhadas [entre as 12h e as 16h] não farão bem à pele”, relembra, aconselhando “períodos curtos, mas repetidos no tempo nos horários recomendados”.
O uso de protetor solar é obrigatório. “A escolha do protetor solar deve recair sobre produtos hipoalergénicos, com poucos químicos, e com reforço de ecrãs minerais”, aconselha o dermatologista.
“Tenho eczema desde que nasci”
O eczema pode mesmo condicionar aspetos tão básicos como perda de horas de sono, frustração, ansiedade, depressão, isolamento, dificuldade na criação de laços afetivos, e ter um impacto psicológico e financeiro significativo, explica João Maia e Silva.
“Tenho eczema desde que nasci. Parecia ter desaparecido quando tinha cerca de 10 anos, apenas para voltar por volta dos 17 e desaparecer novamente até aos meus 30 anos, altura em que tive um enorme surto”, conta-nos Emilie Edwards.
Emilie Edwards é parteira e depois deste último surto, teve várias infeções na pele, que pioraram com a profissão. “Os meus sintomas agravam-se com água, o que pode ser muito complicado no meu trabalho, onde tenho de lavar as minhas mãos constantemente”, explica. “A lavagem constante [das mãos] faz com que a minha pele seque bastante, estale e sangre, o que é muito doloroso. A sujidade, o pó e o suor também dificultam as coisas e irritam a minha pele.”
“[O eczema] tem um impacto muito grande na minha vida”, explica. “Os meus sintomas pioram durante a noite, mesmo quando estou a dormir – o meu sono foi afetado, a minha autoestima foi afetada, e já pensei que nunca ia melhorar”, explica. E acrescenta: “psicologicamente, [o eczema] pode ser muito difícil. O stresse é um dos principais inimigos do eczema e notei uma relação entre o stresse que sinto e o agravamento dos sintomas”.
Emilie, que tem eczema nas pálpebras, no rosto, nas mãos e nos braços, admite que por vezes se sente envergonhada com a doença, sobretudo quando os surtos estão na sua fase aguda e a sangrar. “Eu tenho um trabalho em que tenho contacto direto com as pessoas e preciso de as examinar. Sinto, com alguma frequência, a necessidade de me explicar antes que vejam [o eczema].”