Uma das suas especialidades é o cancro da pele, mas na sua clínica, no nº 152 de Harley Street, em Londres, trata todo o tipo de problemas dermatológicos. É na sua clínica que é filmada a série documental Bad Skin Clinic, da TLC, que acompanha o dia a dia de Emma Craythorne e da sua equipa.
Numa entrevista telefónica exclusiva, falámos com a dermatoligista e cirurgiã dos erros que andamos a cometer com a nossa pele, sobretudo do rosto, dos perigos em privilegiar o marketing em detrimento da opinião de um especialista e de como a autoestima pode ser afetada por uma condição dermatológica mais severa.
Qual foi o problema de pele mais grave com que teve de lidar na sua clínica e no programa?
Os mais difíceis são os problemas dos meus pacientes mais novos que têm cancro da pele numa idade muito, muito jovem. São provavelmente os doentes mais difíceis. Quer dizer, não são difíceis, são maravilhosos, mas têm uma doença de pele difícil. E esse é o meu dia a dia.
No programa, acho que a condição de pele mais difícil é a de uma rapariga que tem hiperidrose generalizada. A sua condição é daquelas para as quais a medicina ainda não tem resposta. E é isso que acho mais difícil, na verdade.
Embora outros doentes apareçam e a sua pele seja efetivamente má, a rapariga do primeiro episódio nem sai de casa, só sai à noite se tiver de passear o cão, e muda de lençóis da cama todos os dias. Parece ser o caso mais complicado. Mas na realidade não é. Todos os meus pacientes estão no meu Instagram, o que é bastante bom porque todos podem ver em que ponto é que estão agora. É maravilhoso porque consegui tratá-la.
Portanto, os problemas que considero mais difíceis para mim são aqueles para os quais a medicina ainda não tem resposta, aqueles que não consigo tratar.
Quais são os problemas de pele mais comuns nas mulheres hoje em dia?
Para mulheres acima dos 25 anos, costuma ser acne em idade adulta, a rosácea, o melasma (pigmentação da pele) e os cancros da pele. Estes são os quatro problemas mais comuns nas mulheres que me procuram.
Quais são as principais causas para esses problemas?
O grande responsável por causar muitas destas condições é o sol. A sobre-exposição solar com certeza faz piorar a rosácea e o melasma. E, obviamente, também agrava o cancro da pele.
Pela sua experiência, pode o stresse emocional ou a ansiedade causar doenças de pele?
Sim, definitivamente. Sabemos que existe um eixo entre o cérebro e a pele. Este eixo é incrivelmente importante, porque parece haver uma espécie de feedback da pele para o cérebro e vice-versa. Isto significa que, no caso de haver ansiedade e stresse, a doença de pele piora. Tem havido uma extensa investigação nesta matéria e é um facto comprovado.
Assim, para os doentes que tenham psoríase ou acne – e estes foram os problemas estudados – a doença piora sempre que estejam mais stressados. Quando tratamos doenças de pele, é muito importante ter em mente que deve haver uma abordagem muito holística, porque não adianta tratar os problemas a curto prazo. Se os doentes voltarem ao mesmo nível de ansiedade, farão inevitavelmente com que aquela condição de pele regresse.
Por isso, se nos protegermos da ansiedade, do stresse e do sol, estaremos certamente a ajudar a saúde da nossa pele.
Há alguma problema de pele específico que tenha vindo a crescer nos últimos anos e que a preocupe em particular?
O que é mais preocupante é que os cancros da pele estão a crescer muito. Só no Reino Unido, tivemos um aumento de 45% nos últimos dez anos. É imenso! E verifica-se particularmente o aumento de um tipo de cancro denominado carcinoma das células escamosas, o qual é causado diretamente pelos danos extensivos e prolongados provocados pelos raios ultravioleta – do sol ou solários.
Como é que certas condições de pele afetam a autoestima das mulheres diariamente? Há pouco falava da acne na mulher adulta e em pacientes mais novos…
Tem um enorme impacto na autoestima, porque sabemos que as pessoas têm consciência de como a sua pele é vista pelos outros. Por isso, sempre que a nossa pele não é tão boa quanto gostaríamos, ficamos nervosos ou sentimo-nos menos confiantes. Muitas vezes apresentamos uma certa linguagem corporal e comportamento e, em troca, a sociedade responde e trata-nos dessa forma.
Portanto, é um pouco um círculo vicioso que afeta a autoestima. Não é só a própria doença de pele, a forma como reagimos à doença também tem impacto no que a sociedade pensa sobre nós. Depois também afeta a nossa saúde mental e o bem-estar. E, obviamente, com isto, sobem os níveis de stresse, ansiedade e, em certos casos, até depressão. Há estudos em andamento sobre o tipo de relação entre a acne e a depressão.
Tem de facto impacto na forma como nos apresentamos em casa, no trabalho, nas relações… deve ser muito duro.
Exatamente. Ou seja, o que sabemos é que a imagem que temos do nosso corpo, portanto, a imagem que temos de nós mesmas, é responsável por um quarto ou um terço da nossa autoestima. Se a autoestima for baixa, então isto terá obviamente um enorme efeito em toda a nossa saúde psicológica.
Acho que as pessoas não se apercebem que não é apenas sobre ter muita confiança ou ter um bom emprego. Se a visão pessoal que temos do nosso corpo é pobre, então irá inevitavelmente afetar a nossa autoestima.
Como uma dermatologista e cirurgiã que já viu e tratou todo o tipo de problemas, quais são os seus melhores conselhos para uma pele saudável?
Em primeiro lugar, é a limpeza, para garantir que estamos a limpar a nossa pele de forma correta e suave. Para alguém que acumula óleo na pele ou sujidade resultante da poluição do dia, trata-se de encontrar o produto de limpeza mais adequado para si.
Segundo, é encontrar o hidratante certo para o nosso tipo de pele. Não tem de ser caro, mas o que tem de fazer mesmo é hidratar a pele. Por exemplo, quem tem pele com tendência acneica, tem de escolher um hidratante oil-free ou à base de água; quem tem a pele seca, tem de encontrar um mais gordo.
Por último, um protetor solar adequado ao tipo de pele. Isto porque, além de reduzir o risco do cancro da pele, também reduz o risco de todos aqueles outros problemas de pele. A rosáea, o melasma e a acne vão melhorar – sabemos que a exposição à radiação UVB realmente piora a acne. E usá-lo contribui para aquilo que todas queremos que fique melhor, ou seja, não ganhar rugas tão rapidamente.
Resumindo, se conseguir encontrar o produto de limpeza, o hidratante e o protetor solar certos, na verdade não precisa de muito mais. Mas se procurar algo mais, como um serúm anti-aging, o retinol tópico é o único com benefícios e provas dadas de que produz efeito. Trata-de de uma forma tópica de vitamina A e geralmente tem de ser prescrita para ser usada na quantidade certa, à noite.
A partir de que idade recomenda o uso de um antienvelhecimento?
A maioria dos meus pacientes começam a tomar a partir dos 35 anos. Mas muitos apresentam danos causados pelo sol, daí recomendar nesta idade. É apenas um creme para ser usado à noite.
Se pudesse acrescentar um conselho extra, seria obviamente beber muita água e ingerir alimentos que são gorduras boas. Há menos evidência por trás, mas ainda assim funciona bem.
Quais são os principais erros que andamos a fazer com a nossa pele, além de não aplica protetor solar, como já referiu?
Esse é o número um, sim. O erro número dois é gastar demasiado dinheiro e tempo com produtos que não são os melhores para nós. qu.
Julgo que o problema é que as pessoas estão a responder ao marketing, em vez de responder à ciência. Se cada um conseguir uma boa consulta com um dermatologista, que lhe diga quais as necessidades da sua pele, não comprará mais nada, porque aquilo é só o que precisa. Isso poupará muito dinheiro e tempo. Suspeito é que as marcas de cuidados de pele me odiarão por dizer isto (risos).
Acredita numa abordagem holística para prevenir ou tratar problemas de pele, como o eczema, por exemplo? Remédios naturais, alimentação, suplementos…?
Depende de que condição é. Para ser honesta, acredito em qualquer coisa que tenha boa ciência por trás. Se fizerem um estudo, bem conduzido, e houver evidências, então por vezes o lado mais holístico é considerado e usado na chamada medicina tradicional. No entanto, só prescrevo tratamentos que sei que sejam suportados por uma evidência científica, e por vezes são holísticos. Nem sempre isto acontece.
No entanto, comer bem, beber água suficiente, dormir bem e obter a quantidade de vitaminas adequada é bom para toda a gente. Acho que isso é importante. E como já falámos antes, também é crucial garantir que reduzimos os nossos níveis de ansiedade, por isso o ioga e outros tipos de exercício são igualmente importantes. É multifactorial: precisamos de cuidar da nossa mente e do nosso corpo fazendo coisas que são de senso comum para nos mantermos saudáveis e, em troca, a pele é beneficiada.
Porém, no tratamento de doenças de pele, as recomendações vêm daquilo que a ciência e centenas de investigações nos dizem. É perigoso ir naquilo que as pessoas dizem: “ah isto vai funcionar” ou “aquela pessoa no Facebook ou aquele Instagrammer disse-me que usa isto”. Isto não é ciência e pode realmente prejudicar. Por isso, escolho seguir a ciência, aliada ao estilo de vida bom e saudável que é de senso comum.