A enurese noturna é definida como um sintoma e não como uma doença em que existe uma origem única e comum em todos os doentes.
Acredita-se que se trata de uma disfunção com múltiplos fatores envolvidos. Eles podem ser: neurológicos, anatómicos/urológicos, do sono, genéticos, psicológicos e/ou alterações metabólicas.
Tem “um componente hereditário evidente e é considerada mais frequente no sexo masculino”, sublinha Sofia Reis, atualmente a terminar o internato de pediatria e autora da tese de mestrado Enurese Noturna na Criança.
No entanto, a hereditariedade não explica tudo. A enurese é um sintoma multifatorial. Pode também estar ligado à imaturidade da criança, à dieta que está a ser seguida ou como consequência de alterações na rotina dos mais novos. A isto pode estar associado, por exemplo, o nascimento de um novo irmão, maus-tratos ou uma rutura no casal.
No desenvolvimento natural da criança, é esperado que a continência urinária seja conseguida, primeiro, por volta dos 4 anos (diurna) e, depois, aos 5 anos (noturna).
Contudo, as estatísticas indicam que a enurese noturna afeta globalmente 15% das crianças aos 6 anos. Isto pode provocar perturbações na sua autoestima e socialização.
“Na minha tese, também faço referência a um estudo que apontava para uma incidência de 30% em crianças com perturbação de hiperatividade”, sublinha. O aumento da produção de urina durante a noite (poliúria noturna) e a redução da capacidade vesical noturna são outras causas apontadas pela Sociedade Internacional de Continência Infantil.
Dicas para (tentar) resolver a enurese noturna:
A especialista deixa alguns conselhos para tentar resolver este problema.
• Não dramatizar é o principal conselho. “Em vez de recriminar a criança, os pais devem apostar no reforço positivo. Elogiar a criança por não ter acontecido naquela noite. Ou então usar um calendário onde marquem os dias em que não aconteceram ‘acidentes’;
• A criança não o faz de propósito, por isso, é importante que os pais valorizem a criança quando não se registem descuidos” nocturnos;
• Também é importante responsabilizar a criança, no sentido de fazer com que ajude a trocar os lençóis quando acontece algum descuido;
• Outros truques para lidar com a enurese noturna passam por favorecer a ingestão de líquidos durante o dia e diminuir essa ingestão à noite, ir sempre à casa de banho antes de a criança ir dormir ou estimular o treino vesical (retenção da urina pela bexiga) durante o dia.
Em termos de resolução, Sofia Reis sublinha na sua tese que “se espera que a situação se resolva espontaneamente em 15% por ano, pelo que 99% destas crianças resolve o problema da enurese noturna até aos 15 anos. Contudo, 1% permanece com o sintoma na idade adulta”.
Já tinha ouvido falar da enurese noturna? Saiba ainda como o mindfulness ajuda os pais a educar os filhos.