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Miniguia para compreender a epilepsia: o que é, causas, sintomas e diagnóstico

Miniguia para compreender a epilepsia: o que é, causas, sintomas e diagnóstico

Conversámos com Joaquim Machado Cândido, médico neurologista, para compreender mais sobre esta doença que afeta cerca de 50 mil pessoas em Portugal.

Por Fev. 10. 2025

A epilepsia é uma das doenças reconhecidas mais antigas do mundo, todavia continua a estar rodeada de estigma social e incompreensão, afetando a vida de milhares de pessoas mundialmente, principalmente nos países mais pobres. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), serão cerca de 50 milhões de pessoas.

Em entrevista à Saber Viver, Joaquim Machado Cândido, neurologista e diretor clínico do Centro Clínico Andar, explica como se caracteriza e manifesta a epilepsia e os tratamentos que existem para tratá-la.

Pontos básicos a conhecer sobre a epilepsia

Como se caracteriza a epilepsia?

“A epilepsia é uma doença do sistema nervoso central caracterizada por apresentar uma predisposição dos neurónios cerebrais a descargas elétricas anormais no cérebro”, explica Joaquim Machado Cândido. Ou seja, quem tem epilepsia experiencia movimentos involuntários parciais ou generalizados – as convulsões – por conta das descargas elétricas excessivas no cérebro.

“As convulsões podem variar desde os mais breves lapsos de atenção ou abanões musculares até convulsões graves e prolongadas. A frequência das crises também pode variar, desde menos de uma por ano até várias por dia”, lê-se no portal da OMS.

É predominante nalguma faixa etária?

“Em Portugal, cerca de 5% ( 500 mil pessoas) ao longo da vida, tem uma crise epiléptica e não têm epilepsia. Estima-se que apenas 0,5% da população portuguesa (50 mil pessoas) tem epilepsia”, esclarece o médico neurologista. “É mais frequente no primeiro ano de vida e na adolescência, sendo nestas idades as doenças hereditárias e genéticas as causas predominantes”, diz, alertando que “as crises febris de repetição não são consideradas epilepsia”.

Já na idade adulta, os “ traumatismos cranioencefálicos” e as “infecções do sistema nervoso central” são as causas mais comuns. Nos idosos, a causa recai nos acidentes vasculares cerebrais (AVC) e nas neoplasias.

Como se manisfesta?

“A forma de apresentação mais frequente é a crise tónico-clónica bilateral com perda de conhecimento, mordedura da língua e incontinência de esfíncteres”, explica Joaquim Machado Cândido. Por outras palavras, acontece uma convulsão que afeta os dois lados do cérebro, na qual o corpo fica rígido devido à contração intensa dos músculos, seguido de movimentos de contração e relaxamento dos músculos em questão, provocando tremores. Neste episódio a pessoa pode também morder a língua e experienciar incontinência involuntária.

Ao presenciar um episódio de epilepsia, é importante ter alguns aspetos em conta, segundo o especialsita:

  • nunca colocar qualquer objeto na cavidade oral do doente;
  • colocar o doente em posição de segurança (decúbito lateral) para evitar a aspiração do vómito para o pulmão;
  • se a crise que dura habitualmente 2 minutos, se repetir de imediato, deve-se chamar o INEM porque se trata de uma emergência médica. O tempo de chegada ao hospital é essencial para se evitar sequelas neurológicas.

“Existem outras formas de apresentação, menos frequentes, como as ausências, em que o doente durante segundos pára, por vezes realiza movimentos de mastigação e reinicia atividade sem ter tido noção que teve a crise. Existem ainda as crises clónicas, em parte do corpo, sem perda de conhecimento”, explica o neurologista.

“Por último, podemos ter crises que designamos por parciais complexas, em que o doente mantém uma atividade aparentemente normal mas realiza ações que não são recordadas nas horas seguintes ou pode reconhecer locais familiares onde nunca esteve presente. A forma de apresentação destas crises pode ser muito variada porque são descargas elétricas em áreas do cérebro que não têm atividade motora. Por isso a importância do médico ouvir o doente, o familiar ou amigo que assistiu à crise”.

Formas de diagnóstico

O diagnóstico da epilepsia é essencialmente clínico,sendo aqui o mais importante a descrição da crise feita pelo doente ou por quem assistiu à crise. “Cerca de 5% das crises deixam dúvidas no diagnóstico clínico e por isso o eletroencefalograma (EEG) realizado no intervalo das crises e as monitorizações eletroencefalográficas durante 24 horas ou por tempos mais prolongados ajudam-nos na confirmação do diagnóstico e na localização do foco epilético para uma possível cirurgia da epilepsia”, afirma. “A tomografia axial computadorizada (TAC), a ressonância nuclear magnética (RNM) e o estudo analítico são essenciais para determinar a causa da epilepsia”.

Causas da epilepsia

A causa da epilepsia ainda é desconhecida em cerca de 50% dos casos a nível mundial. Além das já referidas, a OMS indica as seguintes:

  • lesões cerebrais de causas pré-natais ou perinatais;
  • anomalias congénitas ou condições genéticas com malformações cerebrais associadas;
  • um traumatismo craniano grave;
  • um acidente vascular cerebral que restringe a quantidade de oxigénio no cérebro;
  • uma infeção cerebral, como meningite, encefalite ou neurocisticercose;
  • certos síndromes genéticos;
  • um tumor cerebral.

Que tratamentos existem?

“Mais de 70% dos doentes epilépticos são tratados com um único medicamento anti- epilético existente no mercado. Mas nos 30% restantes dos doentes temos de associar mais medicamentos, estimulação cerebral ou ser intervencionado cirurgicamente”, explica o neurologista. “A cura na epilepsia acontece apenas quando a causa é tratável, são exemplos as causas infecciosas, alguns tumores, alguns AVC ou alterações bioquímicas corrigidas”.

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