Aos poucos, estão a ser dados os passos certos para que os problemas relacionados com a saúde mental comecem a ganhar mais respeito e sejam levados a sério.
Em 2019, a Organização Mundial de Saúde (OMS) introduziu o burnout (normalmente traduzido como “esgotamento profissional”) na Classificação Internacional de Doenças, sendo descrito como “uma síndrome resultante de stresse crónico no trabalho que não foi gerido com êxito”.
É uma das doenças do século XXI que não foge à realidade portuguesa. Em 2018, um inquérito desenvolvido pela Deco Proteste revelou que dos 1146 portugueses inquiridos, três em cada 10 estão em risco de burnout.
As mulheres são o grupo de maior risco e, de acordo com as áreas profissionais, os empregados de lojas e supermercados e os profissionais de saúde (não-médicos) ocupam o topo da lista.
Ainda que o assunto ganhe terreno, há ainda quem não saiba identificar os sinais de alerta, como preveni-los e quando se deve procurar ajuda. A Saber Viver falou com Vera Lisa Barroso, psicóloga clínica e psicoterapeuta, que referiu os indícios mais comuns de quem sofre com este problema.
Sintomas de um esgotamento nervoso
Físicos
• Alterações no padrão de sono e no apetite;
• Fadiga extrema;
• Falta de energia;
• Dores de cabeça;
• Sintomas gastrointestinais;
• Hipertensão arterial;
• Tensões musculares;
• Sistema imunitário mais enfraquecido e menos responsivo de uma forma geral.
Emocionais
• Falta de motivação;
• Pessimismo;
• Apatia;
• Irritabilidade;
• Preocupação constante;
• Sentimento de fracasso/falha;
• Solidão e não pertença.
No dia a dia, estes sintomas têm diferentes formas de se manifestar e interferem com o bem-estar psicológico e não só.
“Quando alguém se sente inadequado, um fracasso, excessivamente cansado, sem energia ou sem qualquer motivação (ou ideais), altera forçosamente o seu padrão de comportamento mais habitual, desde isolar-se, a tornar-se mais lento, com dificuldade em focar a atenção/concentrar-se, assumir responsabilidades, demonstrar irritabilidade e reatividade fácil, tornar-se mais ausente ou mesmo iniciar (ou intensificar) consumos de álcool, comida, tabaco, substâncias ou mesmo auto-medicação.”
A vida profissional é o maior problema
Quando a OMS reconheceu o burnout como doença, associou-o ao estado de exaustão provocado pela atividade profissional.
O conceito de esgotamento nervoso e burnout, porém, sofre ligeiras alterações entre si. Como explica Vera Lisa Barroso, “a síndrome de burnout refere-se à resposta complexa de intolerância ao stresse profissional prolongado e incapacidade de gerir novas situações neste contexto”.
Por outro lado, o esgotamento nervoso “é per se mais vasto”, isto porque “traduz um intenso sofrimento psicológico, podendo surgir associado a quadros depressivos ou ansiosos; e ainda que a expressão sintomática possa ser semelhante, não estão necessariamente associados a um contexto laboral, como na síndrome de burnout.”
Em Portugal, as excessivas horas de trabalho continuam a ser uma das principais razões que justificam o constante cansaço e, consequentemente, o fatídico estado de burnout.
O relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) lançado em 2018, colocou Portugal em 14.º lugar no ranking de países que mais trabalham por ano – com 1842 horas acumuladas, no ano de 2016 (data em que se realizou o estudo).
“A exposição continuada a exigências e factores de stresse físico e emocional em contexto laboral, onde a pessoa vai sentindo que não é capaz de responder às solicitações, nem tem estratégias para se adaptar a esses mesmos factores de stresse, culmina numa exaustão e sentimento de fracasso”, diz-nos a especialista.
Noutros países da Europa parece que a mudança se faz aos poucos. A nova primeira-ministra da Finlândia, por exemplo, tem como objetivo instituir no país uma semana de trabalho de apenas quatro dias, ou então seis horas de trabalho por dia.
Sanna Marin quer que os trabalhadores tenham mais tempo para a família e amigos e que ocupem o tempo livre com hobbies. Ainda que não haja certeza de que o plano vá para a frente, são vários os países que o aplaudem.
Como prevenir esta síndrome no dia a dia
“Estes quadros de exaustão podem surgir de forma quase impercetível para o trabalhador, por isso é fundamental a consciência de um necessário balanceamento entre vida profissional e vida pessoal”. Vera Lisa Barroso menciona o autocuidado, tanto físico como mental, como solução para prevenir ou contornar este problema.
Aposte, desta forma, nas seguintes atividades:
• Prática de exercício físico;
• Tempo familiar, vida social;
• Pausas para descanso (diário e semanal);
• Hábitos alimentares saudáveis;
• Boas rotinas de sono;
• Meditação;
• Relaxamento;
• Psicoterapia.
Por fim, a especialista deixa a recomendação: “É fundamental tratar das sequelas físicas com tratamento médico adequado e fortalecer o sistema emocional com tratamento psicológico/ psicoterapêutico.”