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Espondilartrite axial: as dores persistentes nas costas podem significar algo mais grave

Espondilartrite axial: as dores persistentes nas costas podem significar algo mais grave

O que parece apenas um mau jeito ou uma dor passageira, pode, na verdade, significar uma condição mais grave. Saiba o que é a espondilartrite axial.

Por Jul. 3. 2021

O nome é difícil de dizer e talvez até nunca o tenha ouvido. A espondilartrite axial é uma doença crónica, reumática, que normalmente é associada a fortes dores nas costas que tendem a não passar.

Sendo este o seu sintoma mais comum, é fácil que passe despercebido, e no contexto em que temos vivido no último ano e meio torna-se ainda mais normal que muitos portugueses estejam a ignorar esta doença. As horas em demasia passadas sentados ao computador, em teletrabalho, podem despistar este sintoma que pode ser algo mais grave.

Na verdade, em Portugal, 40% dos doentes sentem que as suas relações interpessoais afetadas, 35% passa pela dificuldade de realizar tarefas como limpar a casa ou ir às compras. E não fica por aqui. Muitos doentes têm normalmente outras patologias associadas, como: 27% sofre de ansiedade, 25% de depressão e 22% sofre de fibromialgia (22%) ou transtorno do sono.

A espondilartrite axial pode ter um impacto significativo na vida dos doentes, mas também já há alguns tratamentos a que se pode recorrer.

O que é e quais os sintomas da espondilartrite axial

“A Espondiloartrite axial é uma doença que se traduz por dores nas costas persistentes acompanhadas frequentemente por tendinites e por manifestações sistémicas diversas, em particular do olho, pele e gastro-intestinais”, começa por explicar o professor e reumatologista Fernando Pimentel, do Hospital Egas Moniz.

Existe um fundo genético que aumenta a suscetibilidade para a sua ocorrência embora os fatores ambientais possam também exercer a sua influência. Condiciona alterações típicas nas radiografias convencionais que se traduzem clinicamente por uma diminuição da mobilidade”, acrescenta.

Esta doença crónica ainda não tem causas associadas conhecidas, mas há algo que já se sabe. “Sabemos, no entanto, que existe uma forte suscetibilidade genética sendo o gene HLA-B27 o que apresenta maior associação. Nos últimos anos, foram descritos outros, mas com associação menor. Os agentes ambientais, em particular a microbiota e os traumatismos associados a as atividades pessoais e profissionais poderão também exercer influência”, refere o especialista.

Sabe-se ainda que tende a afetar mais o género masculino e que surge, habitualmente, após a adolescência. Em termos genéricos, poderemos dizer que os sintomas da doença tendem a iniciar-se antes dos 45 anos.

Como já mencionámos, a dor na coluna de ritmo inflamatória é o principal sintoma da espondilartrite axial. É uma dor que se intensifica com o repouso e que é mesmo capaz de despertar o doente durante a noite. “Estas dores associam-se ainda a rigidez matinal prolongada, ou seja, uma sensação de prisão nas articulações que vai cedendo a medida que a pessoa se vai movimentando”, reforça o especialista.

Porém, há outros sinais que estão associados a esta doença. São eles:

Dores noutras articulações do corpo e tendinites em vários locais. As localizações mais frequentes são no tendão de Aquiles e na fáscia plantar (no calcanhar);

Uveítes anteriores agudas que se traduzem por vermelhidão e dor ocular, visão turva, dificuldade em encarar a luz;

Psoríase ou historial de psoríase na família;

Alterações gastro-intestinais traduzidas por alterações do trânsito com períodos de diarreia, alternados com períodos de obstipação, e a presença de sangue, muco ou pus.

As deformações que podem surgir no curso da doença e a incapacidade podem também motivar vários ajustes na vida dos doentes e, em alguns casos, podem condicionar longos períodos de ausência no trabalho ou mesmo reformas antecipadas – Fernando Pimentel, reumatologista

Como diagnosticar e como viver com esta doença

“O diagnóstico é essencialmente clínico, ou seja, baseia-se na recolha dos sintomas e na observação do doente tentando identificar pontos dolorosos e/ou as limitações da mobilidade”, clarifica o médico. Neste caso, a presença do gene HLA-B27 não é fundamental para o diagnóstico, embora a sua presença reforce a hipótese.

“A presença de sacroiliite (inflamação entre os ilíacos e a coluna sagrada) na radiografia ou na ressonância magnética nuclear também apoiam o diagnóstico. Na maior parte dos casos a ressonância é desnecessária.”

Viver com espondilartrite axial, não só é um desafio para os doentes, como pode ter um impacto considerável no seu estilo de vida – como qualquer doença crónica, claro. Neste caso, a presença destas dores constantes ou de outros sintomas já referidos, podem comprometer a vida pessoal, social e até profissional.

“Além disso, as deformações que podem surgir no curso da doença e a incapacidade podem também motivar vários ajustes na vida dos doentes e em alguns casos podem condicionar longos períodos de ausência no trabalho ou mesmo reformas antecipadas”, completa o reumatologista.

Felizmente, já existem algumas alternativas de tratamento que ajudam quem sofre desta condição. Como Fernando Pimentel menciona, os anti-inflamatórios não-esteroides deverão ser considerados como primeira opção. “Se não houver resposta adequada, devem ser ponderadas as terapêuticas biotecnológicas administradas por via endovenosa ou subcutânea com intervalos variáveis dependendo do fármaco selecionado”.

Os inibidores das JAK (Janus Associated Kinases), uma terapia oral, poderão ser considerados, mas existem também ainda outras outras possibilidades que dependem essencialmente do tipo de manifestações que o doente apresenta.

“Deverão ser consideradas sempre as medidas não farmacológica que passam pela nutrição equilibrada e variada, a evicção do tabaco e a pratica regular de exercício físico”, remata o especialista.

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