Nunca como hoje a ciência esteve a trabalhar a contrarrelógio e a ser tão escrutinada, culpa do novo coronavírus.
Mas também nunca houve tantos meios como agora e, passados pouco mais de seis meses do início da pandemia, há já algumas descobertas importantes sobre o SARS-CoV-19, que convém saber.
9 factos a saber sobre a Covid-19
1. Várias complicações
Se no início se pensava que a Covid-19 se limitava a atacar o sistema respiratório, os últimos estudos indicam que são várias as complicações.
Entre as consequências neurológicas do SARS-CoV-2 está a miastenia grave, uma doença autoimune rara que causa debilidade muscular e cansaço. Esta foi a conclusão de um estudo italiano publicado no Annals of Internal Medicine.
Os investigadores explicam esta descoberta de duas formas: o sistema imunitário cria anticorpos contra alguns componentes do vírus, mas, como são semelhantes a alguns recetores das junções neuromusculares, podem ser atacados pelos próprios anticorpos; ou o vírus pode romper o delicado equilíbrio que impede o sistema imunitário de atacar o próprio organismo.
2. Mutação do vírus
Foi identificada uma mutação do novo coronavírus na Europa, Ásia e América do Sul que o torna mais contagioso, mas menos mortal. Quem o diz é Paul Tambyah, presidente da Sociedade Internacional de Doenças Infecciosas.
Segundo o especialista, a boa notícia é que a maioria dos vírus torna-se menos capaz de provocar doença e de se multiplicar no organismo à medida que vai sofrendo mutações.
3. Molécula inteligente
Na Universidade de Turim, foi descoberta uma molécula do corpo humano capaz de bloquear o SARS-coV-2. Curiosamente, esta molécula já estava a ser usada para sprays nasais para constipações e, no caso do novo coronavírus, inibiu a replicação viral.
Esta descoberta pode dar origem a um antiviral complementar à vacina.
4. Carga viral das crianças
Investigadores do Hospital Pediátrico e do Hospital Geral de Massachusetts afirmam que as crianças, mesmo quando assintomáticas ou com manifestações muito leves da Covid-19, têm mais carga viral do que se julgava.
Isto pode significar um alto potencial de transmissão do vírus, como acontece geralmente nas doenças disseminadas por secreções virais, no entanto, essa questão não foi abordada neste estudo.
Todavia, os cientistas avisam que os mais pequenos podem contribuir para a propagação da pandemia.
5. Sem olfato
Muitos doentes com Covid-19 perdem o olfato, mesmo os que não têm outro tipo de sintomas.
Recentemente, cientistas do Instituto Johns Hopkins, nos Estados Unidos da América, descobriram que a elevada concentração de uma enzima específica na zona do nariz (ACE-2) – responsável pelo olfato – pode explicar a perda deste, já que pode funcionar como ponto de entrada do vírus.
O estudo, publicado no European Respiratory Journal, considera ainda que esta descoberta pode explicar o facto de ser tão fácil contrair Covid-19.
6. Propagação pelo ar
Se, no início da pandemia, se pensava que a transmissão do SARS-CoV-2 era feita sobretudo por gotículas respiratórias ou pelo contacto direto com pessoas infetadas ou superfícies com o vírus, em julho, mais de 200 cientistas alertaram na revista médica Clinical Infectious Diseases para o facto de ser muito provável que a propagação aconteça também através de aerossóis, partículas aéreas de muito pequena dimensão que pairam no ar e que podem viajar dezenas de metros em espaços fechados.
Outro fator relevante é que, devido a uma maior capacidade de multiplicação do novo coronavírus no trato respiratório, a carga viral nos aerossóis poderá ser maior do que noutros vírus. Daí que a ventilação eficaz, sobretudo em edifícios públicos, empresas, escolas, hospitais e lares de idosos, seja essencial e deverá ser complementada com controlo de infeção por aerossóis, como uma alteração do ar altamente eficaz e luzes ultravioletas germicidas.
7. Imunidade duradoura
Uma das questões sobre a Covid-19 que mais dúvidas tem causado é se os doentes infetados ficarão imunes ao novo coronavírus.
O The New York Times reuniu vários estudos que concluíram que, mesmo nos assintomáticos, o organismo produz anticorpos específicos contra a doença.
Esta conclusão significa que a resposta do corpo ao vírus pode ser duradoura, apesar de ainda não se saber por quanto tempo. No entanto, já foram reportados casos de reinfeção.
8. Sequelas futuras
É verdade que a maior parte dos infetados pelo SARS-CoV-19 sobrevive, mas há muitos que apresentam consequências que podem alterar a sua vida e ainda não se sabe se serão permanentes.
De acordo com as declarações de Rony Shimony, cardiologista do Hospital Mount Sinai, em Nova Iorque, à Time, indivíduos já recuperados da Covid-19 reportam problemas renais e funções cardíaca e cognitiva comprometidas.
Quanto mais graves foram os sintomas, maiores são os danos nos diversos órgãos. O médico apela à vigilância e dá o exemplo da gripe espanhola, afirmando que, entre 50% e 60% dos pacientes ainda tinham sequelas quatro anos depois da doença.
9. Micronutrientes
Uma investigação, desenvolvida por um grupo de cientistas da Noruega, Suécia e Rússia, demonstrou que a falta de micronutrientes específicos pode ajudar a explicar o porquê de uma resposta inflamatória grave em doentes com Covid-19.
Segundo o estudo, publicado na revista Nature, entre estes elementos estão o selénio, o zinco e a vitamina D.