A gravidez deve ser um momento de felicidade extrema, paz e calma. De acordo com a opinião popular, esta deve ser uma fase em que a mulher brilha, irradiando uma luz nunca antes vista (que se desvanece pouco tempo depois do parto, devido às noites mal dormidas).
Mas a verdade é que, em plena pandemia, pode ser difícil manter a calma e pouco nos importa o brilho. Será que o meu bebé está seguro? E eu, será que estou bem? Há pouco tossi, e agora tenho dores musculares, será o vírus ou apenas o meu estado de graça?
As dúvidas são muitas, as preocupações também, e o sentimento que paira no ar é um misto de medo e ansiedade.
Apesar do clima que agora se vive, e do caos que se faz sentir, é importante que, antes de mais, se informe (via fontes fidedignas) sobre os factos.
Por isso mesmo, estivemos à conversa com a enfermeira Carmen Ferreira, especialista em saúde materna, que, pacientemente, respondeu a todas as nossas questões e nos explicou que o mais importante é estar alerta, mas sem sucumbir ao pânico.
Grupo de risco
De acordo com a enfermeira, está descrito pelas várias entidades que as grávidas e os recém-nascidos fazem parte dos grupos de risco.
Devido ao estado mais frágil do seu sistema imunitário, e pela incerteza, até ao momento, em relação ao comportamento do vírus, estes indivíduos, tal como os idosos e as pessoas com doenças crónicas, têm um maior risco de sofrer as consequências deste (e de qualquer) vírus.
Por esta mesma razão, durante a gravidez, devem ser mantidos os cuidados recomendados, mas de forma acrescida, nomeadamente no que ao distanciamento social e à higiene diz respeito.
Cuidados a ter
Os cuidados a manter devem ser os mesmos recomendados ao resto da população, mas com uma atenção acrescida.
• Respeitar o isolamento;
• Manter os cuidados de higiene (lavar as mãos frequentemente, com água e sabonete, por pelo menos 20 segundos e evitar tocar nos olhos, nariz e boca com as mãos não lavadas);
• Se possível, pedir a alguém que faça as compras necessárias, de modo a evitar as saídas;
• Cumprir o distanciamento social, mesmo em casa, se viver com pessoas expostas ao vírus;
• Praticar etiqueta respiratória (cobrir a boca e o nariz ao tossir ou espirrar com um lenço de papel, e deitá-lo no lixo imediatamente).
Quanto às consultas médicas, o conselho da enfermeira é que se procure diminuir o número de pessoas que se dirigem às mesmas, devendo a grávida levar consigo, no máximo, um acompanhante adulto. É importante que se minimizem, dentro das possibilidades, as visitas aos hospitais.
Existem ainda outras opções, como o contacto por email com médicos ou serviços hospitalares para a discussão de pequenas questões que não impliquem a deslocação, ou a telemedicina, uma opção, por vezes, oferecida por hospitais e clínicas. É importante que se mantenha a vacinação de bebés e crianças, de modo a imunizar também para outos tipos de vírus.
Quais são as recomendações para quem está na reta final da sua gravidez?
Em caso de sinais de alarme, como contrações regulares intensas num intervalo de cinco a dez minutos, no período mínimo de uma hora (que pode ser indicativo de que se está a entrar em trabalho de parto), perdas de líquido ou sangue, é importante que a grávida se dirija à maternidade.
Adicionalmente, se a mulher notar que há diminuição ou ausência de movimentos fetais, também será importante pedir aconselhamento físico.
Até ao momento, a nível de vigilância, se a situação não é de urgência, as entidades reguladoras da saúde aconselham a minimização de deslocações.
Estou grávida e penso que posso estar infetada, o que devo fazer?
Se acha que pode estar infetada, deve informar o Serviço Nacional de Saúde através da linha telefónica (808 24 24 24). Neste caso, a quarentena e a prática de isolamento social são obrigatórias, tanto na rua como em casa, se a grávida viver com pessoas que se incluam nos grupos de risco.
O mais importante é vigiar os sintomas que apesar de, por norma, serem ligeiros, podem agravar-se. Se for esse o caso, deve ser pedido apoio presencial o quanto antes.
Recordamos que, de acordo com a Direção Geral da Saúde, os sintomas desta doença são:
• Febre (T>37,5ºC);
• Tosse;
• Dificuldade respiratória (falta de ar).
E em caso de infeção da grávida, é possível passar o vírus ao feto?
De acordo com as indicações, até ao momento, por parte das várias entidades de saúde, tanto o leite materno como o líquido amniótico não contêm o vírus, o que significa que, ao que tudo indica, não é possível passar o vírus ao feto, a não ser através de gotículas respiratórias.
Em relação à amamentação, como devo proceder?
O leite materno produz imunoglobulinas que ajudam a reforçar o sistema imunitário do bebé. Por essa mesma razão, e enquanto não forem dadas informações contrárias, a enfermeira reforça a importância da amamentação, que deve ser mantida, ainda que com cuidados de higiene redobrados, nomeadamente a lavagem das mãos e, no caso de a mãe estar infetada, o uso de máscara.
As mães que estão a extrair leite com a bomba devem também aumentar os cuidados de higiene, com especial incidência na desinfeção e esterilização dos equipamentos utilizados (a bomba e o biberão).
Algumas recomendações para manter a sanidade mental
• Recorrer a leituras positivas sobre a gravidez e a amamentação (como o Manual do Aleitamento Materno, da Unicef, que está disponível online de forma gratuita, ou o livro Estamos Grávidos! E agora?, da autoria da enfermeira Carmen Ferreira);
• Investir em cursos de preparação online;
• Realizar exercícios em casa (pode utilizar a bola de pilates, se a tiver);
• Meditar;
• Fazer comunicação com o feto (por exemplo, com luzes na barriga, cantando, ouvindo música ou interagindo com o pai);
• Fazer o registo fotográfico do crescimento da barriga durante estes dias, ou o registo diário do que se passou todos os dias;
• Alimentar-se bem e criar o hábito de preparar refeições;
• Organizar a mala de maternidade;
• Procurar manter-se informada e a par da situação, mas sempre com calma e serenidade.