Hemorroidas: o que são, como é feito o diagnóstico e como tratar
As hemorroidas são veias do canal anal que ajudam a conter as fezes. No caso de quem sofre com esta doença, elas encontram-se dilatadas e inflamadas, o que causa dor e sangramento anal. Carlos Leichsenring, cirurgião geral no Hospital CUF Descobertas, revela tudo sobre o tratamento.
A doença hemorroidária, apesar de muito frequente em indivíduos saudáveis (quase 5%) é, ainda hoje, pouco falada pelos clínicos e pelos próprios doentes. Provavelmente, a pouca informação sobre a doença deve-se à sua localização anatómica que a tornam, ainda, um assunto tabu.
O grande impacto na qualidade de vida parece quase um contrassenso face ao elevado tempo entre os sintomas e a procura de ajuda por um médico.
Diagnóstico das hemorroidas
O seu diagnóstico faz-se essencialmente através de três manifestações muito frequentes. São elas:
- A perda de sangue nas fezes (retorragia);
- A exteriorização pelo ânus das hemorroidas internas (prolapso);
- A manifestação típica que traz o doente a uma consulta de urgência, a trombose (coágulo) hemorroidária.
Em qualquer destas situações é frequente que o diagnóstico seja tardio. O exemplo clássico é o doente com retorragia: mesmo que a doença hemorroidária seja evidente, nós, médicos, somos ensinados desde cedo que este doente terá sempre que fazer uma colonoscopia para excluir outras causas para a perda de sangue, sendo a mais relevante o cancro do cólon e reto. Atrasar um exame destes poderá ter consequências devastadoras.
Medidas terapêuticas
Quando observados pelo médico indicado, um proctologista ou cirurgião coloretal, o diagnóstico é, habitualmente, linear. É aqui que se têm que iniciar as principais medidas terapêuticas, onde não é demais referir a hidratação e a ingestão de fibra para controlo da principal causa desta doença, a obstipação.
Nesta era tecnológica, não esquecer: “não levar o telemóvel para o WC”, pois tempo excessivo na sanita é muito prejudicial para as hemorroidas.
Só então se consideram as medidas mais invasivas de tratamento e que são totalmente dependentes da gravidade das hemorroidas (tamanho, manifestações, frequência das crises).
Para formas mais ligeiras, a opção passará pelo tratamento instrumental (esclerose ou laqueação elástica) que são realizados em ambiente de consulta externa e muito bem tolerados pelo doente. Para formas ligeiras de doença hemorroidária, estes são tratamentos muito eficazes.
As opções cirúrgicas são habitualmente colocadas em doentes com hemorroidas mais volumosas e em doentes em que o tratamento instrumental não foi eficaz.
A cirurgia clássica tem afastado os doentes do tratamento durante décadas, com medo do período pós-operatório. É inegável que, para a cirurgia excecional (aquela em que as hemorroidas são classicamente removidas), apesar de ser uma técnica muito eficaz, o período após a cirurgia é, no mínimo, desafiante.
Mas, à semelhança de outras áreas da cirurgia, também, atualmente, temos outras opções que nos permitem tratar as hemorroidas de uma forma mais seletiva para o doente e para o tipo de doença que apresenta.
Eficácia do tratamento sem dor no pós-operatório
O grande desafio tem sido obter o mesmo nível de sucesso que a cirurgia clássica, mas com um pós-operatório praticamente indolor e muito bem tolerado. É aqui que técnicas como a hemorroidopexia PPH e as tecnologias com recurso a laser se têm posicionado com grande sucesso. Permitem altas percentagens de eficácia, com ótimos índices de satisfação pelos doentes.
É frequente os doentes referirem que “esperava muito pior” ou “tinha tanto medo e afinal foi isto…”, “se soubesse que era assim já tinha resolvido isto há muito tempo”.
Felizmente, a evolução tecnológica e técnica tem permitido que alguns mitos tenham vindo a ser eliminados e que cada vez mais doentes procurem uma solução eficaz e atempada para tratar esta doença, que tanto impacto tem na qualidade do dia a dia.