© getty images
O que se sabe sobre hepatite aguda infantil? Aprenda a identificar os sintomas

O que se sabe sobre hepatite aguda infantil? Aprenda a identificar os sintomas

A Organização Mundial da Saúde apela à vigilância desta doença cuja causa ainda é desconhecida, apesar de a hipótese com mais força a associar aos adenovírus. Dizemos-lhe o que se sabe até agora sobre hepatite aguda infantil.

Por Ago. 3. 2022

O crescente número de diagnósticos de hepatite aguda infantil de origem desconhecida está a preocupar as autoridades de saúde mundiais, sobretudo as europeias e norte-americanas. Convém lembrar que a hepatite aguda não é uma doença nova; o que aqui está em causa é não se saber o que está a provocar este novo surto.

Este tipo de hepatite já foi detetado em mais de 20 países, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), sendo a Europa o continente mais afetado, com o Reino Unido a encabeçar a lista de países mais atingidos.

A maioria dos pacientes tem até cinco anos e era saudável. O quadro sintomatológico tem sido principalmente dor abdominal, vómitos e diarreia e tem sido tratado sem recurso a hospitalização e sem consequências maiores.

No entanto, de acordo com os dados disponíveis até meados de maio de 2022, quase duas dezenas de crianças tiveram de fazer um transplante de fígado e cinco não sobreviveram.

A hepatite é uma inflamação do fígado e pode ter várias causas, sendo as mais comuns as infecciosas, provocadas por vírus, bactérias e parasitas

A saber sobre a hepatite aguda infantil

Causas comuns

Mas, afinal, o que é uma hepatite? “É uma inflamação do fígado que pode ter várias causas, sendo as mais comuns as infecciosas, sobretudo vírus, mas também algumas bactérias e parasitas. Os mais conhecidos são os ‘vírus da hepatite’ A, B, C, D e E, mas os adenovírus, enterovírus, vírus de Epstein-Barr e o citomegalovírus, para citar apenas alguns, podem também causar esta doença. Outras causas menos frequentes são os tóxicos/medicamentos e causas metabólicas”, afirma Luís Varandas, pediatra coordenador do Centro da Criança e do Adolescente do Hospital CUF Descobertas.

O médico pediatra diz ainda que “a evolução é, habitualmente, autolimitada e resolve-se sem tratamento específico. Quando a causa é conhecida e esta tem tratamento (por exemplo, na hepatite C, leptospirose ou um determinado tóxico), este deve ser dirigido à causa da hepatite. No limite, o fígado pode entrar em falência e é necessário efetuar transplante hepático. Em alguns casos pode evoluir para cronicidade”.

A hidratação e o repouso são importantes para a recuperação, mas poderão ainda ser usadas imunoglobulinas ou vacinas.

No surto atual, o facto de não se conhecer a origem, segundo o nosso entrevistado, faz com que não se saiba como prevenir a doença ou sequer saber se há tratamento específico ou quais os determinantes de uma evolução favorável ou desfavorável.

As recomendações atuais para a sua prevenção passam apenas por medidas gerais como higiene das mãos, respiratória e das superfícies

Sintomas a ter em conta

Os sintomas de uma hepatite aguda infantil são pouco específicos e podem incluir:

  • Dor/desconforto abdominal.
  • Vómitos.
  • Diarreia.
  • Fezes claras.
  • Urina escura.
  • Coloração amarela das conjuntivas (icterícia).

Uma hipótese plausível

A OMS e o Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças já admitiram que os adenovírus, que são um grupo de vírus muito comuns transmitidos entre pessoas e que muitas vezes causam infeções no sistema respiratório e digestivo, particularmente em crianças, são, atualmente, a hipótese mais provável da causa deste surto.

“Foi o agente mais vezes identificado e, do ponto de vista epidemiológico, faz algum sentido. No entanto, precisamos de mais dados e de aplicar um protocolo de estudo a todos os doentes o mais homogéneo e abrangente possível para excluir o maior número possível de outras causas”, explica o coordenador do Centro da Criança e do Adolescente do Hospital CUF Descobertas.

Há também quem diga que os confinamentos e a consequente menor exposição a vírus nestes dois anos de pandemia possam também ter contribuído para este surto.

Luís Varandas diz que “é possível que assim seja, mas nesta fase é especulativo. Outras explicações incluem uma nova variante de um vírus já conhecido, a interação entre o vírus SARS-CoV e outro vírus ou outro cofator desconhecido e, ainda, um tóxico”.

A OMS não encontrou uma relação entre os casos de hepatite aguda em crianças e a vacina contra a covid-19 (convém não esquecer que as crianças abaixo dos cinco anos nem sequer foram vacinadas), como se conjeturou aquando dos primeiros casos identificados, ou o consumo de algum tipo de alimento ou medicamentos.

A Organização Mundial da Saúde apela à vigilância desta hepatite, mas haverá razões para alarme? “Há razões para estar atento e vigilante”, remata o pediatra.

A versão original deste artigo foi publicada na revista Saber Viver nº 264, junho de 2022.